Gostarias de ter um melhor domínio na forma como comunicas?
Se respondeste positivamente à pergunta, começo por te dizer que o corpo tem um papel crucial nos processos comunicacionais. A comunicação é a base de todo o relacionamento humano, e ao mesmo tempo, um dos nossos maiores desafios, pois a comunicação entre seres humanos ocorre num espaço de intersubjetividade.
Albert Mehrabian (1972) observou que quando estamos a ouvir outra pessoa confiamos em três elementos essenciais: nas palavras, (que contam 7%), no tom de voz, (que conta em 38%) e na linguagem corporal (que conta 55% para a compreensão da mensagem). O mesmo estudo concluiu que perante situações ambivalentes, confiamos mais nos sinais que percebemos do corpo, do que nas palavras.
De certeza que já te aconteceu conheceres alguém e sentires que há qualquer coisa naquela pessoa que não te transmite confiança. Geralmente isso ocorre, porque estás a “ler” uma série de sinais não verbais que de alguma forma são contrários ao que estás a ouvir. O que significa que para que a comunicação seja eficaz, tem de haver uma congruência entre o que é dito e a atitude corporal (gestos, postura, olhar, expressão facial, etc.). Pode também acontecer que sintas, a um nível muito subtil, algumas incompatibilidades com o teu perfil de movimento, e ocorra o que Judith Kestenberg (2018) designou de misattunement.
Alguns autores consideram que a base da empatia surge no corpo e na interação não-verbal, como é o caso de Daniel Stern (1985) que refere que antes da aquisição da linguagem, o bebé cria vínculo com a mãe através de uma linguagem pré-verbal e “corpórea”. Fuchs (2013) também menciona que a comunicação se realiza a um nível corpóreo, através da intercorporalidade e interafetividade.
Então como posso melhorar a minha comunicação utilizando o meu corpo como recurso?
Uma das coisas essenciais consiste em aprimorares a tua consciência corporal. E isto é mais simples do que parece, o corpo é um recurso fantástico, o qual tens acesso ilimitado. Quanto maior for a tua consciência corporal, maior será a capacidade para estares atento às tuas sensações corporais, e consequentemente aos teus sentimentos, pensamentos e ações. Lembra-te sempre que as emoções são sentidas e visíveis através do corpo e da expressão corporal (Damásio, 1995). As tuas posturas corporais dizem algo sobre ti, mas também podem ser reajustadas intensionalmente para modificares os teus estados de humor. Por exemplo, se te sentires inseguro/a e tiveres de fazer uma apresentação de um trabalho, um exame oral, ou interagir com um professor ou um doente, experimenta parar por uns segundos para perceberes como te estás a sentir internamente e tomares consciência da tua postura corporal.
Prepara-te corporalmente para a tarefa, tal como, te preparas quando revês mentalmente a matéria. Pratica a respiração consciente, centra-te em ti e se for necessário reajusta o teu corpo para que te possas sentir mais confiante (ex: endireita as costas, levanta a cabeça, expande um pouco mais o peito). Isto porque se o corpo e os processos mentais estão conectados, e se ambos têm um papel importante na comunicação, é uma mais valia poderes aliá-los para que a tua mensagem tenha um maior impacto perante quem te ouve.
Sabes quem és em movimento? Que movimentos, gestos e posturas te caracterizam?
Todos temos um perfil de movimento único e que nos caracteriza, tal como uma “impressão digital”. Se reparares quando vês um conhecido ao longe consegues identificar a pessoa, pela forma como se move, os gestos que realiza ou até mesmo a postura corporal em que se encontra.
O teu perfil de movimento desenvolve-se à medida que, nos primeiros anos de vida, interages e exploras o mundo que te rodeia, e com isso a tua personalidade e noção de identidade. O nosso corpo e a forma como nos movemos expressa o que somos e o que vivemos (Bartenieff, 2002).
Coloco-te algumas perguntas e convido-te à reflexão para te conheceres um pouco melhor nos teus padrões de movimento. Pensa então no seguinte:
- Qual é a tua relação com o espaço que te rodeia? Reages da mesma forma nos diferentes espaços onde circulas? Onde te costumas posicionar numa sala de aula? É sempre o mesmo lugar, ou costumas alterar? Permaneces mais no meio ou mais no canto? Queres absorver o espaço todo? Ou sentes-te absorvido pelo espaço?
- Qual a distância que aplicas na interação com o outro? Como te posicionas quando falas com outras pessoas, mais perto, mais longe? Tens tendência a invadir o espaço do outro, ou sentes-te frequentemente invadido?
- Quais são as posturas corporais que te caracterizam? Fazes por não ser visto/a? Ou aprecias ser notado/a pelos outros?
- Que tipo de expressividade colocas nos teus gestos e movimentos? Qual é a tua atitude interna perante o fator tempo? És naturalmente mais apressado/a, ou mais lento/a? E o fator espaço? Tens tendência a ter apenas um foco, ou tens um impulso de querer prestar atenção a vários estímulos ao mesmo tempo? E o fator peso? Tens predisposição para movimentos mais leves, ou mais firmes?
Por último, apresento-te algumas sugestões que podem ser úteis para tornar a tua comunicação mais eficaz:
- Check-in corporal: Antes de qualquer situação ou evento em que tenhas de estar em interação com alguém, podes reservar o momento para ti, parar, percecionar como está o teu corpo e como te estás a sentir.
- Presta atenção à tua respiração: Observa e repara como se encontra, lenta ou acelerada? Podes realizar conscientemente ciclos de respiração diafragmática para atingires um relaxamento, ou pelo nariz para energizares.
- Alivia tensões musculares: Ao aliviar a tensão do corpo, melhoras a tua disposição para estar em interação com o que te rodeia. Podes realizar alongamentos, pequenos movimentos ou alterações de posição para que a tua energia flua sem bloqueios.
- Verifica como está o teu espaço pessoal na interação com o outro: Tem atenção à reação do outro e respeita os seus limites corporais. Se durante a interação observares no outro um movimento de recuo, ou se a postura corporal se tornar mais encolhida, são sinais de que te deves reajustar no espaço, ou seja, aumentar a distância entre ambos.
- Adequa os teus movimentos ao espaço onde te encontras: Se estiveres a falar para um público, será vantajoso que utilizes uma maior abertura dos teus movimentos de forma a preencheres mais o espaço que te rodeia e chamares a atenção para ti. A utilização de movimentos pouco amplos e reduzidos, podem neste contexto promover o aborrecimento. Sempre que possível acompanha o teu discurso de gestos expressivos pois cativa a pessoa que te ouve.
- Reajusta o teu ritmo ao do outro: Ao fazeres isso, permites que se crie uma maior sensação de empatia e comunhão com o outro. Por exemplo, se o teu ritmo é demasiado acelerado quando comparado com o outro, procura torná-lo um pouco mais lento. Mas atenção: numa situação de conflito deves fazer o oposto, evita fazer “match”, procura suavizar os teus movimentos para que haja um contraste e o outro tenha de se reajustar a ti
- Observa a tua postura corporal: Evita cruzar os braços pois haverá uma tendência para passar a mensagem de que não estás confortável. Relaxa os braços. Evita colocar as mãos nos bolsos. Mantém a coluna direita e os ombros relaxados. Podes inclinar-te ligeiramente para a frente, reforçando que estás acessível e recetivo a uma aproximação.
- Mantém o contacto visual: Estabelecer contacto visual com quem nos fala demonstra interesse pelo outro, preocupação e credibilidade. Cuidado para não tornares o teu olhar demasiado fixo, pois neste caso, poderá ser interpretado como uma provocação. Respeita a regra dos 3 segundos.
- Utiliza a técnica de mirroring: Para criares mais empatia podes espelhar algum gesto e/ou postura que o outro possa estar a fazer. Isto não significa imitar o outro, mas corresponder de uma forma subtil a alguns pormenores que observas na pessoa. Geralmente quando existe uma ligação empática, este fenómeno ocorre espontaneamente.
- Não te esqueças dos comportamentos paralinguísticos: Aprende a modular a tua voz, dá enfase a palavras que queres realçar, alterando para isso a velocidade do discurso, o tom da voz, etc. A comunicação não verbal tem um papel crucial na comunicação. A forma mais eficaz de controlar e melhorar a comunicação não verbal é tornarmo-nos conscientes da nossa linguagem corporal e da forma como usamos o corpo quando comunicamos. O que significa que a propriocepção influi no desenvolvimento das competências sociais e relacionais. Caso tenhas interesse em explorar esta temática entra em contacto com o ESPAÇO S, teremos todo o gosto em criar workshops que trabalhem estes aspetos.
Bibliografia
- Bartenieff, I. (2002). Body movement: coping with the environment. New York: Routledge.
- Damasio, A. (1994). O erro de Decartes. Lisboa: Temas e debates.
- Fuchs, T. (2017). Intercorporeality and Interaffectivity, in Phenomenology and Mind, (11), pp. 194-209.
- Goldman, E. (2004). As others see us. Body movement and the art of successful communication. New York: Routledge.
- Jiménez, R. et al. (2013). Inteligencia emocional y comunicación: la conciencia corporal como recurso, in revista de docencia universitaria, 11 (1), pp. 213-241.
- Kestenberg, J. (2018). The meaning of movement: embodied developmental, clinical, and cultural perspectives of the kestenberg movement profile. New York: Routledge.
- Mehrabian, A. (1972). Nonverbal communication. Aldine-Atherton.
- Schmidsberger, F., & Löffler-Stastka, H. (2018). Empathy is proprioceptive: the bodily fundament of empathy – a philosophical contribution to medical education, in BMC medical education, 18(1), pp. 69.
- Stern, D. (2000). The interpersonal world of the infant: a view from psychoanalysis and developmental psychology. New York: Basic Books.
- Wahl, C. (2019). Laban/Bartenieff movement studies: contemporary applications. New York: Human Kinetics.
- Veenstra, L., Schneider I., koole, S. (2017). Embodied mood regulation: the impact of body posture on mood recovery, negative thoughts, and mood-congruent recall, in Cognition and Emotion, 31(7), pp. 1361-1376.
Filipa Narciso
Psicóloga do Espaço S