Chegámos ao fim de 2020. Um final de ano aclamado por muitos, talvez numa vontade imbuída na ilusão ou desejo fervoroso que, com a despedida de 2020, também as adversidades que este histórico e fatídico ano trouxe ao mundo, se dissipem. Mas não. E ainda bem que assim é, porque é na adversidade que somos impelidos a evoluir, com a certeza de que as lições deste ano de 2020 ficarão, certamente, na memória de gerações que, com as falhas ou erros do passado, construirão um futuro mais promissor.
Dezembro foi um mês que teve, novamente, a Covid-19 como protagonista de uma série de eventos que marcaram a atualidade, com destaque para a notícia que deixou a Europa em estado de alerta, devido ao aparecimento de uma nova, e mais contagiosa, estirpe de coronavírus no Reino Unido, o país que ficou isolado do resto do mundo com o encerramento das, então já escassas, ligações áreas e ferroviárias.
Não obstante o receio generalizado de uma nova variante do vírus, que continua a suscitar preocupações, dezembro foi também marcado pela "luz verde" da agência europeia que aprovou a vacina da Pfizer e BioNTech, possibilitando assim, o arranque da campanha europeia de vacinação ainda antes do final do ano.
Em Portugal, aguarda-se com expectativa o início da vacinação contra a covid-19, confirmada para os próximos dias pelas autoridades de saúde nacionais. E neste que é um momento crítico, em que vislumbramos a tão aclamada "luz ao fundo do túnel", é imperativo que continuemos a ter uma atitude responsável, cumprindo a nossa parte para evitarmos a propagação do vírus.
A agenda de dezembro trouxe também para discussão pública o combate pela defesa dos direitos humanos, no seguimento de uma tragédia ocorrida em território nacional e que colocou em debate uma eventual reestruturação do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras.
O sonho da vacina para controlar a pandemia tornou-se realidade e uma cidadã britânica, de 90 anos, fez história ao ser a primeira pessoa a ser vacinada contra a covid-19 no Reino Unido, que foi então o primeiro país europeu a colocar em marcha a campanha de vacinação para controlar a pandemia. “Uma data histórica para a Saúde Pública”, de acordo com o Professor Francisco Antunes, no comentário à administração da primeira vacina contra a covid-19, e ainda o contraponto do otimismo com a cautela num processo que entendemos que deve ser “claro e transparente para garantir a adesão da população global”, citando as observações do Professor Miguel Castanho.
Por cá, também esteve em discussão o Plano Nacional de Vacinação e os 22 milhões de doses de vacinas que deverão chegar a território português no início do próximo ano, bem como as possíveis consequências, ou um “janeiro negro” como apontam as estimativas da situação epidemiológica, de um Natal mais permissivo no que respeita à proximidade entre todos e que, como a evidência científica atesta, é determinante para o aumento do número de contágios.
Arriscámos assim, a liberdade de viver a quadra festiva com um grande alívio nas restrições de combate à pandemia, e ter uma ceia de Natal mais calorosa em afetos e que convida à normalidade da era pré-covid. Contudo, é fundamental não esquecer que o risco de contágio persiste, pelo que os apelos ao bom senso, ao sentido de responsabilidade individual e dever cívico em prol do bem coletivo, ganharam particular força.
Assim, fundamentámos a importância de se manterem em vigor medidas rigorosas no combate à pandemia, em virtude de um Natal com o menor número possível de contágios, num alerta do Professor Fausto J. Pinto, que explica que o preço a pagar por medidas mais “simpáticas” na época festiva é francamente alto.
Como tal, recomendámos máxima precaução no período natalício e apelámos à importância da vacinação para a Covid-19, num comunicado público que apresenta o balanço positivo sobre a forma como tem decorrido o ano letivo nas Escolas Médicas Portuguesas, congratulando os estudantes pela postura exemplar que têm demonstrado.
E reiterando a importância de uma campanha de comunicação sólida e consistente em tempo de pandemia, considerámos a parca objetividade nos indicadores de avaliação da situação epidemiológica do nosso país, que continua a ter “uma ação pautada por critérios generalistas, pouco fixa em factos”, conforme esclareceu o Professor Miguel Castanho.
Alinhados com o conhecimento, continuámos na linha da frente e participámos num projeto europeu de partilha de informação sobre a covid-19, com vista a uma coordenação ainda mais eficaz entre os países europeus na investigação da pandemia, de forma e apoiar o poder político nos processos de tomada de decisão.
Atentámos na realidade da violência obstétrica em Portugal e debatemos o excesso de intervencionismo e a humanização nas salas de parto com o Professor Diogo Ayres de Campos, que dirige o Departamento de Obstetrícia do Hospital de Santa Maria.
Analisámos também, os efeitos diretos e indiretos da pandemia nas doenças cardiovasculares, numa conferência apresentada pelo Professor Fausto J. Pinto, no âmbito do 8.º Congresso Internacional dos Hospitais “Saúde 6.0: Pessoas e Tecnologia”.
Compreendemos que “a pressa – tal como o medo – é má conselheira”, numa análise do Professor Miguel Castanho à estratégia para a vacinação da covid-19 em Portugal, e entendemos como se encaixam todas as peças do puzzle, com as explicações da Professora Maria do Carmo Fonseca sobre a conceção e funcionamento da vacina, que garantiu cumprir os requisitos de segurança exigidos.
Em dezembro, celebrámos o 66º aniversário do Hospital de Santa Maria, através de uma iniciativa que colocou a Academia e o Hospital na mesma linha de visão para responder aos desafios do futuro.
Partilhámos ainda, o III Simpósio em Investigação das Escolas Médicas Portuguesas, participando ativamente num ciclo de “consolidação” que se encerra, com a passagem de testemunho do Professor Fausto J. Pinto à frente do CEMP. Uma coordenação marcada pelos desafios da pandemia, em que as escolas médicas deram provas de resiliência e superação.
Marcámos presença no V Congresso da Rede de Serviços de Apoio Psicológico no Ensino Superior (RESAPES), e destacámos as principais realizações do Espaço S que desempenha um papel crucial no apoio psicológico dos nossos estudantes, intervindo na promoção da Saúde Mental na nossa Faculdade.
E perante a corrida aos testes rápidos e testes PCR com a aproximação do Natal, esclarecemos uma vez mais a sociedade sobre o risco de “uma segurança que não é real”, num alerta do Professor e Imunologista Luís Graça.
Atentámos na criação de uma “vacina mista”, no seguimento da colaboração entre a farmacêutica AstraZeneca e especialistas russos para a produção conjunta de uma vacina contra a covid-19, partilhando a perspetiva do Professor Miguel Castanho sobre o acordo entre “dois rivais e competidores” que se entenderam “para criar um produto melhor e com vantagem para todos”.
Reconhecemos o trabalho excecional da comunidade científica mundial naquele que foi "um dos avanços mais extraordinários, senão o mais extraordinário, avanço da Ciência e da Humanidade", com o desenvolvimento de uma vacina segura em apenas 11 meses, conforme nos explicou o Professor Fausto J. Pinto.
Apresentámos uma nova edição da FMUL em Números, com enfoque no impacto da pandemia no suporte técnico ao ensino remoto e teletrabalho.
Aplaudimos o lançamento do novo Manual de Anatomia Humana com a coordenação dos Professores António Gonçalves Ferreira, Ivo Furtado e Lia Neto, num projeto que teve como principal impulsionador o Regente da cadeira mais temida pelos alunos recém-chegados à nossa Faculdade.
Observámos ainda, o panorama da medicina paliativa em Portugal, que tem no cancro uma das doenças mais prevalentes, numa análise do Professor Rui Tato Marinho à importância de prolongar a vida com qualidade, proporcionando apoio psicológico e espiritual aos doentes.
Porque é através da informação e do conhecimento que se conseguem mudar mentalidades, permaneceremos ativos na defesa dos valores que nos movem e não deixaremos de contribuir para uma sociedade mais consciente e sabedora da Ciência. É na firmeza das ações - arriscando a imperfeição, mas persistindo na excelência - que tornámos possível aquilo que, muitas vezes, julgávamos impossível, porque por detrás de cada problema, e por mais tempo ou recursos que sejam necessários, há sempre uma solução à espera de ser desvendada.
Sofia Tavares
Equipa Editorial