A equipa do Laboratório de Nutrição (LN) tem vindo, desde há alguns anos, a tentar compreender o papel da nutrição no decurso da doença reumática, em particular na Artrite Reumatóide (AR). Juntamente com a equipa do Serviço de Reumatologia do Centro Hospitalar Lisboa Norte, liderada pelo Professor Doutor João Eurico da Fonseca, foi já possível conhecer os hábitos alimentares e o estado nutricional destes doentes e irá iniciar-se a fase de compreender qual o impacto de uma intervenção nutricional com perfil anti-inflamatório (assente no padrão alimentar mediterrânico complementado com elementos com características pré e probióticas) na modificação da microbiota intestinal e de que forma esta pode influenciar a atividade da doença. Foi com satisfação que vimos este projeto “The triad of nutrition, intestinal microbiota and Rheumatoid Arthritis - An exploratory pilot study” a ser reconhecido pela Fundação para Ciência e Tecnologia, no âmbito dos projetos IC&DT, e foi igualmente gratificante saber que este mesmo estudo e a sua equipa irá igualmente contribuir para um importante projeto europeu, o ENDOTARGET “Systemic Endotoxemia as the driver of chronic inflammation: Biomarkers and novel therapeutic targets for Arthritis”, que entre muitos outros objetivos, pretende conhecer também o papel da dieta, microbiota e permeabilidade intestinal no comportamento da AR.
Torna-se assim claro o interesse crescente por parte da comunidade científica nesta temática, que acompanha agora o já conhecido interesse da população com AR no que diz respeito à influência da alimentação na sintomatologia. As questões relacionadas com este tema são frequentemente colocadas na prática clínica, contudo muitas permanecem sem resposta. Acreditamos que são necessários estudos de intervenção, metodologicamente bem desenhados, com equipas multidisciplinares que envolvam nutricionistas, reumatologistas, imunologistas e biólogos que, de forma sinérgica, tentem comprovar o efeito da dieta na microbiota, função intestinal, e consequentemente na atividade da doença, reconhecendo-a assim como potencial terapêutica adjuvante nos doentes com AR. O presente estudo piloto, pretende ser isso mesmo e contribuir para preencher a lacuna existente sobre o conhecimento nutricional e atividade da doença na AR.
É sabido hoje que a AR é uma doença crónica imunomediada caracterizada por inflamação sinovial, levando a uma destruição progressiva da cartilagem e osso, com impacto na capacidade funcional e qualidade de vida dos doentes. Estudos têm também demonstrado que os doentes com AR apresentam alterações significativas na microbiota intestinal em comparação com indivíduos saudáveis. Sabemos também que a disbiose intestinal influência a integridade e função da barreira intestinal e a imunidade da mucosa. A dieta é reconhecida como o principal fator ambiental com impacto na composição da microbiota, em que a produção de uma variedade de metabolitos produzidos por micróbios intestinais parece exercer efeitos imunomoduladores locais e sistémicos. O possível mecanismo através do qual a intervenção nutricional parece melhorar a evolução clínica da AR encontra-se relacionado com a promoção de uma microbiota simbiótica. A correção da disbiose intestinal induz uma melhoria da função e barreira intestinal, levando a uma diminuição da permeabilidade, influenciando os biomarcadores inflamatórios e de função gastrointestinal com consequente impacto na atividade da doença. Este conceito tem particular interesse em doentes com AR com baixa atividade da doença onde medidas terapêuticas adicionais não são geralmente implementadas. Estudos que pretendem investigar os efeitos de nutrientes na composição da microbiota intestinal e a sua associação com a atividade da doença em doentes com AR, têm apontado potenciais benefícios dos nutrientes funcionais como probióticos ou ácidos gordos polinsaturados, no entanto, não existe evidência robusta que permita a sua recomendação específica na prática clínica. Ao invés disso, tem vindo a ser cada vez mais abordada a influência de padrões alimentares em detrimento de nutrientes de forma isolada, como é o caso da Dieta Mediterrânica. O principal objetivo deste estudo exploratório é testar se a intervenção nutricional pode ter impacto na microbiota intestinal e consequentemente na atividade desta doença.
Vá acompanhando e estando atento. A equipa de investigação está expectante e irá partilhando os seus resultados para que todos possam absorver da evidência que será produzida!
Catarina Sousa Guerreiro