“Continuamos a ter uma ação pautada por critérios generalistas, pouco fixa em factos”
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A resposta ao dilema que se arrastava desde o verão e que trouxe para a discussão pública a forma como se iria celebrar o Natal em plena pandemia foi, finalmente, revelada. E para comentar as restrições decretadas pelo Governo para a quadra natalícia, entre as quais a permissão de circulação entre concelhos entre os dias 23 e 26 de dezembro, a SIC convidou o Professor da FMUL e Investigador Principal no iMM, Miguel Castanho.

À pergunta sobre se este presente de Natal que o Governo ofereceu aos portugueses pode comprometer o esforço de contenção da Covid-19 empenhado por todos nos últimos meses, Miguel Castanho afirma: “Esperemos que não, mas obviamente que há um risco acrescido e o risco está associado ao contacto entre as pessoas”, sublinha.

Segundo o Professor, as medidas anunciadas pelo Governo para a quadra festiva que se avizinha “são mais uma adequação à realidade, do que propriamente uma tentativa de moldar a realidade”, entendendo que procuram conferir “alguma naturalidade” ao contexto específico em são aplicadas.

“A parte mais negativa destas medidas é que vivemos sempre numa certa generalidade, isto é, foi-nos dito que seria feita uma reavaliação no dia 18 de dezembro, mas não há indicadores. Nós não sabemos exatamente, para além do número total de casos, o que é que está a guiar as decisões”, realça Miguel Castanho, acrescentando que “continuamos a ter uma ação pautada por critérios generalistas, pouco fixa em factos”, denotando a falta de objetividade na avaliação da situação epidemiológica em Portugal.

O Professor é da opinião de que “deveríamos ter algo mais tangível e palpável”, explicando que o número total de contágios é um “indicador muito generalista, que depende de muitos fatores, portanto não é um bom indicador para decisões assertivas em certos pontos”. Miguel Castanho considera ainda que, “o total de contágios depende muito, inclusive, da situação ou de como o público perceciona a gravidade da situação, por exemplo”, justificando a parca eficiência desse indicador num conjunto de medidas, onde a objetividade e a evidência ainda são escassas.

Sobre a eventual necessidade do reforço da comunicação aos portugueses para uma melhor gestão da pandemia em Portugal no período do Natal, o Professor realçou que “nós nunca tivemos uma campanha de massas sobre o uso correto da máscara”, reiterando que as campanhas de comunicação alusivas aos bons procedimentos e boas práticas “são sempre necessárias”. “Agora, no Natal, o que fazia falta eram conselhos sobre comportamentos defensivos próprios para esta época e valeria a pena fazer uma campanha nesse sentido”, afirmou, considerando a inexistência de uma “política consistente de informação de boas práticas” que deveria vigorar de forma mais ativa em contexto pandémico.

Oiça aqui as declarações do Professor Miguel Castanho, numa discussão em que participou também o subdiretor de informação SIC, Pedro Cruz, que debateu ainda a constitucionalidade das medidas implementadas pelo Governo para um “Natal com cuidado”.