Brainteaser é um projeto financiado pelo H2020 a nível europeu, e que tem como principal objetivo usar sistemas de Inteligência Artificial (IA) para processar dados de pacientes diagnosticados com Esclerose Múltipla (EM) e Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA), de modo a desenvolver modelos capazes de predizer a progressão da doença e assim conseguir com mais eficiência e eficácia acompanhar as pessoas com estas doenças.
São mais de 10 parceiros neste projeto coordenado pela Universidade Politécnica de Madrid e onde, com muito orgulho, temos representada a Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, através do Instituto de Medicina Molecular.
Falámos com o Professor Mamede de Carvalho, subdiretor da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, médico neurologista no Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte, group leader no Instituto de Medicina Molecular (iMM-João Lobo Antunes) e Diretor do Instituto de Fisiologia, que muito simpaticamente respondeu às nossas questões sobre este projeto, o BrainTEASER. A equipa de investigação liderada por Mamede Carvalho (Mamede Carvalho Lab) é um dos principais parceiros e onde a experiência do grupo de trabalho na área da Esclerose Lateral Amiotrófica é fundamental.
Conte-nos um pouco como foi a ideia deste projeto e como se tornaram parceiros?
O projeto foi uma iniciativa de outros parceiros que convidaram à nossa participação considerando os nossos dados na Esclerose Lateral Amiotrófica e a nossa experiência prévia na interação com outros grupos (em particular a Prof.ª Sara Madeira da Universidade de Ciências, LASIGE) na análise de "big-data" (data-mining) por processos de "machine learning" (inteligência artificial). De notar a nossa relação de colaboração com outro grupo clínico participante, da Universidade de Turim, que propiciou esta integração.
Pode-nos falar um pouco do que trata o projeto e qual vai ser o papel do seu Laboratório no seu desenvolvimento?
O projeto é relativamente complexo, mas resumidamente versa a análise de dados de doentes com Esclerose Lateral Amiotrófica e com Esclerose Múltipla (seguidos num centro Italiano) utilizando instrumentos de "machine learning" para encontrar relações entre os elementos clínicos, genéticos e biomarcadores, complementados com dados ambientais (como a poluição e a exposição solar). A isto se acrescem vários elementos biológicos recolhidos por sensores a serem utilizados pelos doentes que aceitem participar.
Que impacto a longo prazo espera que este projeto tenha na esclerose lateral amiotrófica e na esclerose múltipla? Que outros projetos poderão derivar deste?
Para além de uma melhor compreensão das doenças e do papel de múltiplos elementos biológicos e ambientais na sua expressão e progressão, a utilização de sensores com registo de dados biométricos por via remota, permitirá apreender o seu papel no acompanhamento e tratamento das doenças neurológicas (na perspetiva da "precision medicine").
A inteligência artificial é uma das tecnologias tendência na área da saúde. Que avanços acha que poderão fazer na área das neurociências?
A inteligência artificial é um instrumento não tão recente assim, mas que tem beneficiado do desenvolvimento computacional e de algoritmos, de forma a facilitar soluções mais precisas e rápidas. Pode ser aplicada na interpretação de dados para diagnóstico (como na imagem), em processos de monitorização continua, na execução de intervenções rápidas (como por exemplo, no abortar de uma crise convulsiva ou de uma arritmia pela indução de correntes elétricas nos tecidos) ou na interpretação de dados com algoritmos de autoaprendizagem. Nas Neurociências todas as áreas podem beneficiar, desde que se mantenha o conceito básico de clínicos amplamente competentes, no seguimento dos doentes. No mais imediato a configuração de soluções em situações complexas poderá ter grande interesse.
Que outros projetos o seu Laboratório tem em mãos e que esperanças tem para o futuro na sua área?
O nosso Instituto tem projetos em diversas áreas como na neurofisiologia, na interação disautonomia-disritmia cardíaca (Prof.ª Isabel Rocha), nos modelos computacionais do movimento e do comportamento (Prof. Tiago Maia), em biomarcadores biológicos de doenças neurológicas (esclerose lateral amiotrófica, polineuropatia amilóide familiar e na atrofia muscular espinhal), incluindo a genética e o microRNA, na análise de dados com "machine-learning" e no uso de biosensores. Creio estarmos na linha do futuro, pelo que estou otimista quanto à nossa competitividade científica nos próximos tempos.
Agradecemos ao Professor Mamede a delicadeza e atenção em responder às nossas perguntas e desejamos muito sucesso para este projeto, que se concretizará em melhores condições para todos os pacientes que sofrem de ELA e EM.
Para mais pormenores sobre este projeto consulte o site oficial da Comissão Europeia.
Sónia Teixeira
Equipa Editorial