Sara Alves Xapelli, é Professora no Instituto de Farmacologia e Neurociências, da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa e Investigadora do Ana Sebastião Lab, no Instituto de Medicina Molecular João Lobo Antunes.
Sara Xapelli, juntamente com o Professor Frederico Simões do Couto e com o aluno de doutoramento Rui Rodrigues, viu o projeto, na área da depressão e do estudo das células estaminais neurais e do recetor de canabinóide do tipo 2, premiado com um financiamento atribuído pela International Society for Neurochemistry, “trata-se de uma bolsa de apoio ao desenvolvimento de carreira independente”, refere. “É o reconhecimento do trabalho feito até aqui”, segundo a Professora.
A news@FMUL falou com a Professora, que nos explicou que a estimulação dos recetores canabinóides do tipo 2, presentes nas células estaminais neurais, podem resultar em efeitos antidepressivos.
A Professora recebeu uma bolsa concedida pela International Society for Neurochemistry, em resultado de um projeto na área da depressão e do estudo das células estaminais neurais e do recetor de canabinóide do tipo 2. Quer falar-nos um pouco em que consiste este estudo?
Sara Xapelli: Este projeto, financiado pela International Society for Neurochemistry (ISN), tem como objetivo o apoio de jovens investigadores para se estabelecerem de forma independente, tendo uma componente de avaliação curricular e outra de avaliação do projeto científico.
Nesse sentido, o nosso trabalho, financiado por este projeto, visa explorar as células estaminais neurais adultas como uma potencial plataforma terapêutica para combater a depressão, explorando o papel dos recetores de canabinóide do tipo 2 (CB2R) nessas células como potencial estratégia antidepressiva. A nossa hipótese é que a estimulação dos CB2R que estão presentes nas células estaminais neurais resulte em efeitos antidepressivos significativos devido à formação de novos neurónios. Para testarmos esta hipótese, recorremos a duas abordagens distintas no projeto: ciência fundamental e uma vertente mais translacional. Na primeira iremos usar modelos animais para o nosso estudo e na segunda iremos avaliar os níveis de endocanabinóides no sangue de pacientes com depressão para relacionar com os dados pré-clínicos.
O que é um recetor de canabinóide do tipo 2?
Sara Xapelli: O nosso organismo tem moléculas endógenas, os endocanabinóides, que ativam maioritariamente dois tipos de recetores, os recetores de canabinóide do tipo 1 e do tipo 2, e que participam na regulação da atividade do sistema nervoso. Estes recetores estão amplamente descritos como estando envolvidos na regulação de vários processos fisiológicos, tendo o recetor do tipo 2 (CB2R) um papel anti-inflamatório. Os CB2R são também particularmente relevantes porque, a sua ativação não desencadeia os efeitos indesejáveis, tal como acontece quando se ativam os recetores do tipo 1, associados à maioria dos canabinóides, como por exemplo o tetrahidrocanabinol (THC), que é responsável pelas propriedades psicoativas da cannabis.
Estes recetores poderão ter algum efeito/aplicabilidade (benéfico/a) ao nível do tratamento ou controlo de sintomas, nas doenças neurodegenerativas?
Sara Xapelli: Neste momento nós estamos focados na depressão tendo em conta os dados publicados na literatura e os nossos dados preliminares. No entanto, a sua importância tem vindo a ser descrita em modelos animais em doenças neurodegenerativas, como por exemplo a doença de Alzheimer, dado o seu papel anti-inflamatório.
Qual será a aplicabilidade do financiamento neste projeto?
Sara Xapelli: Este financiamento permitirá ajudar no desenvolvimento do nosso trabalho de investigação, abrindo portas para melhores ferramentas de diagnóstico e eventuais terapias futuras. No entanto, este tipo de estudos requer um elevado financiamento, pelo que serão necessárias novas fontes.
Em que sentido a dupla com o Professor Frederico Simões do Couto, foi a receita para captarem as atenções para o projeto?
Sara Xapelli: A última tarefa do nosso projeto é estudar os níveis de endocanabinóides em pacientes com depressão. O Prof. Frederico, sendo psiquiatra com experiência e interesse neste tema, é um ponto fundamental para a interligação entre a ciência fundamental e a translacional. Poder encontrar biomarcadores para esta patologia seria de uma enorme importância.
Por outro lado, gostaria de ressaltar que o ponto de partida deste projeto foi o Rui Rodrigues, aluno de doutoramento orientado por mim e pelo Prof. Carlos Fitzsimons (Universidade de Amsterdão). O Rui há alguns anos que está interessado no papel dos endocanabinóides na formação de novos neurónios e tem sido o responsável pelo desenvolvimento desta linha de investigação no nosso laboratório.
Quais serão os próximos passos?
Sara Xapelli: Os próximos passos serão exatamente iniciar os estudos clínicos.
Cristina Bastos
Equipa Editorial