Cristiane Oliveira faz parte dos que regressaram à faculdade. Já esteve inscrita na Licenciatura em Ciências da Nutrição (LCN) 2020/21, mas frequentou as aulas durante apenas alguns meses. Primeiro veio a Covid-19 e com ela uma série de restrições que obrigaram a que os alunos fossem para casa e passassem a ter aulas online. Isso limitou as relações, a aproximação e o espírito académico, que é saudável e faz parte da vida de um universitário. Depois, uma série de hematomas e um cansaço fora do normal, levou-a às urgências do Santa Maria de onde já não saiu. O diagnóstico de uma leucemia levou a que ficasse internada e durante meses fez quimioterapia. Agora regressou, mais forte, mais determinada e com uma história para contar.
Cristiane nasceu em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil. Já é licenciada em Administração e Gestão, mas sempre teve um gosto especial pela área de nutrição. Mudou-se para Portugal com o marido e inscreveu-se na FMUL para frequentar o curso de Licenciatura em Nutrição. Estávamos no ano escolar de 2020/21. Os primeiros meses corriam bem, mas a Covid-19 acabou por empurrar a comunidade estudantil para aulas online. “Logo aí perdeu-se aquele contacto com os colegas que é muito saudável,” mas as regras assim o ditaram.
A época de exames começou e, a par do estudo, Cristiane dedicava-se também ao desporto. “Gosto muito de correr maratonas e estava a preparar-me para a Meia Maratona de Lisboa”. Entretanto, reparou que o corpo tinha vários hematomas e “sentia-me muito cansada, mas atribuí tudo isso ao stress do momento.” A par desses sintomas, também apresentava sangramento das gengivas e um fluxo menstrual excessivo, “hoje sei que eram hemorragias.” Durante alguns meses Cristiane relevou as marcas que tinha no corpo e os sintomas, mas um dia isso tornou-se impossível. “Tinha muitos hematomas no corpo e num mês tinha perdido 5 quilos.” Não querendo mais esperar, foi às urgências no dia 28 de julho de 2021. “Dei entrada no Hospital de Santa Maria e já não saí.” Ficou internada. O diagnóstico veio no mesmo dia: uma Leucemia Promielocítica Aguda. “Dei início aos tratamentos de quimioterapia que numa primeira fase aconteceram comigo internada.” “Os tratamentos eu fiz no Hospital de Santa Maria, estava em casa – diz sorrindo. Os tratamentos foram tendo resultado e acabou por ter alta, mas continuando a fazer quimioterapia oral. Foi nessa fase que o desporto ganhou ainda mais importância e, contra todas as expectativas, em novembro participou na Meia Maratona de Lisboa, 4 meses após ter tido o diagnóstico a uma leucemia. Ao todo fez 4 ciclos de tratamentos e foi sempre participando em corridas. Exemplo disso foi a corrida organizada pelos alunos da FMUL “Corrida Saúde Solidária” em abril de 2022 quando estava a fazer o 3º ciclo de quimioterapia. Por último voltou a calçar os ténis para participar novamente na Meia Maratona de Lisboa no dia 27 de setembro, no final do 4º e último ciclo de quimioterapia. Depois disso, Cristiane recebeu um diagnóstico mais simpático; por agora está tudo bem e por isso regressou, aliviada, à Faculdade. “Mas este regresso foi um misto de alegria e frustração porque regressei ao 1º ano e parece que estou sempre a fazer a mesma coisa.” Reviu alguns colegas e conheceu outros que acabaram de entrar. Para já, propõe-se a fazer 3 cadeiras das 8 que faltam. “Vou aos poucos.”
Este ano sentiu-se particularmente bem-recebida “porque houve várias atividades para receber os novos alunos e já sem restrições desde o uso da máscara ao toque, sentimo-nos mais acolhidos.”
Durante os meses que ficou em tratamento destaca o apoio do marido que foi fundamental. “Toda a minha família está no Brasil; meus pais e o meu irmão, mas sempre me deram muito apoio. No entanto, eu e o meu esposo sentimos que, por estarmos os dois sozinhos, amadurecemos e crescemos muito enquanto pessoas e enquanto casal.” Os colegas, os professores e a parte administrativa da Faculdade de Medicina também sempre lhe deram apoio, “foram sempre muito atenciosos.”
Agora, com 32 anos, Cristiane regressou à Faculdade e está mais forte e determinada. Continua a correr e o próximo objetivo está já aí à porta, voltar a fazer a Meia Maratona de Lisboa, mas desta vez sem tratamentos de quimioterapia envolvidos e em boa companhia: “a minha médica, a Dra. Joana Infante, vai correr comigo”.
Dora Estevens Guerreiro
Equipa Editorial