Decorreu nos passados dias 22 e 23 de Março de 2023, o “I ENCONTRO PAUSA PARA A SAÚDE MENTAL: UMA REFLEXÃO NO ENSINO SUPERIOR”.
Com um painel de convidados ilustres de várias áreas estratégicas desde a política até à academia, passando por alunos e figuras públicas, foi possível debater o estado da saúde mental nos alunos do ensino superior bem como algumas medidas de prevenção primária e secundária neste campo.
Em 2019, 1 em cada 8 pessoas, ou seja, 970 milhões de pessoas padecia de algum tipo de perturbação mental (sendo as perturbações depressivas e ansiosas, as mais comuns).1
Em 2020, na sequência da pandemia, a prevalência de perturbações mentais aumentou bastante, sendo estimado um aumento de 26 e 28% das perturbações de ansiedade e depressivas. 1
Isto terá ocorrido devido a vários factores amplamente debatidos e que estão muito associados a agravamento/ precipitação de perturbações mentais, como a privação social (entre familiares e amigos, por exemplo), a sobrecarga laboral (em teletrabalho), o luto e a doença.
Esta grande prevalência, bem como as suas consequências a nível da funcionalidade de quem dela padece, tornam a doença mental aquela que mais provoca incapacidade, comparativamente com todos os outros tipos de doença2.
Apesar da prevalência e impacto das doenças mentais e, embora, sejam conhecidas várias formas comprovadamente eficazes de tratamento, a maioria das pessoas com perturbações mentais não tem acesso a cuidados eficazes1. Por outro lado, muitas pessoas com perturbações mentais também sofrem estigma, discriminação o que agrava exponencialmente a gravidade das suas dolências.
A saúde mental em estudantes universitários tem sido um tema cada vez mais debatido.
Isto porque os números que já eram preocupantes (padecendo 1/3, desta população de perturbações mentais3), após a pandemia, subiram de forma assustadora.
Segundo alguns estudos a prevalência de níveis de ansiedade e depressão clinicamente importantes nos estudantes universitários aproxima-se após a pandemia dos 60%3.
Várias têm sido as causas apontadas para este fenómeno, que acrescem aos da população em geral, nomeadamente, a difícil adaptação a um novo paradigma de ensino e avaliação à distância.
Neste encontro foram focadas estas importantes evidências e a realidade particular da população universitária portuguesa, com um ênfase especial naquela da FMUL.
Foi sublinhada a necessidade imperiosa da implementação de medidas que possibilitem uma melhor prevenção primária e secundária da doença mental nesta população. Evitando o insucesso escolar e laboral, além do enorme sofrimento destes jovens, que se associam à doença mental. Entre estas medidas sublinharam-se a manutenção e melhoria da disponibilidade de apoio psicológico e psiquiátrico, a tomada em linha de conta destes aspectos no desenho dos novos curricula e a diferenciação e formação dos docentes na área da psiquiatria e saúde mental.
Congratula-se a organização e aguarda-se, com expectativa, novas iniciativas nesta área para que se possam desenhar mudanças efectivas para melhorar a saúde mental dos nossos alunos universitários, a quem o futuro do mundo pertence.
1 - https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/mental-disorders
2 - Vos T, Flaxman AD, Naghavi M, et al. Years lived with disability (YLDs) for 1160 sequelae of 289 diseases and injuries 1990-2010: a systematic analysis for the Global Burden of Disease Study 2010. Lancet2012;380:2163-2196
3 - Ochnik, D., Rogowska, A.M., Kuśnierz, C. et al. Mental health prevalence and predictors among university students in nine countries during the COVID-19 pandemic: a cross-national study. Sci Rep 11, 18644 (2021). https://doi.org/10.1038/s41598-021-97697-3
Diogo Telles Correia
Professor Associado com Agregação da FMUL
Diretor da Clínica Universitária de Psiquiatria e Psicologia Médica e da Área Disciplinar Autónoma de Introdução à Medicina
Membro da Comissão Científica do I Encontro “Pausa para a Saúde Mental – uma reflexão no Ensino Superior”