Tudo apontava para que fosse mais um dia tranquilo e azul na ilha de Honolulu, no Havai. A base naval de Pearl Harbour descansava a sua frota, mostrando-se numa posição neutra diante de uma tomada de posição para se juntar às tropas Aliadas, que tinham começado uma II Guerra Mundial em 1939.
Essa realidade estava prestes a mudar quando a 7 de dezembro de 1941, forças aéreas japonesas preencheram os céus com 353 aviões e atacaram o coração da base naval americana. Dos 8 navios americanos de guerra atingidos, o Arizona e Oklahoma afundaram e os restantes 6 sofreram danos severos. Ao todo 20 navios militares sofreram forte destruição e 188 aviões eram abatidos no mesmo ataque inesperado e que não viu resposta. O Japão declarava oficialmente guerra aos EUA e causava mais de 2300 mortos e 1178 feridos, em contraponto das 100 vidas japonesas que sacrificou.
Num discurso à nação e dirigindo-se ao Congresso Americano, Franklin Roosevelt afirmava que diante de tão vil ataque, 7 de dezembro de 1941 seria “uma data que viverá na infâmia”. Os EUA entravam, ao lado das forças Aliadas, em guerra.
É esta a imagem que nos tem assombrado. “Parece um cenário de guerra”, dizem tantas pessoas de quadrantes diferentes e com um espanto de quem não esperava tamanho ataque, mesmo sabendo que, num lugar lá longe, uma cidade (Wuhan) estava isolada por ter a sua população contaminada. E assim chegou um ataque severo, atravessando as fronteiras do ar e instalou-se, silenciosamente, no cérebro das maiores e das menores potências mundiais; matando 2 483 413 de pessoas poderosas, pobres, idosas e muito jovens, boas ou más pessoas, com ideais ou sem eles, matou sem critério, sem direito à defesa, matou sem direito à despedida e ao luto. E ainda acham que não estamos em guerra?
“Exagero das grandes forças económicas que querem dominar o mundo e os fracos”, tem-se ouvido, como se estivéssemos num jogo virtual e pudéssemos brincar entre lados opostos. O inimigo invisível não deu espaço de manobra, mas o mundo contra-atacou através da comunidade científica e das equipas médicas. Com dificuldade foram-se juntando os políticos e pediram que cada um se protegesse, para protegerem todos. Criaram-se regras e medidas impeditivas de liberdade, último reduto para que se percebesse que estávamos numa guerra demasiado séria e sem resposta ainda à altura.
Janeiro e fevereiro foram os nossos meses mais negros, onde o caos se abateu e quem o enfrentou foram as equipas médicas, enquanto a ciência se mantinha em simultâneo a desenhar a estratégia de contra-ataque. Dias e noites seguidas, com privação de sono, de emoções, sem acesso às famílias, sozinhos entre eles, sem que o medo lhes ocupasse lugar para que continuassem a fazer aquilo a que se propuseram na vida: cuidar do outro.
É dessas pessoas que falamos nesta edição de fevereiro. As nossas pessoas formadas por esta casa, ou sobre aquelas que vão para a linha da frente, as que põem a vida à frente do perigo, com um propósito maior, o da nação, ou o do outro.
Estas são as pessoas a quem pedimos para nos falar sem filtros, de forma crua, sobre o combate, sobre o inimigo, sobre o que sentem diante das vítimas com quem se cruzam ou cruzaram. Estes guerreiros de fibra têm nome e um rosto e assumem papéis múltiplos na nossa sociedade e felizmente na nossa vida: Diogo Ayres de Campos, Vice-almirante Silvestre Correia, Miguel Esperança Martins, Catarina Jacinto Correia e António Urbano.
E o que é estar do lado de quem ficou infetado? O nosso aluno Mário Andrade relatou-nos a sua experiência.
Olhamos para o que acontece na nossa comunidade e trazemos notícias de sucesso de projetos onde estão envolvidos os Professores Mamede de Carvalho, Helena Cortez Pinto e Sara Xapelli.
Recordamos o passado através da história de Ernesto Roma e focamos nas manchetes do presente, com a atualidade de fevereiro. Diante de novos tempos que surgiram como caminho alternativo a esta guerra da distância, contamos sobre a grande feira nacional que coloca a nossa Faculdade na montra virtual, abrindo as suas portas ao país.
Possivelmente o pior ataque desta guerra já nos tenha sido infligido. Mas que a memória nunca apague aqueles que, no caos, se mantiveram erguidos em nome de todos.
É em particular a eles que dedicamos esta edição.
Que a nossa História digne o que por nós têm feito, pois a nossa memória e gratidão já vos imortalizou.
Obrigada,
Joana Sousa
Equipa Editorial
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