Acreditamos muitas vezes que se vive numa sociedade sem tabus, onde podemos falar, pensar e refletir sobre tudo. Achamos muitas vezes que temos acesso fácil a toda a informação e que conhecemos todos os prós e contras das inúmeras atividades e experiências às quais temos acesso.
Drogas, substâncias psicoativas... temas muito falados e estudados, mas por vezes pouco refletidos com a população mais jovem.
O desafio desta newsletter sobre o tema “consumos de drogas” é exatamente ajudar a comunidade da FMUL a refletir sobre este tema, sob várias perspetivas e num modelo mais compreensivo.
Muitos pais, professores ou técnicos de saúde não entendem a razão da curiosidade pelas drogas ou atração pelo risco entre os mais jovens. Há inúmeros motivos que podem levar uma pessoa a experimentar e/ou consumir (com regularidade ou socialmente). A curiosidade, o desejo de viver outras experiências (prazer, euforia, descoberta), problemas psicológicos, lidar com a inibição ou insegurança, estimular a interação sexual, necessidade de testar limites e transgredir, o desafio à autoridade, pressão do grupo de pares, desejo de afirmação e necessidade de aceitação, desinformação ou ausência de informação, entre outros fatores.
Desvaloriza-se cada vez mais na nossa sociedade o consumo de cannabis e respetivos efeitos a médio e longo prazo, por ser uma droga “leve”. Em muitos países o seu consumo é legal. Mas o que é isto de drogas “leves” e “pesadas”?
Existem drogas que, quando consumidas, podem causar maior dependência e têm maior poder aditivo (a nível orgânico). Por isso o problema do consumo de drogas não reside apenas se é uma droga “leve” ou uma droga mais “pesada” (cocaína, extasy, heroína, metanfetaminas, etc) reside na relação que a pessoa estabelece com as drogas e se precisa das mesmas para se sentir bem ou para executar algumas tarefas/atividades no seu dia-a-dia (estudar, trabalhar, dormir, dançar, ser mais sociável e extrovertido, entre outras).
É fundamental perceber o significado do consumo de cada substância psicoativa na vida do individuo.
Podem existir consumos de drogas “leves” que desencadeiam consequências físicas e psicológicas de maior gravidade, como surtos psicóticos, ideação paranoide, pensamentos e comportamentos obsessivos, entre outros sintomas.
Assim como podem existir consumos pontuais de drogas “pesadas” (ex. cocaína) sem dependência associada. Desta forma, é fundamental estar atento e refletir, não apenas que substância se vai consumir, mas que significado tem aquele consumo na vida da pessoa e que uso a pessoa vai fazer deste consumo. Cada vez mais, observa-se em contexto clínico, o uso de drogas “leves” como “automedicação” para lidar com o sofrimento psicológico ou sintomas como insónias.
É frequente também associarmos o consumo de drogas a substâncias ilegais, mas a droga mais consumida e a mais problemática na nossa sociedade é o álcool, cujo consumo é permitido legalmente, é socialmente aceite e é cultural.
É fundamental conhecer a diferença entre o uso das substâncias e o seu abuso. Assim como, o significado desse consumo na nossa vida.
É também importante, especialmente no contexto universitário estar atento ao grupo de pares. Muitas vezes o pedido de ajuda é comunicado através de comportamentos e dificilmente verbalizado (até porque a pessoa pode não ter consciência do que se passa consigo). Podem existir algumas alterações no comportamento do teu colega ou amigo, e tu podes ser a pessoa que o leva a procurar ajuda especializada, caso necessário.
Cláudia Martins
Espaço S
Queres aprofundar mais o tema?
Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (SICAD) – Sabe mais sobre Substâncias psicoativas; Estatísticas; Linha Vida SOS Droga
Costa, N. & Pombo, S. (2011). Sobre a violência relacionada com o uso de drogas. Revista toxicodependências, 17, 2 [link]
Lomba, L., Apóstolo, J., Azeredo, Z. & Mendes, F. (2011). Contextos recreativos nocturnos e consumo de álcool e drogas: determinantes de comportamentos rodoviários de risco. Revista toxicodependências, 17, 3 [link]
Lomba, L., Apóstolo, J., Mendes, F. & campos, D. (2011). Jovens portugueses que frequentam ambientes recreativos nocturnos. Quem são e comportamentos que adoptam. Revista toxicodependências, 17, 1. [link]
Pereira, F. (2011). Metanfetamina e o ciclo do glutamato no cérebro de murganho. Revista toxicodependências, 17, 2 [link]
Vilela, L., Macho, P. & Almeida, G. (2011). Consumo de álcool em adolescentes e psicopatologia associada. Revista toxicodependências, 17, 1. [link]
