A FMUL Talk, do passado dia 8 de janeiro, foi organizada pelo Prof. Mário Miguel Rosa, docente em farmacologia clínica e neurologia da FMUL, e teve o propósito de despertar a comunidade científica para o uso de canabinoides (substâncias naturais e ou artificiais provenientes da planta da canábis) para fins medicinais.
Antes de detalhar as especificidades da utilização dos canabinoides, o Prof. Mário Miguel Rosa começou por distinguir os conceitos de medicamento e não medicamento. De acordo com o Professor, “Qualquer substância para ser considerada medicamento, tem primeiro de tudo de possuir uma autorização de comercialização”. Em Portugal, cabe ao INFARMED, enquanto Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde, a responsabilidade de autorizar, regular e comercializar o uso de canabinoides. Depois, é ainda necessário, que através de ensaios clínicos, haja evidência clara de que o produto/substância demonstre um risco-benefício positivo. Neste campo, durante a Talk, foram mencionados alguns estudos, razoavelmente robustos, que comprovam o forte nível de evidência sobre a eficácia da canábis no tratamento da dor crónica nos adultos e controlo da ansiedade.
Em Portugal, o primeiro medicamento da canábis para fins terapêuticos é o Sativex, que é comummente indicado para o tratamento da espasticidade (alteração do tónus muscular) causada pela esclerose múltipla. Apesar deste medicamento apresentar maior eficácia no tratamento da espasticidade, quando comparado com outros medicamentos para o mesmo efeito, não tem grande expressão de vendas. As causas poderão estar relacionadas com o preço praticado, bem como com o receio generalizado dos efeitos psicotrópicos, sentido quer por doentes, quer por médicos.
Nesta Talk ficámos a saber ainda, que, autorizado pelo INFARMED, passará a existir nas farmácias portuguesas um outro canabinoide, o Epidyolex. O novo medicamento destina-se ao alivio dos sintomas causados pelos Síndromes de Dravet e Lennox-Gastout (epilepsias graves em crianças), náuseas e vómitos resultantes de quimioterapia, estimulação do apetite nos doentes oncológicos e HIVs positivos, dor crónica, Síndrome de Gilles de la Tourette e glaucoma resistente à terapêutica.
A utilização da planta da canábis para fins medicinais promete ser eficaz no alívio de inúmeros sintomas, contudo, o ainda ceticismo dos médicos e entidades reguladoras de medicamentos faz com que estas substâncias sejam alvo de um controlo bastante apertado, uma vez que é difícil desassocia-las da sua potencialidade aditiva. Motivo mais do que suficiente para o Prof. Mário Miguel Rosa defender que a primeira coisa a ser feita pelos profissionais de Saúde, aquando da disponibilização deste medicamento nas farmácias, é frequentar ações de formação, promovidas pela Ordem dos Médicos, Direção Geral de Saúde e INFARMED.
Após a apresentação dos benefícios e contraindicações do uso dos canabinoides, foi a vez de a discussão ganhar lugar na Sala Paul Janssen.
”Como podem os canabinoides ser medicamento?” foi a 3ª FMUL Talk e contou com 24 participantes.
Isabel Varela
Equipa Editorial
