“A pressa – tal como o medo – é má conselheira”
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close up de mão a segurar frasco de vacina

O Professor, e Investigador Principal do iMM, Miguel Castanho esteve em direto na SIC Notícias para comentar a proposta do Plano de Vacinação para a Covid-19 em Portugal.

Começando por atentar no intervalo de idades dos ensaios clínicos realizados para as possíveis vacinas, Miguel Castanho salientou que “se os testes estão a ser feitos com pessoas que vão até um limite de idade que vai até aos 75 anos, por exemplo, vamos ter a certeza tão absoluta quanto humanamente possível para aquele intervalo, mas não fora dele”. A partir dessa idade, ressalvou o Professor, “não estamos a trabalhar com resultados substanciais”.

Miguel Castanho considera ainda que se têm alimentado muitas “discussões prematuras” sobre o tópico e destaca o papel decisivo e crucial das entidades reguladoras na acreditação dos estudos que lhes são entregues para validação, com o objetivo de demonstrar a eficácia e segurança da vacina em causa. “Terá que ser a entidade reguladora, de acordo com os resultados apresentados, a pronunciar-se sobre qual o limite de idade para a segurança”, declarou o Professor, aludindo ao caso específico da Moderna que espera receber a 17 de dezembro a resolução oficial por parte da entidade reguladora americana. 

Só a partir desse momento, defende Miguel Castanho, é sensato começar-se a delinear um Plano de Vacinação. “Até lá, estamos muito especulativos sobre ele”, frisou.

homem na televisão

De referir que, no Plano de Vacinação para a Covid-19 em Portugal estão em lista 6 vacinas de diferentes farmacêuticas, cuja eficácia ronda os 90%. Das seis vacinas listadas, três estão já em processo de avaliação pela Agência Europeia do Medicamento (EMA), especificadamente a vacina da Pfizer/Biontech; a da Astrazeneca/Universidade de Oxford; e a da Moderna.

Portugal deverá receber 22 milhões de doses já a partir de janeiro do próximo ano, programando-se que o armazenamento esteja sob coordenação das forças armadas, segundo informações avançadas pela SIC.

Em declarações ao mesmo canal televisivo, Miguel Castanho realçou que “só pode haver um plano bem definido quando soubermos exatamente com o que podemos contar, em que circunstâncias podemos contar, e ao que se adequam essas vacinas e a quem podem ser administradas”.

Alertando ainda para o facto de “algumas destas vacinas serem muito semelhantes entre si na forma como atuam, mas muito diferentes na forma de manuseamento”, o Professor lança uma pertinente questão: “Valerá a pena estar a criar a infraestrutura para usar uma delas, se depois vamos ter a outra disponível também?”.

Miguel Castanho defende que “deveremos evitar sempre precipitação, deveremos evitar começar a vacinar rapidamente com todas as vacinas que chegarem ou com todas as que estiverem à mão, porque isto pode eventualmente não fazer sentido”, afirmou numa análise aos critérios de escolha da vacina e respetiva administração à população na prática.

Outra nota importante que Miguel Castanho fez questão de ressalvar está relacionada com os possíveis efeitos secundários da vacina. “Tem-se dito que não há efeitos adversos, mas há efeitos adversos nas vacinas". “Aquilo que se quer dizer é que não efeitos adversos graves”, denotou.

Considerando haver “algum otimismo e pressa” quanto às datas anunciadas para o início da vacinação contra a Covid-19 em Portugal, Miguel Castanho reiterou que “a pressa – tal como o medo – é má conselheira”. “Creio que poderemos estar a dar às pessoas a noção de que tudo isto acontecerá muito rapidamente”, afirmou, revelando também que “até que se note o efeito vão decorrer vários meses, e nesses meses não podemos baixar a guarda, vamos ter de continuar com as medidas que temos atualmente”.

Miguel Castanho concluiu a entrevista à SIC Notícias, que pode rever aqui, expressando o receio de que essa mesma pressa possa comprometer um plano “com eficácia de retorno a médio e longo prazo”, lembrando que “só no próximo inverno é que provavelmente vamos ter uma noção real da eficácia da vacinação”, atendendo às características de sazonalidade do novo coronavírus.

homem e mulher em entrevista de televisão

O Professor Miguel Castanho foi também convidado para um debate sobre o tema na TVI 24, que contou com as participações de Pedro Caetano, também Investigador Principal no iMM, e uma das voluntárias nos testes da vacina da AstraZeneca e da Universidade de Oxford, Carla Freitas.

Começando por assegurar que “o processo de vacinação vai ser um processo complexo”, Miguel Castanho realçou que devemos atender ao vasto leque de vacinas atualmente disponíveis, bem como as faixas etárias dos respetivos ensaios clínicos que atestam a sua eficácia e segurança. “O Plano de Vacinação tem que prever que nós vamos ter várias vacinas, que não vão aparecer todas ao mesmo tempo, que vão ter uma adequação diferente para pessoas diferentes, e que vão ter associadas uma logística muito diferente”.

Antes de ser definido qualquer plano, devemos primeiro ter conhecimento rigoroso e validação concreta da matéria e circunstâncias inerentes ao mesmo. Nesse sentido, Miguel Castanho voltou a apelar ao bom senso e cautela que devem imperar no momento presente. Na opinião do Professor, é essencial “aguardar aquilo que vai ser a certificação das entidades reguladoras”, tomando a partir daí todas as decisões com vista a um plano devidamente fundamentado e consistente.