No Dia Mundial do Coração acompanhámos um workshop educativo, que decorreu no Grande Auditório João Lobo Antunes e que pôs toda a gente a mexer. Até no Brasil.
Ana Abreu, cardiologista, professora e investigadora na FMUL, abriu a sessão com uma apresentação pouco clássica e muito participada, onde se percebeu que a probabilidade de morrer de doença cardiovascular é alta, rondando os 30 %. E não é preciso ser mais velho, fumador ou obeso. Conhecemos realmente os fatores de risco?
Em Portugal “não temos a situação controlada”, afirmou, deixando claro que é preciso conhecer os fatores de risco, sobretudo os menos clássicos. Mas também mudar. “Temos de ser nós, não os médicos”.
Catarina Sousa Guerreiro, coordenadora da Licenciatura em Ciências da Nutrição da FMUL, corroborou esta visão. “É uma escolha. Temos a decisão sobre o nosso corpo”, alertou a plateia, lembrando que está provado que a dieta mediterrânica ajuda a reduzir o risco de um acidente agudo, mas que Portugal está a afastar-se desta.
Mais peixe, menos carne e produtos lácteos menos gordos devem ser uma opção. A ingestão de três a cinco porções de fruta e legumes por dia, são algumas das regras de ouro. Para além da grande aliada, a nossa sopa.
A mesa deste workshop contou ainda com uma psiquiatra, Manuela Alves, porque a angústia e o stress “são maus para o coração”, mas a forma como lidamos com a perda “pode ajudar a prevenir”, por exemplo um enfarte.
Quatro fisiologistas do exercício, que trabalham semanalmente com mais de 100 pessoas no Centro de Reabilitação Cardiovascular da Universidade de Lisboa, promoveram uma sessão ativa no final do primeiro painel de discussão, acompanhada online por médicos da Universidade do Rio de Janeiro, no Brasil.
Conhece realmente os riscos?
Há calculadoras online e apps para telemóveis para avaliar o risco cardiovascular, que quem não tem doença cardíaca deve fazer. Mesmo os mais jovens. Porque além da herança genética, há fatores de risco menos óbvios que é preciso conhecer para evitar dissabores.
O tabagismo é o grande inimigo. E aqui estão incluídos os cigarros eletrónicos, sublinham os especialistas. Um homem de 50 anos que fume e tenha o colesterol alto, tem o mesmo risco cardiovascular de um indivíduo de 74 anos, que não fuma nem tem o colesterol alto.
O excesso de peso, o sedentarismo e a alimentação são outros inimigos a evitar, mas quem imaginaria que pessoas com insónias ou perturbações do sono têm mais tendência a sofrer um enfarte? Ou que mulheres com ovários poliquísticos são também mais propensas a estes problemas? Ou ainda que problemas psicológicos e mentais, em que Portugal se destaca pela negativa, potenciam os acidentes cardiovasculares? Sim, pode morrer-se de coração partido.
Descubra os conselhos das especialistas
As cinco regras de ouro da alimentação ditadas pela OMS foram explicadas por Catariana Sousa Guerreiro: comer entre 3 a 5 porções de fruta e legumes por dia, optar por cereais mais integrais, incluir leguminosas e frutos secos à dieta, não adoçar as bebidas, evitar doces, usar ervas aromáticas para reduzir o sal das receitas e diminuir as gorduras ingeridas, optando sempre pelo azeite virgem extra, em detrimento das de origem animal.
Rita Pinto, fisiologista do Exercício, professora e investigadora da FMUL, confirmou o que os mais preguiçosos temiam. Além da alimentação, o exercício físico regular permite-nos reduzir em 35 % o risco de sofrer um evento cardiovascular.
E há pequenas estratégias que é preciso adotar e que estes profissionais querem difundir. Madalena Abreu, uma das fisiologistas presentes, pediu para “quebrar o tempo sedentário”. Os parques e jardins são ótimos locais para fazer uma caminhada, mesmo enquanto acompanhamos uma reunião online. “Mexam-se ao longo do dia”, explica, “bebam mais água para irem mais vezes à casa de banho, criem alarmes no telemóvel para se levantarem do sofá ou da cadeira do escritório”.
Quando for a vida a colocar-nos perante um grande obstáculo, como a perda de alguém querido ou um divórcio, “não tenham vergonha, peçam ajuda”. Porque um psicólogo ou um psiquiatra, reforça Manuela Abreu, podem ajudar a lidar com evento que causa ansiedade, sofrimento e, que pode aumentar o risco cardiovascular,” concluiu.
Margarida Leal
Equipa Editorial