Inês Pereira tem 20 anos e vem do Alentejo, mais precisamente de Grândola. Sempre se destacou nos estudos e diz, “que sempre foi fácil ter boas notas.” Na escola, sempre gostou particularmente das disciplinas de ciência.
É filha única, mas cresceu numa casa cheia. Os avós e os tios avós viviam com os pais da Inês e, com a Inês. Cresceu rodeada de família, de carinho e de referências. A mãe, cuidadora dos mais velhos, ajudou, sem saber, a filha a traçar o seu objetivo profissional. “Sempre vi a minha mãe a cuidar quer da minha tia que sofria de Alzheimer, quer do meu tio que tinha Parkinson. A minha mãe cuidava deles para que estivessem o melhor possível quer física quer mentalmente. Levava-os a consultas e fazia-lhes a higiene e eu cresci naquela dimensão.”
Somando o gosto pelas ciências, o facto de ter boas notas e a parte humana que veio de observar os cuidados que a mãe prestava aos mais velhos da família, resultou no gosto pela medicina.
As notas boas não foram logo suficientes. Inês só conseguiu entrar na FMUL à terceira tentativa, mas até acredita que foi melhor assim. “Estou mais bem preparada e consciente que as coisas dão trabalho. Aqueles dois anos na Faculdade de farmácia com os olhos postos na Faculdade de Medicina, “no outro lado da rua” fizeram-na cultivar a capacidade de esperar e de superar. “Tive de repetir os exames até conseguir ter nota para entrar”. Com este percurso percebeu que as coisas não caem do céu e que não é preciso fazer uma tempestade num copo de água. Às vezes temos de esperar e Inês aprendeu essa lição. Este ano, fez parte do grupo de alunos que entrou na FMUL. Objetivo atingido e partilhado com a família que, embora “não esteja perto, ficaram muito alegres e orgulhosos, com o meu sucesso.”
Agora esperam-na anos de muito estudo, novidades e descobertas, “mas sinto que estou preparada.” Estes últimos anos em que saiu da zona de conforto – da casa dos pais- e veio para Lisboa, foram tempos de adaptação e, “embora de início tenha vindo para casa de familiares, não foi fácil, era muita confusão e agitação.” Agora já partilha casa com outros estudantes e sente-se mais confiante e mais autónoma. “Não estou assustada. Sonhei com isto durante tanto tempo que agora quero é aproveitar esta descoberta.”
A Inês andou no conservatório de música e tem o 5º grau. Toca na Sociedade Musical Fraternidade Operária Grandolense, (SMFOG). O instrumenta de eleição é o clarinete e por isso, talvez integre uma orquestra médica ou até a Tuna. Acabou agora de entrar e tudo é novidade. Há muitas coisas para descobrir e escolher. Um passo de cada vez.
Quanto ao seu futuro na medicina, embora com a consciência de que as coisas possam mudar, explica que sempre se sentiu atraída pelas especialidades cirúrgicas, “mas ao mesmo tempo queria algo que não me fechasse no bloco, que me permitisse ter proximidade com o doente. Por outro lado, tenho vários interesses quer na política quer na proximidade com a comunidade e até em projetos que envolvam a comunicação,” conclui.
Dora Estevens Guerreiro
Equipa Editorial