Prof. Miguel Prudêncio comenta notícia da distribuição da vacina de Oxford nos hospitais britânicos
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homem a ser entrevistado na tv

Miguel Prudêncio, Professor de Microbiologia da FMUL e Investigador Principal no iMM, afirmou, em entrevista à SIC Notícias, que a notícia avançada pela imprensa britânica sobre a disponibilização da vacina (desenvolvida pela Universidade de Oxford em colaboração com o laboratório AstraZeneca) já na próxima semana “não é fidedigna”. Na opinião de Miguel Prudência, a notícia sobre a utilização da vacina de Oxford em contexto hospitalar dentro de poucos dias carece de sustentação, “não devendo, por isso, considerar-se válida”.

Confirmando que não estão a saltar-se etapas no processo normal de desenvolvimento da vacina em causa, que se encontra em ensaios clínicos de fase 3, “o que significa que está naquela que é a ultima etapa antes de uma eventual aprovação, mas ainda não está licenciada para ser utilizada”, Miguel Prudêncio reiterou que no processo de materialização de uma vacina existem “requisitos, que têm de ser cumpridos na íntegra, antes de uma vacina poder ser disponibilizada”.

Em entrevista à SIC Notícias, o Professor e investigador explicou ainda que “o processo é acompanhado do reporte dos resultados que vão sendo obtidos por parte das entidades responsáveis pelos ensaios, e escrutinado pela comunidade científica, de forma a poderem aferir a sua validade e robustez. Simultaneamente, as autoridades regulatórias de cada país têm acesso a esses dados e são elas, em última análise, que dão, ou não, a autorização para que a vacina seja licenciada nesse país”.

Segundo Miguel Prudêncio, os dados de que a comunidade científica dispõe até ao momento permitem afirmar que os ensaios clínicos de fase 3 “poderão estar concluídos até ao final do ano”, ressalvando porém que, “daí até à distribuição da vacina pela população em geral vão passar alguns meses”. O tempo necessário para a análise rigorosa dos resultados dos ensaios clínicos. “Só depois de se concluir sobre a eficácia e segurança da vacina, se pode avançar com um plano de distribuição da mesma pelas populações”, esclareceu.

Apesar do desejo global por uma solução que o Mundo reclama num eco desesperado, Miguel Prudêncio realçou que o processo tem vindo a ser agilizado “o máximo possível”, através da aceleração da revisão dos dados e da partilha dos resultados dos ensaios clínicos em tempo real, “mas sem nunca queimar etapas”, condição fulcral para o sucesso da vacina, conforme adiantou em entrevista, que pode ouvir na íntegra aqui.

Sobre outras terapêuticas em resposta à doença de covid-19, Miguel Prudêncio afirmou que “estão a ser testados um conjunto de fármacos já existentes para se tentar perceber se estariam em condições de ser reposicionados para o tratamento da covid-19, e sei que estão a ser testadas terapias inovadoras”, terapias essas que, à semelhança da vacina, obrigam ao cumprimento criterioso de várias etapas, essenciais à validação da eficácia e segurança das mesmas.