O segundo mês do ano é também o mais curto, mas nem por isso o menos importante. O nome fevereiro é oriundo do Latim – “februarius”, inspirado em Fébruo, Deus da morte e da purificação na mitologia etrusca*. Na tradição cristã, fevereiro é considerado o mês da luz, por representar o fim dos quarenta e três dias do solstício de inverno, o que não deixa de ser curioso – dada a recuperação da situação epidemiológica em Portugal, ao longo deste mês. Com base na sua Etimologia, quase que poderíamos almejar bons presságios, não obstante, o surgimento de novas estirpes do Sars-Cov-2, mais contagiosas e consequentemente mais mortíferas?
O que sabemos é que têm colocado à prova a eficácia das vacinas produzidas contra a Covid-19.
À medida que surgem novas informações, os holofotes acendem-se sobre a comunidade científica, e os nossos especialistas não constituem exceção.
Sobre a evolução do Coronavírus, o impacto das suas mutações na eficácia das vacinas produzidas, não esquecendo as lacunas do plano de vacinação nacional, há muitas visões que convergem. Que o diga, o Prof. Luís Graça, que sobre o plano de vacinação em Portugal, considera que “os prazos entre a primeira e a segunda toma da vacina devem ser respeitados, visto que, “as autoridades que regulam os medicamentos têm que ter em consideração, aquilo que é conhecido dos ensaios”. Por sua vez, Miguel Castanho manifesta também preocupação com o surgimento das novas estirpes e pede muita atenção para estas variantes, independentemente do lugar da sua ocorrência, a resposta de combate deve ser rápida e de forma global, como o próprio refere: “Não vale a pena uma zona do mundo disputar muito as vacinas e fazer retenção das mesmas, deixando as outras partes do mundo à sua mercê. É necessário ter uma estratégia global e pensar globalmente”. Sobre os efeitos da vacina da AstraZeneca, em pessoas maiores de 65 anos, o Prof. Joaquim Ferreira fundamenta a sua visão na evidência dos estudos realizados pela Agência Europeia, que segundo o especialista, provam que esta vacina, mesmo em pessoas mais velhas, cria uma reação imunológica. Contudo, não descarta a necessidade das vacinas serem melhoradas e substituídas por novas versões.
Sobre a nova vacina da Johnson & Johnson, e o fato de só requerer a toma de uma única dose, o Prof. Miguel Prudêncio defende: “Há mais benefícios nesta vacina, acrescentando que a vacina da Johnson & Johnson tem condições de armazenamento muito favoráveis, porque pode ser armazenada numa temperatura de um frigorífico normal.”
Válter Fonseca, docente da FMUL e Diretor do Departamento de Qualidade da DGS, considera lamentável o acesso a vacinas fora dos grupos prioritários, numa altura em que tem sido frequente assistir a notícias de casos de vacinação indevida, por parte de pessoas, que não constituem uma prioridade.
Com o objetivo de evitar a incorreta administração das vacinas, e analisando a aplicabilidade, aceitabilidade e a transparência das estratégias respeitantes à vacinação, Válter Fonseca aliou-se ao médico imunologista, Luís Graça, e ao médico pediatra, José Gonçalo Marques, integrando a comissão técnica de vacinação contra a COVID-19, criada como grupo consultivo da Direção-Geral da Saúde.
Perante um fevereiro cinzento, chuvoso, zangado, e numa altura em que o mundo observa a fragilidade dos seus alicerces, há também boas notícias que nos concedem esperança e motivação, para encarar os potenciais obstáculos futuros. No mês em que celebramos o amor, foi publicado mais uma edição da revista Coração e Vasos, uma viagem pelos corredores dos serviços de cardiologia, de alguns hospitais, que apesar de se apresentarem numa situação limite, possuem ainda profissionais de saúde capazes de se desdobrar e garantir o funcionamento do serviço que cuida do coração.
Mas as boas notícias não terminam aqui. Também, a Prof.ª Carmo Fonseca merece o nosso destaque por ter, ao longo dos anos, conseguido descodificar o genoma humano. Ao abrigo desta descoberta, e associada ao desenvolvimento de várias tecnologias, é lhe possível conhecer, em detalhe, o genoma de cada tipo de cancro - passos significativos na busca pela cura da outra pandemia que vivemos há décadas.
E por falar em tecnologia - aquela que tem sido uma fiel aliada de todas as descobertas - é no Laboratório de Patologia Clínica do CHULN, liderado pelo Professor e Presidente do Conselho Científico da FMUL, José Melo Cristino, que ganha força, ao tornar possível a realização dos 700 a 800 testes diários, de diagnóstico à Covid-19, pedidos pelo Hospital Santa Maria, unidades de saúde, lares e outras instituições.
Segundo David Yoon, um jovem escritor nova-iorquino, em ascensão: “A maior força da humanidade – e também o motivo da sua queda final – é a capacidade de normalizar até o bizarro”, nesta frase encontramos algum fundo de verdade. De fato, o que nos era estranho, entranhou-se. Num período conturbado para o Serviço Nacional de Saúde, há quem se destaque pela resiliência e a capacidade de ajudar o próximo. Um ímpeto que levou a Universidade de Lisboa a lançar uma campanha para angariar voluntários, dentro da comunidade universitária, com o propósito de ajudar no combate à Pandemia. Porém, a Universidade que nos “Tutela” não ficou por aqui. Sem cruzar os braços, cedeu espaço no Estádio Universitário, para que um Hospital de campanha que possuía 58 camas, passasse a contar com 150. Por este Hospital de campanha já passaram quase 100 doentes e este alargamento poderá, eventualmente no futuro, acolher doentes que poderiam ir para casa, mas não o podem fazer por falta de condições. Também, a Faculdade de Ajudar e a AEFML, juntaram-se à Campanha Cama Solidária, num esforço conjunto de apoio a todos os profissionais de saúde que se encontram na linha da frente, promovendo uma campanha de angariação de bens alimentares.
Numa altura em que a Covid-19, apesar da descida do número diário de infetados referentes à 3ª vaga, não dá descanso, é relevante salvaguardar outras doenças, bem como outros cuidados de saúde. Com um artigo dedicado à mudança de personalidade após o AVC, o Prof. José Manuel Ferro explica as 5 principais mudanças de comportamento de um doente que tenha sofrido um Acidente Vascular Cerebral, cujo tratamento parece carecer de uma equipa multidisciplinar que acompanhe e estimule o doente na conquista pela qualidade de vida. Mais uma guerra que todos travamos independentemente do mês.
Fevereiro é também o mês em que se comemora o dia Internacional da criança com cancro e o dia internacional da Síndrome de Asperger.
Fevereiro foi isto e muito mais. Nesta segunda edição da News@FMUL de 2021, reservámos para si mais um rol de notícias, de histórias, de testemunhos, no fundo, de vidas que em fevereiro completam mais um ciclo de quarenta e três dias do solstício de inverno, porque estamos sempre ligados.
Isabel Varela
Equipa Editorial