Temos várias formas de a olhar.
Notícia caída do céu e um presente que não nos imaginávamos conseguir. Ou algo que nos empurra para fora da zona de conforto e desarruma aquilo que entendíamos ser seguro.
Muitas vezes vinda pela força da inevitabilidade, ela impõe-se subitamente, como um elefante que se instala numa sala pequena cheia de porcelana. Ou uma onda que nos muda tudo de lugar e nos vira da cabeça aos pés.
Outras vezes chega, persistente, e faz-se anunciar, mas alguns ouvidos ignoram-na.
Dizem os gurus do desenvolvimento pessoal que a síndroma Gabriela Cravo e Canela, com a Mudança, não resulta. O pensamento viciado do “eu nasci assim, eu sou sempre assim, eu sou mesmo assim”, é argumento que ela não aceita como justificação.
Um dos exercícios mais eficazes que me fizeram até hoje foi mudar-me o lugar de trabalho no mesmo dia, várias vezes. Incomodou-me porque me obrigou a transportar tudo, a sair do mesmo lugar, mas só assim consegui ver os outros através de diversos ângulos. Interessante, não é?
Mudar. Porque o queremos fazer. Porque algo se instala na nossa vida e sem aviso, ou vontade própria, facto é que tudo vai mudar. Mas também mudamos, porque lutamos por isso, porque nos move um novo projeto.
Há quanto tempo não muda nada?
Quantos anos se mantém exatamente no mesmo lugar?
E o que acontece quando uma pandemia empurra o mundo inteiro para casa e outra parte para as trincheiras dos hospitais?
Não só a mudança é necessária, como é ela a grande responsável pela transformação que então ocorre.
Tema central deste mês em que falamos da Nova Reforma do Ensino Clínico e que entra em vigor no próximo ano letivo, a protagonista é a Mudança Transformadora. Fomos conversar com José Ferro, o coordenador da equipa que desenvolveu o plano de trabalhos da Reforma e com João Eurico, um dos elementos chave para a sua implementação. Fazemos ainda a travessia na História das mudanças do Ensino da Medicina, para entender as suas posições de acordo com as exigências de cada tempo.
O tempo, aquele que se impõe na vida e que lhe marca caminhos, prazos forçados para a mudança. Prestes a chegar aos 70 anos, António Gonçalves Ferreira, o Professor Catedrático de Anatomia, Neurocirurgião e Diretor da Clínica Universitária de Neurocirurgia da FMUL, recebeu-nos para uma conversa sem tema definido. O resultado foi curioso, efeitos de uma conversa sem demasiados planos.
Mas se há funções que nos permitem não planear com rigor, já outras só serão bem-sucedidas quanto melhor forem pensadas. João Martins sabe-o bem. O novo Presidente da AEFML falou-nos da continuidade e da mudança, diante de um bom aliado e antecessor que agora lhe deixa a gestão a cargo, António Velha.
Tende a ter mais um fixed mindset (mentalidade fixa) ou um growth mindset (mentalidade de crescimento)? Talvez o mesmo seja perguntar-lhe, está aberto à mudança, ou é mais fechado a ela? Não é Simplesmente fácil ter a resposta, mas podemos falar-lhe do tema, com mais um excelente trabalho de reflexão do Gabinete de Apoio ao Estudante.
Junho termina com mais um resumo da agenda principal das nossas notícias e as do mundo. Onde um dos grandes momentos foi mais um debate sobre Cuidados Paliativos, organizado pelos Professores Rui Tato Marinho e Paulo Pina. Desta vez a conversa foi com o médico Álvaro Beleza.
O ditado popular vai dizendo que “Deus ajuda, quem muda”, mas Daniel Sampaio prefere ter em Deus apenas o aliado por quem passa e somente cumprimenta, para já, algo à distância. Enquanto esteve internado em Santa Maria sofreu uma das suas grandes mudanças, o cuidador passava a ser cuidado. A outra mudança foi sobre de que lado estava para ele a morte. Professor Jubilado da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, psiquiatra e escritor deu-nos o gosto de uma conversa de perto, onde um olhar descreve quase tudo.
Pode nem sempre ser fácil, e apesar de quase sempre trazer consigo algo melhor, causa entropia, mas depois torna-se transformadora.
A mudança é inevitável. Então, aceite-a.
Joana Sousa
Equipa Editorial
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