“Quando for comigo quero que seja rápido”, comentava-se à saída de uma sala, após relatos duros de pessoas que chegam a estados de uma dor que antecede a morte.
Que seja rápido… fiquei a pensar. Rápido só para não doer? Ou porque vivemos rápido demais e o tempo passa e quando o tentamos relatar ele saltou semanas ou meses? Ou porque ao focar a memória do que ainda agora julgávamos ter passado por nós, passaram afinal tantos anos?
“Que seja rápido para que não nos doa, que seja rápido para que não doa a ninguém, porque não suportamos a morte”, é a ideia geral que vamos ouvindo quando se vê alguém diante da morte. Essa, cuja palavra contornamos e que disfarçamos quando em alguém toca, quando a alguém chega. Essa que é traço único que nos marca a pele e talvez o único com o qual lutamos dia após dia.
Não falar de morte atualmente é negar as notícias que nos inundam o pensamento e nos colocam diante de reflexões interiores ou públicas, mas todas profundas.
Que seja rápido ou natural? Que seja decisão consciente e planeada, medicamente assistida, ou que o tempo se encarregue de nos engolir o último sopro?
“Sejam positivos”, diziam-nos quando propusemos falar de morte e amortalidade.
A morte por determinação do próprio ou sem determinação dele? Foi o que esteve em debate na Faculdade, numa eficaz parceria com a Antena 1.
Mas e se a morte pudesse ser adiada? E se existisse uma porção química que nos retardasse o envelhecimento através de um simples fármaco? É nisso que Maria do Carmo Fonseca foca a sua investigação e foi sobre isso que falou na talk deste mês. A amortalidade, a vida que se prolonga com qualidade, adiando a morte, é afinal tema positivo, ou poderá vir a gerar uma nova casta humana, como o escritor israelita Yuval Noah Harari apelidou?
E chegará essa qualidade de vida a todo o corpo ou apenas a alguns pontos dele? E o corpo que já sofreu o impacto da dor de uma doença, poderá ele voltar a ficar doente, ou a doença adormecerá de vez? Médica cirurgiã, Emília Vieira é a mulher que cuida das mulheres com cancro da mama e que faz uma análise sobre as perspetivas ao longo dos tempos.
O tempo… esse que às vezes queremos que passe rápido, conseguirá dar ao cérebro o ritmo para que possa acompanhar o corpo? Sara Xapelli, investigadora e docente da FMUL reflete connosco sobre os limites da plasticidade cerebral.
Falar de morte não tem de ser negativo. Porque há um caminho que se prolonga antes de chegarmos a ela, mesmo quando tudo apontava que nos estivesse já determinado o fim. É disso que nos fala alguém que relatou os fragmentos daquilo que lhe parece ser a sua memória do coma que viveu aos 7 anos.
Haverá no coma imaginação da memória? E se alguém em coma ouvir tudo o que lhe contamos? O que contam os cuidadores informais a quem não vive sem eles?
Há uma coisa que sabemos, é que pode haver imaginação na antevisão da morte, ou melhor, no prolongamento da nossa própria vida. Alda Guimarães é funcionária da FMUL e, do lado de cá, explicou-nos que a sua última peça de teatro será inspirada nas investigações de Carmo-Fonseca.
O futuro olha para a morte com desafio e promete não se render facilmente ao que até então foi evidência. Às portas de mais uma edição, surge uma equipa de um AIMS audaz que, nesta 11ª Edição, foge aos convencionais temas da Medicina e lança desafios à própria Ciência. Conheça a sua equipa científica e o que ela lhe preparou já para março.
Os Workshops Tool for Innovation, promovidos pelo Gabinete de Inovação e Empreendedorismo, chegaram ao fim. Mas continuarão vivos, para uma próxima edição.
Que seja rápido penso de novo… Que seja tudo pleno, mesmo que com dor. E que saibamos, mesmo na dor, encontrar os lados positivos, porque “a morte é o dia que não mais se desperta, nem em dias de tempestade”. Então que se viva intensamente até lá. E antes que seja rápido, que se esgote tudo o que houver para falar.
Bem-vindo a mais um mês.
A si só temos um conselho a dar, leia-nos, mas com tempo. Porque nem tudo deve ser rápido!
Joana Sousa
Equipa Editorial
