Rui Tato Marinho é, atualmente, Professor na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa (FMUL) e o Diretor do Serviço de Gastrenterologia e Hepatologia do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte (CHULN). Recentemente, nomeado pela Direção-Geral da Saúde (DGS), assumiu o cargo de Diretor do Programa Nacional para as Hepatites Virais. Trata-se de um dos 12 programas prioritários da DGS.
No passado dia 9 de outubro de 2021, assinalou-se o dia Mundial dos Cuidados Paliativos, por isso, desafiamos o Professor Rui Tato Marinho para falar sobre estas doenças.
O que são as doenças paliativas?
De acordo com o Professor, a grande maioria dos casos são doenças oncológicas, demências, por exemplo pessoas com acidentes vasculares cerebrais e que ficam acamados e outros com doenças neurológicas e degenerativas.
Os Cuidados paliativos ainda não são reconhecidos como especialidade médica. No entanto, um médico que tenha formação nesta área identifica muito cedo se um doente irá necessitar desses cuidados, enviando-o precocemente para uma abordagem paliativa. O Professor deixa como exemplo o cancro do pâncreas, “em que a esperança média de vida anda à volta de 4 a 5 meses, assim sendo, começamos a preparar o doente e a Família para os sintomas que virá a sentir, a dor, a icterícia, emagrecimento.”
Rui Tato Marinho menciona que a sociedade dá muita atenção à gravidez, às crianças, aos adolescentes, às pessoas que estão na idade ativa da vida, realçando que não vê esta atenção como um aspeto negativo, mas não se pode esquecer as pessoas que se encontram em fim de vida, porque estas deveriam, também, ter mais carinho, mais compaixão (compassionomics) e empatia, atenção e mais dignidade.
“Cada vez mais vamos ter mais pessoas com mais idade, mais cancros, mais demências, portanto, temos que nos preparar para o futuro. O futuro é a tecnologia, a inovação, a inteligência artificial, é os big data, mas a parte humana deve continuar a dar carinho aos mais velhos, aqueles que ajudaram a construir o país.”
Somos o quinto país do mundo com mais pessoas com idade superior a 65 anos.
Continuemos a falar em números.
Em jeito de curiosidade revela ainda que a população portuguesa não é tão saudável a partir dos 65 anos, como é um norueguês ou um dinamarquês, eventualmente pela falta de atividade física e pela menor atenção dada aos cuidados perante a saúde, designadamente estilos de vida saudável.
É urgente investir nos Cuidados e na Medicina Paliativa. É uma emergência social e um dever ético de nós todos. São os nossos pais, nossos avós, bisavós e algumas crianças que tiveram azar em ter um problema de saúde.
Há quase 20 anos que na FMUL existe o Mestrado em Cuidados Paliativos, uma iniciativa pioneira no país. Este ano, conta já com a 19ª edição e por esta formação já passaram cerca de 450 profissionais de saúde. A FMUL tem tido um papel pioneiro na formação de massa crítica.
“A minha homenagem ao Prof. António Barbosa, um visionário, que anteviu o futuro de forma correta, há 20 anos. No núcleo duro contamos com um Paliativista e com um Psicólogo com atenção particular à questão do Luto e Comunicação, respetivamente Prof. Paulo Reis Pina e Prof. Miguel Barbosa, secretariados pelo Instituto de Formação Avançada (Dra. Antónia Ferreira) e a Dra. Vivelinda. Colocar as dez unidades formativas, cada uma com 3 dias, do mestrado em pé é uma tarefa árdua, mas gratificante. Sinto que estamos a construir e promover a literacia nesta área, muito global e humanista.”
Os temas centrais desta formação em Cuidados Paliativos são a componente física, os sintomas, a dor, a alimentação, como tratar uma pessoa com cancro, o apoio mental (ajudar no tratamento da ansiedade, da depressão, da insónia) e, também, abordar a dimensão espiritual. O Professor relata que este tema da espiritualidade fica esquecido no tratamento científico, “quando estamos perante o fim de vida, mas a espiritualidade acaba por estar muito presente no nosso país e quotidiano, devido ao facto de termos um povo, maioritariamente, católico, sem esquecer todas as outras crenças religiosas e não religiosas.”
“A pessoa não é só um corpo, não é só um órgão é também uma mente, devemos dar a dimensão global, à parte social, espiritual e cultural, assim seremos mais felizes.”
Leonel Gomes
Equipa Editorial