Mais e Melhor
O Edifício Egas Moniz e as novas exigências para a Eficiência Energética
O tema Eficiência Energética tem dado origem a muitos estudos, seminários, cursos, relatórios, artigos, mas tem sobretudo suscitado curiosidade a todos aqueles que se preocupam com as questões ambientais, procurando aliar o progresso com uma eficiente utilização dos recursos disponíveis.
Se tivermos em conta que a maioria de nós trabalha em edifícios cujo projecto e respectiva construção não foram preparados para serem energeticamente eficientes, ou pelo menos para alcançarem níveis de consumo energético muito baixos, então o trabalho e o esforço para reduzir a factura energética fica ainda muito mais difícil.
Os edifícios em geral consomem 40% de toda a energia gasta e são responsáveis por 21% das emissões de gases que provocam efeito de estufa a nível mundial, que por sua vez vão influenciar as alterações climáticas. O aumento do preço da energia, a consciencialização para as preocupações ambientais e a nova legislação requerem a adopção de novas estratégias com vista à redução sustentada dos consumos, emissões nocivas e custos inerentes.
Os factores de eficiência energética em edifícios variam de acordo com a geografia, clima, tipo de construção e localização. A meta será sempre a concepção de edifícios energeticamente eficientes, passando por soluções de engenharia inovadoras e sistemas de controlo e monitorização. No entanto, a legislação abrange tanto os novos edifícios em construção, como os já existentes. Está actualmente em vigor um conjunto de diplomas relacionados com a automação, gestão de energia e qualidade do ar interior, que resultaram da transposição da directiva europeia (EPDB) 2002/91/CE de 16 de Dezembro de 2002. Os diplomas nacionais criados pela transposição são:
- O Decreto-Lei nº 78/2006 de 4 de Abril, aprova o Sistema Nacional de Certificação Energética e da Qualidade do Ar interior nos Edifícios;
- O Decreto-Lei nº 79/2006 de 4 de Abril, aprova o Regulamento dos Sistemas Energéticos e de Climatização dos Edifícios;
- O Decreto-Lei nº 80/2006 de 4 de Abril, aprova o Regulamento das Características de comportamento Térmico dos Edifícios.
É vital que a eficiência energética seja transversal a todos os níveis e não seja restrita a propriedades mais sofisticadas. Estamos perante novas imposições e orientações a que necessitamos dar resposta, quer através da implementação de um sistema de gestão centralizado das instalações, quer através de melhores soluções na escolha de equipamentos, quer através de uma sensibilização de todos os colaboradores e utilizadores dos edifícios com vista a uma maior e melhor racionalização dos recursos.
O Edifício Egas Moniz (EEM) da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa (FMUL) está em funcionamento desde Abril de 2004. Se à data do projecto da obra, bem como nos anos da sua construção, não existia a obrigatoriedade do cumprimento de legislação na área da eficiência energética e qualidade do ar interior, o mesmo não se verifica no momento actual. Apresentamos de seguida algumas considerações sobre a instalação do ponto de vista energético.
Evolução do Consumo de Energia no EEM (2006 a 2008)
Tal como podemos verificar através do gráfico apresentado, o consumo de energia eléctrica aumentou no ano de 2008 comparativamente ao ano anterior, aumento esse que se deve sobretudo ao número crescente de colaboradores no Edifício, devido à chegada de novas unidades de investigação acolhidas pelo Instituto de Medicina Molecular e FMUL, o que levou a um aumento crescente do número de equipamentos instalados e maiores necessidades de climatização e ventilação.
Sistema de Gestão Técnica
O EEM dispõe de um sistema de Gestão Técnica Centralizada que permite regular parte do sistema de iluminação e climatização consoante as condições de iluminação ao longo do dia, período diurno e nocturno, de acordo com as necessidades de conforto térmico durante as diferentes estações do ano. A FMUL tem como objectivo melhorar as potencialidades deste sistema, na medida em que este equipamento assume um papel determinante para a gestão eficiente do consumo energético. Com o objectivo de reduzir os consumos de energia, o sistema foi recentemente melhorado com a instalação de analisadores de rede que permitirão o registo, a análise e a respectiva monitorização dos consumos energéticos do Edifício.
Climatização e Ventilação
A maioria das instalações está equipada com um sistema centralizado de climatização, disponibilizando equipamentos individuais, fains coils, com regulação manual, devendo ser ligado/desligado e regulado pelos utilizadores. Apenas os espaços comuns, Grande Auditório e anfiteatros, são regulados através de sistema centralizado de gestão. Os sistemas de aquecimento, arrefecimento e ventilação (renovação do ar) são os principais responsáveis pelo consumo de energia em edifícios, consumo esse associado às exigências de conforto térmico e boas condições de trabalho para as diferentes actividades.
Iluminação
A nível da iluminação interior, uma das principais medidas já adoptadas foi a utilização de lâmpadas fluorescentes e em todos os espaços comuns a utilização de lâmpadas fluorescentes compactas e tubulares, ou seja, lâmpadas de baixo consumo, bem como a substituição de balastros ineficientes por balastros electrónicos. Foram também instalados sensores de presença nas casas de banho e corredores.
O EEM dispõe de película reflectora nas janelas com maior exposição solar, com vista a reduzir a carga térmica do edifício e deste modo diminuir o consumo de energia do sistema de climatização. Em algumas janelas, as mais expostas à exposição solar, foram ainda instaladas cortinas blackouts brancas. Estas últimas, juntamente com a película, têm por função bloquear os raios ultravioletas prejudiciais e o calor desconfortável do sol, com vista a melhorar a temperatura ambiente.
As cores claras que revestem as paredes exteriores do Edifício representam um baixo poder de absorção do calor.
Estes são alguns exemplos de medidas com vista a uma utilização mais eficiente da energia, pois nem sempre é necessário realizar um investimento muito elevado. São pequenos gestos como desligar da corrente todos os equipamentos que não necessitam estar ligados, evitando que se mantenham na posição de stand-by ou em off-power, privilegiar a luz natural em detrimento da luz artificial, sempre que a actividade o permita, abrir as janelas pela manhã e fechá-las nas horas de maior calor no verão, verificar sempre se as portas de arcas frigorificas ficam correctamente fechadas, apagar as luzes quando abandonar uma sala.
Todos estes pequenos gestos podem parecer insignificantes mas são medidas ao alcance de todos e que no conjunto de uma população podem marcar a diferença. Não basta encontrarmos medidas tecnologicamente avançadas ou introduzirmos novos sistemas e equipamentos se não houver uma mudança de comportamentos, com vista a uma racionalização de recursos e melhor aproveitamento das condições existentes, ainda que nem sempre sejam as melhores.
A certificação energética é já uma realidade obrigatória para todos os edifícios, mas cuja verdadeira aplicação só será possível de alcançar se conseguirmos alterar comportamentos e hábitos do nosso quotidiano, seja no trabalho, em casa ou outros ambientes. Certamente não existem fórmulas mágicas para conseguirmos num curto período de tempo diminuir drasticamente o consumo e a dependência da energia eléctrica sem diminuir os padrões de conforto e exigência a que estamos habituados, contudo, a mudança aproxima-se.
Se pensa que ao ser apenas um utilizador do Edifício onde trabalha, implica não ter de pagar a factura energética ao final de cada mês, engana-se, pois as emissões produzidas pelos combustíveis fósseis usados para satisfazer as crescentes necessidades energéticas de cada edifício a nível global estão a provocar alterações climáticas perigosas para o planeta. As consequências do aquecimento global são assustadoras e podem tornar-se catastróficas.
Se tivermos em conta todas as mudanças que estão a decorrer ao nível da Administração Pública em Portugal, verificamos que a questão da eficiência não se restringe apenas aos consumos energéticos, cada vez mais a eficiência aparece relacionada com objectivos estratégicos para a mudança, como é a eficiência no processo aquisitivo de bens e serviços públicos, a eficiência operacional, a eficiência na gestão de informação, levando assim a uma necessidade cada vez maior de acrescentar valor ao Serviço Público, promovendo a mudança de valores e comportamentos.
Um Edifício tem um longo ciclo de vida, logo o seu efeito sobre o ambiente é um longo e contínuo problema a considerar. (ONG, China)
Bibliografia:
A Utilização Racional de Energia nos Edifícios Públicos, Maio 2008,Guia Informativo EnerBuilding.eu, cit. In ADENE e DECO.
Eficiência Energética em Edifícios, Realidades Empresariais e Oportunidades (2009). Relatório Síntese BCSD Portugal
Márcia Martins Vila
Unidade de Gestão Edifício Egas Moniz
47041
mvila@fm.ul.pt
Se tivermos em conta que a maioria de nós trabalha em edifícios cujo projecto e respectiva construção não foram preparados para serem energeticamente eficientes, ou pelo menos para alcançarem níveis de consumo energético muito baixos, então o trabalho e o esforço para reduzir a factura energética fica ainda muito mais difícil.
Os edifícios em geral consomem 40% de toda a energia gasta e são responsáveis por 21% das emissões de gases que provocam efeito de estufa a nível mundial, que por sua vez vão influenciar as alterações climáticas. O aumento do preço da energia, a consciencialização para as preocupações ambientais e a nova legislação requerem a adopção de novas estratégias com vista à redução sustentada dos consumos, emissões nocivas e custos inerentes.
Os factores de eficiência energética em edifícios variam de acordo com a geografia, clima, tipo de construção e localização. A meta será sempre a concepção de edifícios energeticamente eficientes, passando por soluções de engenharia inovadoras e sistemas de controlo e monitorização. No entanto, a legislação abrange tanto os novos edifícios em construção, como os já existentes. Está actualmente em vigor um conjunto de diplomas relacionados com a automação, gestão de energia e qualidade do ar interior, que resultaram da transposição da directiva europeia (EPDB) 2002/91/CE de 16 de Dezembro de 2002. Os diplomas nacionais criados pela transposição são:
- O Decreto-Lei nº 78/2006 de 4 de Abril, aprova o Sistema Nacional de Certificação Energética e da Qualidade do Ar interior nos Edifícios;
- O Decreto-Lei nº 79/2006 de 4 de Abril, aprova o Regulamento dos Sistemas Energéticos e de Climatização dos Edifícios;
- O Decreto-Lei nº 80/2006 de 4 de Abril, aprova o Regulamento das Características de comportamento Térmico dos Edifícios.
É vital que a eficiência energética seja transversal a todos os níveis e não seja restrita a propriedades mais sofisticadas. Estamos perante novas imposições e orientações a que necessitamos dar resposta, quer através da implementação de um sistema de gestão centralizado das instalações, quer através de melhores soluções na escolha de equipamentos, quer através de uma sensibilização de todos os colaboradores e utilizadores dos edifícios com vista a uma maior e melhor racionalização dos recursos.
O Edifício Egas Moniz (EEM) da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa (FMUL) está em funcionamento desde Abril de 2004. Se à data do projecto da obra, bem como nos anos da sua construção, não existia a obrigatoriedade do cumprimento de legislação na área da eficiência energética e qualidade do ar interior, o mesmo não se verifica no momento actual. Apresentamos de seguida algumas considerações sobre a instalação do ponto de vista energético.
Evolução do Consumo de Energia no EEM (2006 a 2008)
Tal como podemos verificar através do gráfico apresentado, o consumo de energia eléctrica aumentou no ano de 2008 comparativamente ao ano anterior, aumento esse que se deve sobretudo ao número crescente de colaboradores no Edifício, devido à chegada de novas unidades de investigação acolhidas pelo Instituto de Medicina Molecular e FMUL, o que levou a um aumento crescente do número de equipamentos instalados e maiores necessidades de climatização e ventilação.
Sistema de Gestão Técnica
O EEM dispõe de um sistema de Gestão Técnica Centralizada que permite regular parte do sistema de iluminação e climatização consoante as condições de iluminação ao longo do dia, período diurno e nocturno, de acordo com as necessidades de conforto térmico durante as diferentes estações do ano. A FMUL tem como objectivo melhorar as potencialidades deste sistema, na medida em que este equipamento assume um papel determinante para a gestão eficiente do consumo energético. Com o objectivo de reduzir os consumos de energia, o sistema foi recentemente melhorado com a instalação de analisadores de rede que permitirão o registo, a análise e a respectiva monitorização dos consumos energéticos do Edifício.
Climatização e Ventilação
A maioria das instalações está equipada com um sistema centralizado de climatização, disponibilizando equipamentos individuais, fains coils, com regulação manual, devendo ser ligado/desligado e regulado pelos utilizadores. Apenas os espaços comuns, Grande Auditório e anfiteatros, são regulados através de sistema centralizado de gestão. Os sistemas de aquecimento, arrefecimento e ventilação (renovação do ar) são os principais responsáveis pelo consumo de energia em edifícios, consumo esse associado às exigências de conforto térmico e boas condições de trabalho para as diferentes actividades.
Iluminação
A nível da iluminação interior, uma das principais medidas já adoptadas foi a utilização de lâmpadas fluorescentes e em todos os espaços comuns a utilização de lâmpadas fluorescentes compactas e tubulares, ou seja, lâmpadas de baixo consumo, bem como a substituição de balastros ineficientes por balastros electrónicos. Foram também instalados sensores de presença nas casas de banho e corredores.
O EEM dispõe de película reflectora nas janelas com maior exposição solar, com vista a reduzir a carga térmica do edifício e deste modo diminuir o consumo de energia do sistema de climatização. Em algumas janelas, as mais expostas à exposição solar, foram ainda instaladas cortinas blackouts brancas. Estas últimas, juntamente com a película, têm por função bloquear os raios ultravioletas prejudiciais e o calor desconfortável do sol, com vista a melhorar a temperatura ambiente.
As cores claras que revestem as paredes exteriores do Edifício representam um baixo poder de absorção do calor.
Estes são alguns exemplos de medidas com vista a uma utilização mais eficiente da energia, pois nem sempre é necessário realizar um investimento muito elevado. São pequenos gestos como desligar da corrente todos os equipamentos que não necessitam estar ligados, evitando que se mantenham na posição de stand-by ou em off-power, privilegiar a luz natural em detrimento da luz artificial, sempre que a actividade o permita, abrir as janelas pela manhã e fechá-las nas horas de maior calor no verão, verificar sempre se as portas de arcas frigorificas ficam correctamente fechadas, apagar as luzes quando abandonar uma sala.
Todos estes pequenos gestos podem parecer insignificantes mas são medidas ao alcance de todos e que no conjunto de uma população podem marcar a diferença. Não basta encontrarmos medidas tecnologicamente avançadas ou introduzirmos novos sistemas e equipamentos se não houver uma mudança de comportamentos, com vista a uma racionalização de recursos e melhor aproveitamento das condições existentes, ainda que nem sempre sejam as melhores.
A certificação energética é já uma realidade obrigatória para todos os edifícios, mas cuja verdadeira aplicação só será possível de alcançar se conseguirmos alterar comportamentos e hábitos do nosso quotidiano, seja no trabalho, em casa ou outros ambientes. Certamente não existem fórmulas mágicas para conseguirmos num curto período de tempo diminuir drasticamente o consumo e a dependência da energia eléctrica sem diminuir os padrões de conforto e exigência a que estamos habituados, contudo, a mudança aproxima-se.
Se pensa que ao ser apenas um utilizador do Edifício onde trabalha, implica não ter de pagar a factura energética ao final de cada mês, engana-se, pois as emissões produzidas pelos combustíveis fósseis usados para satisfazer as crescentes necessidades energéticas de cada edifício a nível global estão a provocar alterações climáticas perigosas para o planeta. As consequências do aquecimento global são assustadoras e podem tornar-se catastróficas.
Se tivermos em conta todas as mudanças que estão a decorrer ao nível da Administração Pública em Portugal, verificamos que a questão da eficiência não se restringe apenas aos consumos energéticos, cada vez mais a eficiência aparece relacionada com objectivos estratégicos para a mudança, como é a eficiência no processo aquisitivo de bens e serviços públicos, a eficiência operacional, a eficiência na gestão de informação, levando assim a uma necessidade cada vez maior de acrescentar valor ao Serviço Público, promovendo a mudança de valores e comportamentos.
Um Edifício tem um longo ciclo de vida, logo o seu efeito sobre o ambiente é um longo e contínuo problema a considerar. (ONG, China)
Bibliografia:
A Utilização Racional de Energia nos Edifícios Públicos, Maio 2008,Guia Informativo EnerBuilding.eu, cit. In ADENE e DECO.
Eficiência Energética em Edifícios, Realidades Empresariais e Oportunidades (2009). Relatório Síntese BCSD Portugal
Márcia Martins Vila
Unidade de Gestão Edifício Egas Moniz
47041
mvila@fm.ul.pt