Quando falámos com Sebastião Castanheira, estava ainda a ultimar aquele que viria a ser o primeiro concerto da Orquestra Médica Ibérica. Voltámos a falar depois, e o balanço não podia ser mais positivo. Segundo ele, foram “quatro dias maravilhosos em que fomos estupidamente felizes e mostramos que também em Portugal e Espanha é possível fazer grande música Amadora, cheia de qualidade, paixão e amor”. Apesar de já se terem passado uns dias do encontro entre os músicos, dizia que, “o acorde final de Dvorak ainda soa na cabeça de todos nós.”
Para o ano há mais!
Sebastião Castanheira Martins é médico psiquiatra, ex-aluno da FMUL, fundador e diretor artístico da recentemente criada Orquestra Médica Ibérica, que integra médicos oriundos de Portugal e de Espanha. O gosto pela música começou cedo e, mais tarde quando descobriu a medicina, encontrou pelo caminho outros que, como ele, se dividiam entre pelo menos, estas duas paixões. Estava traçado o caminho para que surgisse esta orquestra. Sebastião inspirou-se noutras orquestras internacionais, uma vez que noutros países esta é uma realidade bastante comum.
Atualmente são 150 os músicos da Orquestra Médica Ibérica cujo primeiro concerto decorreu no dia 11, na Reitoria da Universidade de Lisboa. Fez-se ouvir um repertório clássico com alguns temas de autores portugueses e outros de espanhóis, criteriosamente escolhidos pelo diretor artístico.
As receitas revertem sempre para uma causa solidária ligada à saúde porque acreditam que, enquanto médicos, têm uma responsabilidade acrescida na criação de um mundo mais equitativo.
Quando e como surgiu a ideia de criar a Orquestra Médica Ibérica?
Sebastião Martins: A ideia da Orquestra Médica Ibérica surgiu na sequência do meu envolvimento com várias orquestras de médicos ao longo da minha vida. Começou em 2014 quando ingressei na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa e decidi criar a Orquestra Médica de Lisboa, por perceber que havia vários estudantes de medicina que tinham feito estudos musicais com muita paixão e qualidade, mas uma vez ingressando na faculdade, não tinham um espaço onde pudessem continuar a fomentar esta sua paixão e a tocar. Aí surgiu a ideia de criar a Orquestra Médica de Lisboa, que já fez dezenas de concertos ao longo dos últimos anos e se tem apresentado com muita qualidade e paixão. Ao longo do curso cruzei-me depois com a Orquestra Médica Mundial e com a Orquestra Médica Europeia, que reúnem médicos de vários países e que se juntam durante 4 dias intensivos de ensaios e concerto, sempre com uma vertente solidária associada.
Até que nasceu a Orquestra Médica Ibérica…
Sebastião Martins: Há cerca de 2 anos surgiu a possibilidade de criar uma orquestra que funcionasse nos mesmos moldes, com encontros anuais, de Portugal e Espanha, por acreditarmos que existem dezenas de médicos que tocam um instrumento, mas que não têm espaços e grupos nas suas cidades onde possam continuar a fazê-lo em paralelo com a sua vida profissional.
Esta é uma realidade comum nos outros países?
Sebastião Martins: Neste aspeto estamos muito distantes de países como Reino Unido, Alemanha ou EUA, que têm dezenas de orquestras de médicos e promovem esta vida fora do local de trabalho. Queremos trazer esta cultura também para Portugal e Espanha: esta ideia de que é possível fazer boa música em conjunto, com qualidade, com paixão e tocar repertório sinfónico exigente, unindo-nos através da música e da medicina em prol de um mundo mais solidário.
Quantos elementos formam a Orquestra Médica Ibérica?
Sebastião Martins: Na base de dados da Orquestra Médica Ibérica estão inscritas neste momento 150 pessoas. Neste primeiro concerto participaram 70 pessoas.
Como é que as pessoas foram aparecendo?
Sebastião Martins: As pessoas foram-se inscrevendo através do site www.orquestramedicaiberica.com onde qualquer pessoa pode preencher o formulário de inscrição. Nestes últimos dois anos temos tido muitas inscrições de vários pontos da península ibérica, de pessoas de todas as especialidades e idades, o que nos deixa muito contentes.
Todos estão envolvidos na área da saúde. É um requisito?
Sebastião Martins: A orquestra nasceu também inspirada por outras orquestras médicas do mundo, como a Orquestra Médica de Lisboa, a Orquestra Médica Europeia ou Mundial. Apesar de darmos preferência a pessoas da área da saúde, caso haja pessoas de outras áreas interessadas, também aceitamos e teremos todo o gosto em integrá-las.
Qual o vosso repertório?
Sebastião Martins: O repertório irá variar de concerto para concerto. A ideia será apresentar repertório sinfónico de grandes compositores da história da música, como Dvorak, Mahler, Wagner, Brahms, Tchaikovsky, Beethoven, entre outros, aliado sempre a compositores de Portugal e Espanha, mostrando que há muita música sinfónica de elevada qualidade escrita na península ibérica.
Quais as funções do Sebastião nesta Orquestra para além de ser o maestro?
Sebastião Martins: Fui o criador e sou atualmente o diretor artístico, escolhendo repertório e selecionando as pessoas que irão participar em cada sessão. Para além disso, juntamente com os meus colegas, tenho ajudado a organização várias questões logísticas da organização desta primeira sessão.
Qual a média de concertos que preveem fazer?
Sebastião Martins: Este foi o primeiro concerto e a ideia é fazer pelo menos um concerto por ano em várias cidades da península ibérica. Para o ano estamos a tentar dinamizar uma sessão em Barcelona ou no Porto, vamos ver.
Quais as principais dificuldades que tem para gerir esta orquestra?
Sebastião Martins: O mais difícil neste tipo de projetos é sempre começar, reunir as pessoas e arrancar com a organização do primeiro concerto. Cada sessão terá os seus desafios, desde arranjar salas de espetáculo, cidades interessadas em receber a orquestra, mobilizar patrocinadores para a organização da sessão, entre outras dificuldades logísticas. No entanto, acreditamos que com a força de vontade dos médicos já inscritos será possível levar este projeto a bom porto e dinamizar muito mais concertos.
As receitas dos espetáculos revertem para instituições ou associações de cariz solidário. Verdade?
Sebastião Martins: Todos os concertos da Orquestra Médica Ibérica terão uma componente solidária associada, e os fundos de bilheteira dos seus concertos irão reverter sempre a favor de uma Organização que trabalhe pela melhoria do acesso e prestação dos cuidados de saúde. Nesta primeira edição será a Associação Portuguesa Contra a Leucemia.
Porquê associar esta vertente solidária à orquestra?
Sebastião Martins: Como médicos sentimos que temos uma responsabilidade acrescida na criação de um mundo mais justo onde o acesso universal e gratuito aos cuidados de saúde seja uma realidade, acreditando plenamente que a saúde é um direito humano básico e motor de desenvolvimento de sociedades mais justas. Como médicos e profissionais de saúde nunca nos podemos desvincular deste propósito humanitário da nossa profissão. Sabemos que estes concertos e as receitas angariadas são uma pequena gota no oceano, mas são a nossa pequena contribuição na construção de um mundo mais solidário.
Quais os objetivos da Orquestra Médica Ibérica
Sebastião Martins: Os nossos principais objetivos são o de promover a atividade musical na comunidade médica como complemento à sua atividade profissional, primando sempre pelo rigor, qualidade e dedicação que pautam o seu trabalho; Apoiar diversas instituições de Solidariedade social, reforçando o papel dos médicos como promotores de uma sociedade mais justa e igualitária; Fortalecer o diálogo intergeracional dos médicos e além fronteiras, promovendo o espírito de grupo e união através da música e promover a música ibérica, de compositores portugueses e espanhóis bem como a influência dos ritmos ibéricos na música erudita.
Quem se quiser juntar-se inscreva à Orquestra Médica Ibérica pode inscrever-se no site: www.orquestramedicaiberica.com
Créditos: Luís Soeiro via Orquestra Médica Ibérica
Dora Estevens Guerreiro
Equipa Editorial