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Na nossa Faculdade, quando o estudo e a arte se misturam o resultado é: Sarau Cultural
O que têm em comum um talhante adúltero, um muçulmano guloso, uma instrutora de Yoga desequilibrada, duas irmãs invejosas, três senhoras avarentas, uma mulher narcisista, dois casais preguiçosos e o tio Cornelius? – São todos personagens da peça de teatro do XXVII Sarau Cultural Ad Æternum, um espetáculo criado pelos nossos estudantes de medicina, no qual caracterizaram os sete pecados capitais.
Tendo a obra “O Auto da Barca do Inferno” de Gil Vicente como fonte de inspiração, todas estas personagens residentes num bairro típico lisboeta, recebem um convite misterioso para jantar em casa do desconhecido milionário TC. – Ignorando todas elas que se tratava de um presente envenenado com o único objetivo de expiar os seus pecados.
O Sarau que se realizou no passado dia 28 de março, na Aula Magna da Reitoria da Universidade de Lisboa, contou com 1600 espectadores, 250 artistas em palco e conseguiu angariar cerca de 2500€, com a venda de bilhetes, que reverteu a favor da Associação ACREDITAR - Associação de Pais e Amigos de Crianças com Cancro.
Conta quem lá esteve, que a comédia escrita e representada pelos alunos da Faculdade de Medicina foi um sucesso, conseguindo arrancar gargalhadas ao público presente. Falámos com dois estudantes, a Ana David e o João Martins, ambos da comissão organizadora do sarau para compreendermos de que forma é que os nossos estudantes conseguem arranjar tempo, a par com as suas responsabilidades académicas, para organizar um evento desta dimensão.
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Em primeiro lugar, permitam-me perguntar-vos como é que dois alunos do curso de medicina terminam na organização de um evento cultural desta dimensão?
Ana – O meu envolvimento no sarau aconteceu no meu 1º ano de faculdade e confesso que entrei sem saber muito bem naquilo que me estava a meter (Risos). Na verdade, no meu 1º ano, entrei para o grupo de danças de salão, que existia na Faculdade na altura e, por convite, o grupo de dança acabou por participar no sarau. No meu 3º ano, ao inscrever-me para a comissão organizadora, tive logo a oportunidade de colaborar com o departamento de cenografia e adereços. Este ano, fui convidada para apoiar a coordenação geral do projeto. É muito entusiasmante ver os meus colegas tão unidos por um projeto e tão motivados em mostrar que os alunos de medicina não são apenas isso, são também pessoas versáteis que conseguem encaixar outras responsabilidades que não apenas as exigências do curso.
João – Eu ao contrário da Ana e de outros colegas não sou nada “artístico” (Risos). Nunca dancei, nunca entrei numa peça de teatro, nem tão pouco passei pelo conservatório. Nos meus dois primeiros anos de faculdade, assisti sempre aos espetáculos e enquanto espectador, recordo-me de ter ficado deslumbrado com o ambiente mágico vivido pelos meus colegas participantes. Acho que foi isso que me despertou a vontade de dar o meu contributo e no 3º ano, decidi candidatar-me à comissão organizadora para a parte logística. É muito gratificante ver a Aula Magna cheia de alunos, familiares e amigos. O sarau é para muitos dos meus colegas a oportunidade de expressarem a sua veia artística, que muitas vezes se encontra remetida para 2º ou 3º plano por causa do curso.
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Ana, depois de teres experimentado o palco e o backstage, onde é que te sentes mais confortável?
Ana- São duas experiências muito diferentes. Sinto um pouco a falta do palco, mas por outro lado, é igualmente extraordinário estar no backstage e conseguir embelezar e dar vida à história e às personagens. A parte chata são as burocracias e algumas questões logísticas, mas necessárias, pois sem elas o projeto não avança.
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São também os alunos que escrevem o guião?
João – Dentro da comissão organizadora, nós temos um grupo de trabalho que escreve o guião e um outro que faz a revisão com o objetivo de melhorar alguns aspetos do texto. Além destes dois grupos de trabalho, este ano contámos ainda com o apoio de uma equipa de cenografia e figurinos que nos ajudaram na construção do cenário, que por sinal, foi muito exigente nesta edição, dada a sua dimensão.
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Quantos artistas estiveram em palco? E quantos elementos fazem parte da comissão organizadora?
João- 250 artistas. A Comissão é constituída por 16 estudantes.
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Para levar um espetáculo como este para o palco é necessário uma grande capacidade de organização, principalmente, quando envolve a participação de 250 artistas. Como é que conseguiram gerir todas estas agendas?
Ana- Foi um pouco complicado coordenar as agendas dos artistas. É-lhes exigido um grande grau de compromisso. Por exemplo, os ensaios tiveram de ser divididos por grupos e só mesmo na semana que antecedeu o espetáculo é que conseguimos agendar ensaios gerais com todos os artistas. É complicado sim, mas valeu a pena.
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Relativamente à história da peça, reconheço aqui algumas semelhanças com o “Auto da Barca do Inferno” de Gil Vicente. Foi esta a obra que vos serviu de inspiração?
Ana- Sim, é verdade. Nós tentamos sempre criar uma história original, mas temos de ter algum suporte. (Risos) Apesar de termos bons estudantes escritores é sempre complicado criar uma peça completamente original no pouco tempo que temos. Ao estilo de Gil Vicente, os nossos guionistas escreveram uma sátira em torno dos sete pecados capitais.
João – De facto, este ano o nosso objetivo foi mesmo quebrar a tradição do sarau. Nas últimas edições, foram sempre representados romances e dramas muito intensos e este ano quisemos fazer algo diferente, mais leve e divertido. Penso que tenhamos sido inovadores nesse aspeto.
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E quando é que a comissão organizadora decidiu associar ao espetáculo um cariz solidário?
João – Penso que a primeira vez tenha sido mesmo em 2017, com a instituição Nariz Vermelho, em que se podia comprar narizes no intervalo e assim, ajudar a instituição. Tanto quanto sei, antigamente, não se vendia bilhetes, pedia-se aos espectadores apenas um pequeno contributo, o que infelizmente era insuficiente para apoiar alguma causa.
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Qual é a razão para terem escolhido a Associação ACREDITAR?
Ana - Durante o processo de escolha de uma associação para apoiar, costumamos dar preferência a alguma que esteja intimamente ligada à área da saúde, porque é o que nos toca mais enquanto estudantes de medicina. Por outro lado, averiguamos sempre se existe alguma ligação ou interesse artístico. A ACREDITAR reúne os dois requisitos e cremos que o trabalho que desenvolve na sociedade é muito importante: apoiar crianças com cancro e as suas famílias, ao providenciar alojamentos para as famílias durante os tratamentos, apoios financeiros e sociais. Por tudo isto, chegámos à conclusão que seria a Instituição certa para aplicar o dinheiro ganho com a venda dos bilhetes.
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Contaremos com a vossa colaboração para o próximo ano?
João – No próximo ano estaremos reformados… (Risos)
Ana – Temos de passar o testemunho!
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Isabel C. Varela
Equipa Editorial