Luís Costa é director do Serviço de Oncologia do Hospital de Santa Maria, director da Unidade de Investigação Clínica Aplicada do IMM (UIAOC) e também Professor na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa. Criou a série de seminários Oncology Series, que divulga temas científicos e clínicos relevantes na área do cancro. Por ela já passaram vários especialistas internacionais falando de diferentes temas oncológicos. A próxima é dedicada ao cancro do rim e realiza-se no dia 5 de Maio, no Grande Auditório do Edifício Egas Moniz.
Com que objectivo surgiram as Oncology Series e a quem são dirigidas?
Prof. Luís Costa: As Oncology Series resultam da vontade que o Serviço de Oncologia e a UIAOC têm de promover a divulgação de temas clínicos e científicos relevantes na área do cancro, dirigidos a uma audiência mista de clínicos, investigadores básicos, farmacêuticos, entre outros.
Os convidados são de reputação internacional e com capacidade para falar a uma audiência que perspectiva o mesmo assunto por ângulos diferentes.
Habitualmente, cada Oncology Series tem um palestrante, mas temos ocasionalmente Oncology Series temáticas e multidisciplinares, isto é, que envolvem vários especialistas e investigadores no tema.
Quais os temas oncológicos que já foram tratados nestes seminários por especialistas internacionais?
Prof. Luís Costa: Cancro da mama; Doença micrometastática; Sarcomas; Novidades no tratamento de metástases ósseas; Cancro do Cólon e Recto. Iremos, ainda este ano, ter mais duas Oncology Series: uma sobre cancro do rim e outra sobre cancro da mama triplo negativo (esta última será um sessão temática com 3 conferencistas).
Qual o balanço que faz da investigação em oncologia em Portugal e da sua ligação à prática clínica?
Prof. Luís Costa: Julgo que a investigação básica em oncologia tem avançado muito nos últimos 5 anos, mas a investigação clínica e a investigação de translação precisa de um impulso forte. Na investigação clínica temos de distinguir entre a que corresponde a estudos clínicos de intervenção patrocinados pela Indústria Farmacêutica e a investigação autóctone. A primeira tem uma presença razoável em Portugal mas corre sérios riscos de diminuir face à ausência de estruturas profissionais para o efeito nos grandes hospitais. A investigação promovida pelos centros clínicos portugueses é muito escassa e muito pouco apoiada. Poderia ser mais relevante e ser uma fonte importante de investimento em Portugal, à semelhança do que acontece com países com uma dimensão populacional semelhante à nossa (é o caso da Áustria). Temos problemas culturais e organizacionais importantes neste tipo de investigação. A investigação de translação pode vir a ser relevante se conseguirmos desenvolver a interactividade necessária entre clínicos e cientistas. Estamos a dar os passos importantes nesta área e estamos entusiasmados.
Quais são os principais desafios que a investigação em oncologia enfrenta neste momento?
Prof. Luís Costa: Ausência de uma visão estratégica, por parte de algumas estruturas dirigentes locais, sobre a investigação como uma fonte importante de investimento para a instituição e para o País.
Necessitamos de criar médicos cientistas e cientistas interessados nos problemas médicos. Este trabalho começa na escola universitária. Estamos a dar o nosso contributo com a Oncobiologia que é dada no 3 º ano do mestrado integrado de medicina.
Precisamos de alargar horizontes no que respeita à colaboração entre grupos em Portugal.
Temos de ser reconhecidos internacionalmente num tema, numa área, que justifique sermos considerados um parceiro útil. Temos, portanto, de saber definir prioridades.
O Prof. Luís Costa é director do grupo de Investigação em Oncologia Clínica Aplicada do IMM. Quais são os principais objectivos de estudo desta Unidade?
Prof. Luís Costa: A UIOC tem como principal objectivo fazer investigação de translação na área da metastização. O nosso primeiro tema é a metastização óssea mas temos também projectos em que estudamos assinaturas moleculares em padrões de metastização associados a cancro do cólon e recto.
Todos os nossos projectos relevantes têm obrigatoriamente um componente clínico (estudos de tumores em tecido humano, avaliação da evolução clínica dos doentes).
Temos projectos apoiados pela FCT e temos também projectos que resultam da interacção com empresas sediadas nos EUA e na Europa.
Como professor da FMUL, médico do HSM e director de um grupo de investigação no IMM, como vê a criação do Centro Académico de Medicina de Lisboa (CAML)?
Prof. Luís Costa: O CAML é uma necessidade para conseguir uma boa articulação de serviços e missões das três instituições. O nosso caso, trata-se de um pequeno exemplo, é uma realidade já existente, uma vez que integra a actividade do serviço de oncologia com a UIOC e com a Oncobiologia. Precisamos, no entanto, de ser uma peça orgânica funcional numa entidade que seja juridicamente existente.
A próxima sessão das Oncology Series, no dia 5 de Maio, será dedicada ao carcinoma das células renais, com o médico e investigador Robert J. Mozer, do Memorial Sloan-Kettering Cancer Center, USA. O que espera desta sessão?
Prof. Luís Costa: O Dr. Robert Motzer é o nome mais proeminente da investigação em cancro do rim e será a primeira vez que vem a Portugal. O cancro do rim é um dos melhores exemplos do que pode representar o contributo clínico da investigação em medicina molecular.
Será um momento único para os médicos e investigadores no HSM e no IMM e será também uma oportunidade extraordinária de ensino para os nossos alunos, uma vez que o Dr. Motzer fará, para além da Oncology Series, uma conferência dedicada aos alunos da Oncobiologia e à comemoração dos 100 anos da Universidade de Lisboa.
Gabinete de Comunicação IMM