A Marta e o Henrique são colegas de turma desde o 3º ano. Ambos com interesse na área da Cardiologia decidiram abordar a Professora Ana Abreu com o intuito de realizar o seu trabalho final de mestrado nesta mesma área.
De imediato a Professora Ana Abreu apresentou, aos dois alunos, o projeto “Por uma Universidade mais saudável”, que consiste em avaliar o risco cardiovascular e o grau de literacia em saúde dos alunos do 1.º ano e dos seus familiares próximos.
O objetivo deste projeto é conhecer os alunos e, através de um inquérito, obter informações sobre o estado de saúde (doenças conhecidas, valores de pressão arterial, medicação habitual, etc.), atividade física e/ou desportiva, hábitos e alimentação. Para além disso, pretendem avaliar o conhecimento em saúde destes alunos através de um pequeno questionário, com o intuito de compreenderem qual o seu ponto de partida relativamente ao conhecimento médico e científico, que irão adquirir ao longo dos 6 anos no curso de medicina.
A Marta e o Henrique vão organizar sessões de formação para os estudantes, com o objetivo de os preparar para aplicarem scores de risco cardiovascular pré-definidos aos seus familiares. E, por fim, os dados recolhidos serão estudados e estes estudantes vão avaliar a saúde cardiovascular dos alunos do 1º ano do MIM e das respetivas famílias, com o intuito de seguir esta amostra de população nos anos seguintes.
Como surgiu esta iniciativa?
Henrique: Eu e a Marta somos colegas desde o 3.º ano. No 4.º, ambos gostámos imenso das aulas de Cardiologia no Hospital Pulido Valente com a Professora Ana Abreu. No início do 5.º ano, estávamos ambos interessados em realizar o nosso Trabalho Final de Mestrado (TFM) na área da Cardiologia e decidimos abordar a Professora Ana Abreu para ser nossa orientadora. Desejávamos um TFM interativo e dinâmico, que nos cativasse e estimulasse. Assim, a Professora Ana Abreu apresentou-nos o projeto “Por uma Universidade mais saudável”, uma iniciativa ainda “em descolagem”, e convidou-nos a dar o empurrão inicial e, se assim desejássemos, a dar continuidade ao projeto.
Qual é o principal objetivo deste projeto?
Marta: O principal objetivo deste trabalho é a avaliação do risco cardiovascular dos estudantes do 1.º ano do MIM e das suas famílias. No entanto, esta iniciativa terá outros propósitos igualmente importantes, tais como a avaliação da literacia em saúde destes alunos no que diz respeito a este tema, permitindo-nos corrigir algumas das crenças que possam estar enraizadas e que não correspondam à realidade, como por exemplo em termos de nutrição e de exercício físico. Para além disto, o facto de estes estudantes terem um papel ativo na recolha destes dados possibilitar-lhes-á a aquisição de novos conhecimentos e um maior entendimento sobre este tema. Por último e não de menor importância, esta iniciativa servirá igualmente para identificar os indivíduos que estão em maior risco de desenvolver doença cardiovascular ou que já têm alguma patologia até então desconhecida, permitindo-lhes tomar uma atitude para melhorar os seus scores.
Que outros aspetos consideram importantes e que benefícios pode ter esta monitorização cardiovascular?
Henrique: Para nós serão importantes os momentos de aprendizagem e de partilha de conhecimento que este tipo de projeto propicia. Acreditamos que as entrevistas, as sessões de formação e a recolha de dados dos familiares pelos alunos do 1.º ano criarão um espaço pedagógico para todos. Estamos entusiasmados com esta oportunidade de aprofundarmos os nossos conhecimentos em Medicina de uma forma interativa e próxima de um grupo populacional do qual, até há pouco tempo, fazíamos parte.
A monitorização cardiovascular, pela própria natureza deste grupo de doenças, é um meio essencial de rastreio, prevenção e de seguimento. Com este projeto, pretendemos traçar um perfil de saúde cardiovascular dos alunos de 1.º ano e respetivas famílias, identificando fatores de risco ou mesmo doenças “silenciosas” que possam estar presentes sem conhecimento do indivíduo, como a hipertensão arterial, e esperamos, assim, trazer um efeito benéfico à saúde destas pessoas, a curto, médio e longo prazo.
O que é preciso fazer ainda, em Portugal, para combater as doenças cardiovasculares?
Marta: Em Portugal, as doenças cardiovasculares continuam a ser uma das principais causas de morte. Assim sendo, a grande necessidade de alterarmos esta realidade do nosso país é inequívoca.
No meu ponto de vista, uma das medidas mais importantes é a consciencialização da população geral para este tipo de doenças, aumentando a literacia em saúde neste tema. A mudança e a motivação para mudar terá de partir de cada um, daí ser crucial informarmos as pessoas acerca da realidade das doenças cardiovasculares, dos seus fatores de risco e das consequências a longo prazo, assim como das alterações que podemos fazer na nossa vida para melhorar este panorama.
As fases iniciais das doenças cardiovasculares costumam apresentar-se de forma assintomática, o que mostra a necessidade de uma avaliação periódica e regular por um médico. A prevenção é, sem dúvida alguma, a nossa maior arma no combate a estas doenças. São bem conhecidas as vantagens das medidas que já estamos habituados a ouvir, como praticar exercício físico, ter uma alimentação cuidada, evitar o tabaco e o álcool, entre outros.
Neste momento, é apenas um projeto que será aplicado de alunos para familiares mais próximos? Porquê este modelo?
Henrique: Sim, o projeto tem como duplo foco os estudantes de 1.º ano do MIM (Mestrado Integrado em Medicina) e os respetivos núcleos familiares. Escolhemos este modelo porque queremos também averiguar a possível influência de um estudante de Medicina na saúde cardiovascular dos seus familiares e, futuramente, comparar estes dados com os de outras faculdades de Medicina ou, até mesmo, de outros cursos. Será um método diferente, todavia interessante, de conhecer as famílias dos futuros médicos de Portugal, ou seja, daqueles que serão os principais intervenientes na saúde da população.
Pensam em alargar ao público em geral?
Marta: Numa primeira instância, iremos apenas avaliar os alunos do 1.º ano do MIM da nossa faculdade, do ano letivo corrente e as suas famílias. No entanto, o nosso intuito é que este projeto tenha uma continuação mesmo depois desta avaliação inicial, em que consideramos alargar aos próximos alunos do 1.º ano do MIM da nossa escola, a alunos de outras faculdades de Medicina e, quem sabe, no futuro, à população em geral que tenha interesse em participar.
O que é que as pessoas devem fazer diariamente e, também, anualmente para combater as doenças cardiovasculares?
Marta: O controlo dos fatores de risco é a nossa maior arma para o combate às doenças cardiovasculares. Tendo isto em conta, a nossa atenção deve debruçar-se sobre os fatores de risco que são modificáveis, tais como hipertensão arterial, diabetes, obesidade, hábitos tabágicos, dislipidemia, entre outros.
O impacto do estilo de vida nas doenças cardiovasculares está muito bem estudado, por isso existe um conjunto de medidas que devemos implementar no nosso quotidiano.
Começando pelo exercício físico, recomenda-se, para pessoas aparentemente saudáveis, a prática de pelo menos 30 minutos de atividade física moderada por dia, 5 dias por semana. No que diz respeito à alimentação, os vegetais, legumes, a fruta e as fibras são os alimentos que devemos consumir em maiores quantidades, enquanto as comidas com muito sal, açúcar e gorduras devem ficar para último plano. Como já seria de adivinhar, as bebidas alcoólicas e o tabaco são, igualmente, para evitar.
Estas alterações em conjunto possibilitam-nos um maior controlo dos níveis de colesterol, de pressão arterial, glicose no sangue e, ainda, a perda de peso, incidindo, desta maneira, em todos os principais fatores de risco modificáveis para as doenças cardiovasculares.
As fases iniciais das doenças cardiovasculares costumam apresentar-se de forma assintomática, ou seja, o diagnóstico só é feito ou acidentalmente quando somos avaliados por um médico ou então quando a doença já está em estádios avançados e, por isso, sintomática. Como sabemos, este último cenário não é, de todo, o ideal, o que reitera a importância de uma avaliação regular por um profissional de saúde.
A Universidade pode ser uma porta para a prevenção cardiovascular!
Leonel Gomes
Equipa Editorial
