A experiência do grupo piloto de estudantes deslocados “MOVING IN”
Vamos falar de grupos. Vamos falar de um grupo muito específico que se criou pela primeira vez no ano letivo 21/22 ainda com a peso da pandemia no nosso dia a dia, o grupo Moving In de estudantes deslocados.
“Moving In” porque se refere a quem se move, a quem tem de sair da sua casa para vir fazer o curso na FMUL, porque se refere a quem chega.
Nos últimos anos, o Espaço S tem recebido um grande número de pedidos de ajuda destes estudantes, os “deslocados”, que acabam por ter de lidar com os desafios e as dificuldades inerentes ao ensino superior em simultâneo com um outro desafio normativo, mas repentino, que é a autonomização, emocional e funcional, das suas famílias de origem.
O processo de autonomia (que corre melhor quando se desenvolve em fases e com mudanças mais contínuas) sofre com a saída de casa assemelhando-se mais a uma rutura do que a um processo.
E é mau para quem vem de longe-mas-perto-o-suficiente-para-ir-ao-fim-de-semana mas muito pior para quem vem de um longe-que-nem-sei-se-este-ano-consigo-lá-ir.
Imaginem qual é a distância de um Natal sozinhos…
A reflexão relativamente ao trabalho realizado no Espaço S levou-nos a definir como prioridade o trabalho orientado para os estudantes deslocados, principalmente numa perspetiva preventiva. E por isso nasceu o Dia dos Deslocados, em 2019, durante a Semana de Introdução e que se tem vindo a repetir anualmente. Em 2021, nasceu então o Moving In.
Conhecidas as dificuldades destes estudantes, conhecidas as dificuldades de quem muda de cidade, hábitos, cultura, referências, de país, decidimos a abordagem grupal porque nos permitia chegar a um maior número de estudantes potenciando os recursos do Espaço S.
“Nós, estudantes deslocados, enfrentamos grandes desafios. Mudar da nossa cidade, país, continente de origem, causa grande abalo emocional, temos que nos adaptar a tudo novamente.”*
O grupo funciona como se fosse uma galeria de espelhos, em que cada um se reflete e é refletido pelos demais, resultando num processo de identificação permanente que potencia o crescimento pessoal (Zimerman, 2003). Em grupo, reflete-se sobre vários estados mentais com a riqueza da diversidade e da diferença, da identificação e a empatia, identificando os próprios estados mentais dos estados mentais dos outros (Bateman e Fonagy, 2004).
“Acho que este grupo pode ter um papel determinante na forma como encaramos os desafios que nos são propostos e facilitar a integração que, por vezes, pode ser bastante difícil. As nossas experiências podem trazer reflexões importantes, assim como ouvir os outros pode trazer-nos mais do que imaginamos”.*
Para além da experiência psicoterapêutica e psicoeducativa, pretendemos que o grupo fosse também uma “comunidade”, promovendo a relação destes estudantes “fora do grupo”, aproveitando a “identidade de deslocado” como força e não como fragilidade, potenciando vínculos mais fortes, combatendo as dificuldades de socialização e integração que se verificam tantas vezes.
“O que mais me deixava triste é o sentimento de solidão, de não conhecer ninguém, de ter sempre a mesma rotina porque não conhecia nenhum lugar, e também o facto de não ter muitas pessoas para conversar.”*
O primeiro grupo “Moving In” funcionou de novembro a maio, com sessões quinzenais. Adaptamo-nos aos diferentes horários de dois semestres, passamos pelas épocas de exame. Foi presencial e online. Foi menos do que queríamos que fosse. Foi muito mais do que estávamos à espera.
Este primeiro ano serviu de experiência, reflexão e lançamento de bases sólidas para novos grupos e para a continuidade deste primeiro. A avaliação que se fez, as palavras dos participantes, não deixam dúvidas que este grupo foi importante, que se facilitou a criação de laços entre os participantes e que o psicólogo pode ser “apenas” dinamizador e catalisador das dinâmicas que nascem em cada grupo.
“Acho que, acima de tudo, as pessoas foram o que fez maior diferença. Foi delas que o grupo viveu e todas as conversas que se prolongaram fora da hora do encontro do grupo, os cafés com pessoas que lá conheci, o simples facto de passar a ter pessoas nos corredores com quem podia falar para além da típica conversa de circunstância, tudo isso ajudou e marcou.”*
“Mais importante para mim, foi encontrar pessoas que sentiam o mesmo que eu, e por isso entendiam o que estava sentido.”*
Em 2022/2023 vamos reforçar este trabalho. Vamos iniciar dois grupos: um para continuar o apoio dos estudantes participantes no ano anterior, e outro para chegar aos novos estudantes, de 1º ano que acabam de chegar.
Vamos falar em grupo?
*Mensagens de participantes do Grupo “Moving In” (2021-2022), no âmbito da avaliação realizada.
Rui Martins
(Psicólogo do Espaço S e facilitador do Grupo Moving In)
QUERES FAZER PARTE DO GRUPO “MOVING IN”?
(NOVO GRUPO)
- Início do grupo: 13 de outubro
- Sessões quinzenais | 5.ªs feiras | 18h15 - 20h
- Dinamização: Rui Martins (Psicólogo Espaço S)
- 1.ª fase de inscrições: Até 11 de outubro
NOTA: A tua inscrição no grupo implica comprometimento com o mesmo, mas não significa teres que frequentar todas as sessões. Caso precises de algum esclarecimento adicional, contacta-nos através do email espacos@medicina.ulisboa.pt .
INSCREVE-TE AQUI (n.º limitado de vagas)
