Prof. Miguel Castanho fala à SIC Notícias sobre a resistência do novo coronavírus
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Relativamente à contaminação através de superfícies que estejam possivelmente infetadas, há quem diga que o vírus pode durar 3 dias, algumas horas (4 a 5, dependendo do material) e a OMS (Organização Mundial de Saúde) refere não haver provas de contágio por meio de superfícies. Todas estas informações geram alguma confusão.

Segundo Miguel Castanho, Professor Catedrático da FMUL e Group Leader no iMM João Lobo Antunes, num laboratório “onde tudo é controlado, o vírus mantém-se ativo durante algum tempo”, o que não significa que o mesmo aconteça em situações não controladas.

A OMS diz que apesar dos estudos demonstrarem que o vírus se mantém ativo durante algum tempo, “não está demonstrado que essa seja uma via de transmissão significativa”.

“A transmissão não se dá via térmica.” A questão da lavagem das mãos prende-se com o facto de termos o hábito de levar as mãos à cara, e mesmo assim, da cara têm de entrar nas vias respiratórias ou nos olhos, porque são um ambiente húmido muito propício à propagação de vírus.

O contacto das mãos com superfícies contagiadas em si não é perigoso.

Relativamente à questão da desinfeção de embalagens ou sacos de compras, o Prof. Miguel Castanho defende que é necessário “tomar medidas de precaução, mas não entrar em exageros, sobretudo atitudes que nos dificultam a vida sem trazer benefício”.

Por outro lado, a utilização de máscara sim, é um meio de prevenção eficaz na ida ao supermercado, porque a transmissão via respiratória para via respiratória consiste num meio comprovado de contágio, e devemos concentrar as nossas atenções neste facto, diz o Prof. Miguel Castanho.

O vírus para se multiplicar precisa de um hospedeiro, ao contrário de algumas bactérias, que conseguem multiplicar-se em superfícies e formar colónias, como é o caso, por exemplo, da legionela. Os “vírus não têm um metabolismo próprio, não têm capacidade de divisão por si só”. Na superfície, “se não houver nenhuma alteração química ou estrutural”, os vírus “estão inertes”, mas encontrando um hospedeiro eles terão as condições necessárias para se multiplicar.

Imaginemos “um vírus sobre um puxador de uma porta”, exemplifica Miguel Castanho, “pode ocorrer a oxidação do vírus”, podem haver “flutuações de temperatura” e, com uma temperatura razoavelmente alta, “o vírus sofre uma alteração organizacional, isto é, as suas moléculas mudam de forma, e a interação entre as moléculas também se altera, e do ponto de vista físico, aquela partícula passa a ser uma partícula que já não tem capacidade de infeção”. Isto significa que “o vírus fica inativado”. Os vírus estruturalmente desorganizados não conseguem interatuar com as células, não conseguindo assim infetá-las.

Relativamente às mutações que este vírus tem sofrido, o Professor Miguel Castanho diz que podem ser boas notícias. A variação do vírus presente na Europa é mais infeciosa, mas menos agressiva.

 

Assista a esta reportagem aqui.