Será que poderemos dizer que a epidemiologia e a opinião superam largamente os estudos randomizados na área da nutrição? Parece ousado, mas vamos tentar perceber.
A evidência em nutrição tenta mostrar a eficácia das intervenções nutricionais, podendo ser obtidos resultados aparentemente “negativos” (por falta de significado estatístico) tendendo, por esta razão, a não ser publicados por decisão editorial, ou mesmo por potencial conflito de interesse que levam a que o trabalho não seja sequer submetido a apreciação.
Verdade é que opções nutricionais de excelência podem também ter por base análises observacionais. Estudos observacionais não aleatórios em nutrição têm sido privilegiados face aos ensaios randomizados por estes serem difíceis de configurar por perdas por follow-up, baixa adesão, alteração de comportamentos não controlados pelos investigadores, podendo levar a que a estimativa do tamanho do efeito seja diferente do real efeito de causalidade.
Nesse cenário, resultados "negativos" provenientes de ensaios clínicos poderão ser muito mais desejáveis que resultados "positivos". Tentando explicar este aparente paradoxo, podemos dizer que muitos resultados “negativos” não são falhas em mostrar a superioridade de uma intervenção nutricional em comparação com outra, mas oferecem evidências de não inferioridade ou equivalência, o que é o mesmo que dizermos que diferentes escolhas nutricionais levam a resultados igualmente aceitáveis. E isto poderá ser considerado negativo em nutrição? Não, pode e deve ser considerado como uma boa notícia porque é melhor ter diferentes opções igualmente válidas do que apenas uma.
Por outro lado, outros resultados "negativos" poderão evidenciar que nutrientes ou dietas que pensávamos serem eficazes (baseado em estudos observacionais), afinal não o são.
Dito isto, é primordial percebermos que o ganho que obtemos com os resultados de um estudo é tanto maior quanto maior a mudança que ele cria nas nossas crenças prévias. Deste modo, o nosso ganho de informação relativa a determinado tema é superior se os resultados alcançados romperem com crenças, provavelmente falsas, do que se os mesmos vierem “apenas” confirmar que continuamos a saber aquilo que já pensávamos saber.