Vacina Pfizer comentada pelos Professores da FMUL
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A notícia tem preenchido todos os jornais e fez disparar a bolsa financeira, a Pfizer garante uma vacina com sucesso de 90%, e até à data sem efeitos secundários naqueles que foram os primeiros 40 mil voluntários testados.

Uma parceria entre a farmaceutica norte-americana e a Biontech alemã que se encontra já na 3ª fase de ensaios clínicos, a fase final em que aumentará o espectro da amostra, “15 mil recebrão a vacina e outros 15 mil um placebo, e depois esperamos para ver se esta população de 30 mil pessoas começa a ter a doença. A expetativa, caso a vacina resulte, é que as pessoas que recebam a doença sejam oriundas do grupo que não recebeu a vacina e que os que receberam a vacina tenham a doença em menor número do que aqueles que não a receberam”,  afirmou Alberto Bourla, Presidente da Pfizer.

A vacina poderá assim entrar no mercado em breve já que a Comissão Europeia anunciou querer comprar 200 milhoes de vacinas, numa 1ª fase e mais 100 milhões na fase seguinte.

Da parte da Pfizer é preciso que consiga provar que pelo menos metade da população tratada apresenta resultados eficazes. Desbloqueado esse passo a Pfizer promete produzir 50 milhões de doses ainda este ano.

 

Miguel Castanho vê a vacina PFizer como um excelente indício

senhor a dar entrevista por zoom

O Professor e Investigador, Miguel Castanho, esteve numa entrevista, via Zoom, na edição da tarde, da SIC Notícias, onde respondeu a várias questões sobre a eficácia e a segurança da vacina anunciada pela farmacêutica Pfizer.

Apesar da taxa de eficácia alegadamente rondar os 90%, Miguel Castanho refere que estes resultados são ainda preliminares. Segundo o especialista, é “na vida real que se confirmam os resultados dos testes”, uma vez que poderão existir diversos fatores que os condicionem. A eficácia da nova vacina pode depender das condições de distribuição e armazenamento, bem como da introdução de algumas diferenças na produção em larga escala. Nas palavras do especialista, as condições da vida real e as condições controladas dos testes variam.

Apesar da cautela, o Professor demonstra agrado com as potencialidades da nova vacina, afirmando mesmo que “decorrida metade do estudo, é um excelente indício”.

Sobre a comparação destes resultados com os da vacina de Oxford, refere que a forma como a primeira (Pfizer) esta a ser conduzida é muito inovadora, podendo abrir precedentes para a introdução de novas vacinas, inclusivamente para outras doenças, e outros fármacos no mercado. Já a título científico, recusa fazer qualquer comparação, pois nenhuma delas foi ainda alvo de escrutínio.

Sobre o tempo necessário para se sentir os efeitos da vacinação, Miguel Castanho demonstra dificuldade em perspetivar, alegando que tudo depende da quantidade de produção e distribuição. Recorda ainda que para causar impacto epidemiológico, tem de haver uma fração mínima da população que esteja vacinada e o fármaco deverá ser distribuído de forma equitativa e justa sobre toda a população mundial.

Saiba mais aqui

 

"No meio do azar, tivemos muita sorte"

Homem em entrevista

Luis Graça, apresentado por Ana Lourenço, com voz otimista perante uma resposta rápida para se alcançar uma vacina, marcava assim presença na RTP3 para esclarecer alguns pontos. O Professor da Faculdade de Medicina e Imunologista do iMM confessou,  “nunca ter estado tão otimista como agora”, e a verdade é que nem sempre foi assim, “esta vacina é baseada em RNA e nunca houve uma vacina assim, feita e testada com sucesso em seres humanos”. Para o Professor a rapidez pode por vezes ser aliada da perfeição, pois  “é possível acelerar os passos mas mantendo os procedimentos que garantem a segurança”. Sobre a discussão sobre a veracidade desta vacina face a outras, o pensamento também está claro para o investigador em Imunologia, “Nós os cientistas queremos ver sempre as coisas publicadas antes de sermos otimistas, mas aqui há uma diferença, apesar de estes dados não terem sido ainda publicados, os resultados da fase 1 e 2 foram publicados e escrutinados online”, o protocolo para estes ensaios clínicos está berto online e pode ser escrutinado”. E continuou, “Quando os estudos são bem feitos, nem o doente sabe se recebeu a vacina, ou o placebo, nem o próprio médico sabe a que doente administrou a vacina ou placebo, assim foi preciso esperar que 94 pessoas desenvolvessem a doença, para perceber se estas fazem parte do grupo que só recebeu placebo”. Os estudos mostram que, de facto, destes 94 voluntários quase todos tinham recebido placebo, logo os 90% de eficácia surgia com base na amostra onde apenas 4 pessoas parecem ter sido vacinadas e desenvolvido a doença.

Mas qual a grande descoberta que veio revolucionar os laboratórios? Se dissermos que trazer o inimigo para o nosso lado é resposta, não estamos a faltar à verdade, como desenvolve Luís Graça,  “esta é uma vacina com anticorpos neutralizantes, elas têm uma grande afinidade ao vírus e impedem que eles se liguem às nossas células”.

Não obstante o otimismo declarado, será, contudo,  “preciso mais tempo de seguimento para verificar a segurança desta vacina, e esta análise será a longo prazo, no entanto o seu modo de ação mostra que a probabilidade de ter efeitos adversos é cada vez mais baixa, dai que o nivel de risco vá diminuindo”. É igualmente importante e como também referiu Joaquim Ferreira a análise da  distribuição das pessoas a quem se administram as vacinas, já que o sucessos nas faixas etárias mais avançadas possa ser mais diminuto.

O intervalo administrado nos testes da Pfizer foi entre os 18 e 55 anos, mas será a vacina eficaz igualmente, quando se alargar o espectro entre os 18 e 85 anos? Sabe-se que os grupos prioritários são aqueles que terão doenças mais graves, como é o caso dos efeitos secundários, bem como todos aqueles que estarão na linha da frente contra a Covid-19, mas há respostas que aguardam caminhos para consolidar alguma euforia geral.

Questionado se tomará a vacina contra a Covid, Luís Graça responde que tal como tomou a vacina da gripe na sua própria Faculdade, também“tomará essa vacina sem preocupação”.

Uma interessante conversa que pode revisitar, aqui!

 

“isto foi quase ficção científica do ponto de vista da velocidade”

homem careca e oculos

Joaquim Ferreira, Professor da Faculdade de Medicina, comentava em direto na SIC “as excelentes notícias para aquilo que é possível fazer em 10 meses de investigação” e por contraponto a tantas outras notícias que dizia surgir como desinformação. Nos cerca de 40 mil voluntários que atualmente contabilizam os que foram alvo de teste, o Professor explica a importância de entender quais se vão infetar, já que em  alguns foram apenas aplicados placebos, ou seja, “uma falsa vacina”. “Apesar de estes serem dados muito preliminares têm uma credibilidade que outros dados divulgados não nos merecem”, reforçou.

Mas responder objetivamente o que significa, em termos de eficácia, resolver algo a 90%, é sempre subjetivo, a explicação é dada pelo Diretor de Farmacologia da Faculdade, “Mesmo das pessoas vacinadas, algumas acabaram por desenvolver doença, e alguns até doença grave, mas diria que este é um número impressionante que nos deixa muito motivados para ver o desenvolvimento dos dados”. Questionado sobre a fiabilidade desses mesmo dados, Joaquim Ferreira admite o sucesso que em apenas 10 meses esta dupla de investigação tenha conseguido mobilizar os cerca de 44 mil voluntários, “eu diria que isto foi quase ficção científica do ponto de vista da velocidade, o que prova que a ciência e a colaboração entre  parceiros faz quase milgares”. Estas pessoas infetaram-se cerca de 5 semanas depois de levarem a vacina e a Agência Americana do Medicamento está disposta a dar uma autorização de emergência para que este medicamento comece a ser comercializado em larga escala, com dados de acompanhamento dos doentes com cerca de 2 meses”. Assumindo que é ainda pouco o tempo de observação e que os dados são “ainda humildes”, há a expectativa que estes sejam consolidados de modo a que gerem mais informação.

Talvez noutra circunstância o Professor não quisesse comentar publicamente a notícia que faz manchetes, como o referiu, já que é pouco costume comentar precocemente resultados muito preliminares, “vive-se, no entant, o uma situação de extrema urgência e ao memso tempo de exceção”. Joaquim Ferreira alerta para o facto de serem ainda dados apenas divulgados em press release, por jornalistas da Pfizer e não dados apresentados em  artigos científicos, “O que estes números sugerem é que nós conseguimos, de facto, prevenir a infeção numa grande percentagem de doentes, em comparação com aqueles que são vacinados com as doses de placebo, mas não sabemos se aqueles doentes vacinados com a verdadeira vacina acabam por desenvolver outra forma de doença grave”.

Questionado sobre possíveis paralelos entre vacinas da gripe e da Covid, a resposta aponta que os caminhos não são semelhantes, pelo menos com o que atualmente se sabe, “a vacina sazonal da gripe tem dois efeitos, previne a infeção e se as pessoas se infetarem previne os efeitos graves da doença, como tal comparar esta vacina com a da Covid não é possível”.

Mas outras questões se levantam para o Professor, “qual a duração do benefício desta imunização, a verdade é que não se sabe quanto tempo durará esta proteção. É ainda importante referir que 50 milhões de vacinas cobrem apenas uma pequena parcela da população, falta ainda perceber quando conseguirá a Pfizer garantir a sua total distribuição”. Estima-se que na melhor das hipóteses chegue a Portugal a vacina, no verão de 2021, mas até lá dá um aviso de responsabilidade às entidades responsáveis, “É importante não esquecer que é preciso manter a prevenção e apertada proteção antes que venham as soluções”. Verificar, por exemplo, se estão as populações mais idosas aptas a reagir à vacina como estes voluntários iniciais,  “Estes são trabalhos de casa das entidades governamentais que têm que ser feito hoje e não amanhã!”

Uma explicação atual e que pode ser revista, aqui!