Durante a semana de receção aos novos alunos na FMUL, os alunos do 1º ano do Curso de Licenciatura em Ciências da Nutrição, fizeram uma visita ao Teatro Anatómico, que faz parte do Instituto de Anatomia. Lá, foram recebidos pelo Professor de Anatomia Humana, que lhes fez uma visita guiada pelas várias salas e lhes contou um pouco da história do Instituto, do qual o Teatro Anatómico faz parte, bem como de alguns materiais e objetos presentes nas salas.
Os cerca de 30 alunos foram recebidos pelo Professor Pedro Oliveira que vai ser o professor de Anatomia Humana, durante o primeiro semestre, e por Pedro Henriques, Assistente de Anatomia, e responsável pelo tratamento e conservação das inúmeras peças anatómicas que possibilitam o estudo aos alunos, o estudo pós-graduado e a prática da arte cirúrgica, aos médicos. Os alunos de primeiro ano começam a fazer as primeiras incursões logo no início do ano escolar e apesar desta ser uma disciplina considerada pela generalidade dos alunos, “um cadeirão”, o Professor garante que não é bem assim. “O corpo humano é complexo e temos de o conhecer bem enquanto médicos, mas com estudo, raciocínio e capacidade de organização, não é nada do outro mundo,” refere.
Assim que entram, dirigem-se à primeira sala. Sente-se o peso da história. Os móveis de madeira escura e os objetos neles expostos carregam já muitos anos e, uma vez mais, o Professor explica: “a maioria destes objetos transitou do Campo de Santana onde estava instalada a Escola Médico Cirúrgica” que é a génese da atual Faculdade de Medicina. Dele, fazem parte as fotografias de ilustres médicos, que estão expostas nas paredes e também algumas peças anatómicas.
Um armário chama a atenção de todos e o professor esclarece: “Estão aqui expostos vários crânios e posso garantir-vos que são todos de assassinos e de violadores”. A razão de tal coleção tem origens científicas e não macabras. “A frenologia dedicava-se a analisar os vários crânios na tentativa de encontrar características e particularidades que possibilitassem determinar que, quem tivesses tais características inseria-se nesse grupo marginal. Claro que isso nunca aconteceu, mas isto é uma herança daquela época.”
Em cima da mesa estão expostas várias peças anatómicas feitas a partir de resina em plástico e que são réplicas perfeitas de órgãos e ossos humanos. “Para que servem?” pergunta o professor, mas os alunos estão demasiado fascinados de olhos postos nos objetos para lhe responderem. São então convidados a tocar. Avançam e pegam em algumas peças. É-lhes explicado que aqueles objetos são réplicas perfeitas feitas graças à utilização de impressoras em 3D. “São um ótimo recurso porque permite-nos ter muito material didático para distribuir, por exemplo, pelos alunos. No entanto perde-se a variabilidade que cada individuo tem,” porque todas as peças são feitas a partir de um modelo, por isso, “a anatomia a sério estuda-se no corpo humano e não em imagens 3 D.”
Um pouco mais à frente entram na sala do Teatro Anatómico onde, em breve, irão ter aulas. Aí podem observar uma aorta e vários cérebros conservados nas várias técnicas disponíveis e que aqui são feitas por Pedro Henriques. A Plastinação é um “método surpreendente” dizem alguns alunos enquanto são convidados uma vez mais, a tocar nas peças. Pedro faz uma breve explicação em que consiste a técnica e para que serve. Percebe-se o fascínio estampado no rosto dos estudantes. Cochicham entre eles, ainda estão demasiado envergonhados para se dirigirem ao Professor.
Passam pela zona onde estão os frigoríficos que guardam os cadáveres doados à ciência. Aqui não se podem tirar fotografias por uma questão de respeito, aliás Pedro Oliveira diz, “o cadáver não se queixa, mas há sempre o máximo de respeito e de ética na sua utilização, porque não esquecemos o gesto generoso das pessoas que decidiram doar o corpo à ciência. Por ano chegam cerca de 200 intenções de doação ao instituto e dessas, 30 efetivam-se.”
A visita continua e descem um piso. Aqui estão expostas algumas partes anatómicas conservadas em formol. É um momento espantoso. As caras refletem a surpresa e a curiosidade. Alguns ficam para trás, para terem um momento ou dois a sós com aquelas relíquias da ciência a que nem todos têm acesso. Perguntas como, “quem são?”, “de onde vieram?” ouvem-se. O professor tenta satisfazer a curiosidade, mas as respostas são limitadas. Há um código deontológico que tem de ser respeitado.
No final os alunos estão satisfeitos. “Estou a gostar. Estudar é que vão ser elas,” atira um deles. Guilherme Moura diz que o que mais o surpreendeu “foram os bebés com malformações” e a Constança Ramalho não esconde que “adorei a técnica da plastinação.”
A próxima vez que regressam a esta sala, já vai ser na aula que o professor recordou ser na quarta feira às 11 horas. O encontro está marcado.
Dora Estevens Guerreiro
Equipa Editorial