Num mês que trouxe a abundante trovoada há largos séculos predita pela sabedoria popular, a restrição da liberdade parece ter-se entranhado demasiado na consciência coletiva. Em Maio foi-nos pedida confiança. Confiança para devolver ao espírito a liberdade que o corpo já reclamou. Começamos a dar os primeiros passos num desconfinamento que é ainda muito estranho, na esperança de que, com o devido respeito pelas medidas de segurança fundamentais nesta fase (porque o vírus continua connosco), possa entranhar-se novamente no quotidiano de todos.
Em Maio permanecemos atentos e esperançosos, mantendo o rigor e profissionalismo de sempre. Acompanhámos a atualidade ao detalhe e partilhámos conhecimento, recomendações e a nossa visão do futuro.
E foi precisamente para o futuro que olhamos primeiramente, com uma mensagem de alento às novas gerações da Professora Maria do Carmo Fonseca, que incentivou os mais jovens a fazerem mudanças e apelou ao cultivo da Ciência, essencial à vida da Humanidade.
Atentámos na segurança alimentar em tempo de pandemia com o comentário da Professora Joana Sousa sobre o impacto da Covid-19 na taxa de obesidade e qualidade da alimentação dos portugueses. Atentos, por isso, às necessidades de muitas famílias, alimentamos a ideia da doação online, apoiando a causa da Recolha de Alimentos do Banco Alimentar, com a qual o Grupo Faculdade de Ajudar colabora desde sempre.
Com o levantamento do estado de emergência, começamos a caminhar rumo ao desconfinamento e compreendemos a importância de retomar a normalidade das especialidades médicas com os esclarecimentos do Professor Rui Tato Marinho.
Permanecemos interventivos e dirigimos recomendações ao governo para melhorar a estratégia de comunicação face ao uso de máscaras e viseiras. Revelámo-nos igualmente prudentes numa nova fase que convida à abertura da sociedade. Avaliámos os riscos da reabertura das escolas e recordamos que não há medidas 100% corretas.
Como tal, reforçámos a necessidade do cumprimento das medidas de contenção, a fim de evitar a propagação da covid-19. Apoiamos a campanha de Máscaras para Todos e continuámos, de forma incansável, a contribuir com a produção de viseiras para os profissionais de Saúde, num esforço louvável do Instituto de Anatomia.
Porque a nossa maior preocupação é a segurança e o bem-estar de toda a comunidade académica, e de todos os que com ela se relacionam, colocámo-nos novamente na linha da frente do combate à pandemia, coordenando um programa de testes criado pela Universidade de Lisboa com a colaboração de todas as suas Faculdades.
Atentámos, ainda, no estudo do genoma do vírus com o Professor Francisco Antunes e acompanhámos a evolução do desenvolvimento de uma vacina, olhando para o que já foi feito na investigação de outros coronavírus com o Professor Miguel Castanho.
Também com o Professor Miguel Castanho, analisámos a resistência do SARS-CoV-2 e compreendemos melhor como se comporta o novo coronavírus. Destacámos, também, os ensaios clínicos com plasma de doentes recuperados da Covid-19 e a análise da Professora Ana Espada de Sousa e a esta terapêutica.
Continuámos solidários com os nossos profissionais de saúde, recolhendo as ajudas que chegam do país, mas também do outro lado do mundo, e continuámos a partilhar sabedoria e experiências, debatendo novas ideias em mais um ciclo de FMUL Talks.
Entrámos no laboratório do iMM e vimos de perto como são feitos os testes de diagnóstico à covid-19. Mas as portas não se fecharam por aqui. Visitámos o serviço de Patologia Clínica do Hospital de Santa Maria e comprovámos a dedicação e competência de uma equipa “excecional”, numa visita conduzida pelo Professor José Melo Cristino e que vale a pena repetir.
Seguimos viagem, desbravando caminho no que já apelidamos de campo de batalha, e acompanhámos a “desafiante recuperação da Covid-19” nos relatos dos médicos e enfermeiros que estão na linha da frente em Santa Maria.
Visitámos, também, o lado mais silencioso e invisível da pandemia. Mergulhámos no espectro das emoções e avaliámos o estado da Saúde Mental do país. Refletimos sobre a importância de estreitar laços e manter as relações afetivas em tempos de pandemia, e considerámos atentamente os efeitos colaterais da Covid-19 nos estudantes.
Mas não ficámos por aqui. Atravessámos a fronteira e olhamos para além da pandemia, porque há muito mais para investigar para lá da Covid-19. Estudámos, com sucesso, novas e melhoradas formas de tratar a obesidade e congratulámo-nos com a possibilidade de podermos “viver mais anos sem envelhecer”.
Demos um passo importante na luta contra a malária e partilhámos a boa nova do Professor Miguel Prudêncio, bem como toda a equipa de investigadores, sobre o significativo avanço rumo a uma vacina segura e eficaz.
Neste que é o mês do coração, construímos ainda um programa de reabilitação cardiovascular à distância, aplaudimos a entrega do Prémio João Lobo Antunes em Bioética e continuámos a desafiar os nossos estudantes, promovendo a interação entre mentores e mentorandos.
Unidos por “problemas semelhantes”, como mencionou o nosso Diretor, o Professor Fausto J. Pinto, encorajámos os nossos estudantes que iniciaram em maio a época de exames, e agradecemos o apoio de uma comunidade que mostrou, novamente, a sua resiliência e elevada competência em mais uma prova superada.
E num mês que trouxe a esperança renovada num caloroso e mais leve compromisso diário, foi profundo o peso da despedida do Senhor Prof. Doutor Jacinto Monteiro. Recordaremos com saudade a forma calma e sábia com que sempre participou na vida da nossa Escola, assim como o brilhantismo de uma carreira que fez da Ortopedia um lugar de excelência, tanto no ensino, como na prática clínica.
Daqui em diante, o compromisso é o de continuar a fazer mais e melhor, adaptando-nos com a mesma firmeza, fortalecendo a confiança no futuro e reinventando os nossos dias para que a luz que agora vemos prolongar-se no horizonte, se estenda ao interior de todos e relembre, a cada desafio, o lugar onde se dissipam todas as dúvidas e onde a força não se esgota.
Sofia Tavares
Equipa Editorial