Há trinta anos fiz uma comunicação em Cascais, juntamente com Margaret Mahler, Erik Erikson e Jerome Bruner (o nosso Piaget, nos Estados Unidos). Essa intervenção era uma análise ao segundo do comportamento de apego entre bebés de 2 meses e as mães, os ritmos que impunham, a imitação e a forma como um influenciava o outro à medida que interagiam um com o outro. Teve um grande êxito e constituía um exemplo da precocidade do apego e da sua importância tanto para o bebé como para a mãe. Após ter apresentado a minha comunicação, um jovem (com cabelo encaracolado e abas do casaco esvoaçantes) veio ter comigo e disse: “Doutor Brazelton, quero conhecê-lo. Chamo-me João Carlos Gomes Pedro, sou pediatra aqui em Lisboa e quero aprender tudo sobre bebés e crianças pequenas. Posso ir trabalhar consigo?”. Claro que disse “sim”, e, desde então, temos sido excelentes amigos e colegas. Ele veio para Boston em 1981 aprender a Escala de Avaliação do Comportamento Neonatal.

Posteriormente, fundou um instituto de formação onde ele e os seus colegas formaram profissionais de todo o país. Ensinou-lhes a avaliar recém-nascidos e como demonstrar o seu comportamento aos pais logo após o nascimento. Evidenciámos e publicámos 800 artigos revistos por pares, dos quais muitos em conjunto com o Professor Gomes Pedro, sobre a forma como isto muda a imagem que os novos pais têm do seu bebé, e como os ajuda a moldar os seus cuidados em torno do comportamento do bebé, do seu temperamento e capacidade de resposta. Desta forma, a intervenção precoce permite que o bebé obtenha melhores resultados e faz com que os pais saibam como cuidar do seu bebé.

Observei a forma como o João Carlos e colegas excelentes mudaram Portugal no sentido de alertarem o país para a importância dos recém-nascidos e para a relevância de ensinar os pais a observarem o comportamento dos seus bebés, à medida que aprendem a tornarem-se os pais daquele bebé único.

O Professor foi o responsável pela organização de uma conferência anual em Lisboa que reunia os principais investigadores de bebés e crianças da Europa e Estados Unidos. Esta conferência anual contava com a participação de cerca de 600-700 profissionais oriundos de Portugal inteiro. Todos nós, nos Estados Unidos, sentíamos que era uma das conferências mais importantes em que participávamos. Nenhum de nós a esquecerá.

Assisti à nomeação do Doutor Gomes Pedro como Director da Clínica Universitária de Pediatria da Universidade de Lisboa. Ele mudou a educação médica em Portugal, ao incluir na formação médica a importância da avaliação precoce e da interacção, tanto com recém-nascidos normais como de alto risco. Fez com que os alunos se apercebessem da relevância de trabalhar com os novos pais e a estabelecer uma relação de trabalho com eles desde o primeiro momento, como ajudá-los a observar, a interagir e apegar-se aos seus bebés recém-nascidos desde o início. A investigação que desenvolveu demonstrou os resultados marcantes que esta abordagem teve sobre estes bebés até uma idade tão tardia como os 12-13 anos de idade.
O modelo que desenvolveu para a educação médica é um que eu gostaria de ver adoptado em todo o mundo. Os pediatras em Portugal estão muito mais sensibilizados e apoiam muito mais os pais e as crianças do que no nosso país.

Em 2002, o seu grupo pediu-nos que formássemos um grupo de peritos médicos e de profissionais em assistência à criança sobre o nosso modelo touchpoints. Os touchpoints são surtos previsíveis no desenvolvimento de bebés e de crianças, que sempre regridem antes de iniciarem uma nova etapa de desenvolvimento. Passam por 6 surtos de desenvolvimento no primeiro ano, 3-4 no segundo, e cerca 3-4 por ano, nos anos seguintes. Os pais também se deixam abater e este é um período vulnerável. Se aqueles que apoiam os pais puderem estar disponíveis nessas ocasiões, podem sossegá-los dizendo-lhes que estas fases de regressão nas crianças são normais, pois ganham forças para o surto de desenvolvimento que se seguirá.

Assim, cada touchpoint torna-se uma oportunidade tanto para os pais como para as crianças sentirem que são resilientes e têm capacidade de conquistar o mundo. Nos últimos anos, João Gomes Pedro e o seu grupo formaram cerca de 500 profissionais a utilizar os conceitos do touchpoints no trabalho que desenvolvem em Portugal. Gostaria de poder usar o modelo de touchpoints utilizado por Gomes Pedro em Portugal, e criar Centros de Touchpoints em toda a Europa, América do Sul e Ásia.

Sinto muito orgulho no João Carlos e na sua brilhante carreira. Sinto orgulho em ser seu amigo e colega. Ele mudou um país inteiro, e sensibilizou-o para a importância dos bebés e dos pais, e para a importância da identificação e intervenção precoce, para poder dar às crianças de Portugal um futuro brilhante. Ele é um modelo para o mundo!


T. Berry Brazelton, MD
Professor de Pediatria, Fundador Emérito da Harvard Medical School
Brazelton Touchpoints Center