Antes de falar do homem e do escritor, Oliver Sacks, e da obra que li dele, partilho convosco o trailer de um dos filmes que mais me marcou e que aborda questões como: Quem somos enquanto seres humanos, a incrível capacidade do nosso cérebro e o poder das relações humanas: Awakenings de 1990, é um filme que retrata a vida de um médico neurologista num hospital psiquiátrico e que descobre uma substância que estimula os seus doentes catatónicos, especialmente o caso do paciente Leonard, e o que advém desse despertar. Este filme conta com prestações fantásticas de Robin Williams e Robert De Niro, e é baseado no livro com o mesmo nome, escrito por Oliver Sacks, inspirado num caso real.
Este filme mostra de forma bastante fiel, a proximidade e empatia que Oliver Sacks, médico neurologista tinha com os seus pacientes, assim como o profundo respeito que nutria por todos os que dele se aproximava.
![Capa do Livro](/sites/default/files/inline-images/OZ.jpg)
Este espírito de cuidado e de sensibilidade é bem explicito no livro “O Homem que confundiu a mulher com um chapéu” , onde Oliver Sacks narra, de modo encantador, e nunca crítico, sobre os múltiplos casos que lhe apareceram ao longo da seu percurso profissional, de pessoas que foram seus pacientes por terem ou serem portadores de alguma doença ou lesão de base neurológica, e que por causa, ou graças a isso, para além das limitações óbvias para nós, pessoas sem esse tipo de lesão ou doença, terem também características fantásticas e únicas.
Neste livro, Oliver Sacks não faz uma ode ao heroísmo destas pessoas ou uma vitimização das mesmas. Pelo contrário: mostra estas pessoas, que, com as suas particularidades, têm defeitos e virtudes, refletindo sobre a importância da sociedade não as ver como pessoas com falhas, mas sim, olhar para essas pessoas como seres humanos inteiros com as suas próprias potencialidades inequívocas. “Dedicávamos muita atenção aos defeitos dos nossos pacientes – Rebecca foi a primeira a dizer-mo – e muito pouco ao que neles estava intacto e preservado” (pág 223). Ao longo das várias histórias que vai contando ao longo do livro, encontramos, entre outras, uma mulher que deixa de sentir o próprio corpo, um autista com uma sensibilidade especial para o desenho, um senhor com uma memória excecional para a música, sem um pingo de comportamentos sociais adaptativos, ou, como está explicito no título, um professor que confunde a cabeça da mulher com o seu chapéu.
Este livro, mais que um conjunto curioso de casos, em que espreitamos e vemos o exotismo de pessoas que não são como nós, mostra-nos o fantástico poder do cérebro humano, os seus recantos, as suas subtilezas, a importância de olhar para os humanos como seres humanos, com as suas próprias narrativas e histórias de vida, competências e aptidões. Oliver Sacks mostra-nos, de um modo profundamente generoso, como todos nós somos mais que as nossas circunstâncias, e que com o apoio certo e empatia todos nós podemos encontrar um lugar no mundo, um lugar onde somos nós próprios, e quem sabe, felizes.
Oliver Sacks, britânico, nasceu em 1933 e morreu em 2015, com 82 anos. Foi neurologista e psiquiatra, assim como um prolífico escritor. Teve sempre na base dos seus trabalhos a importância das relações humanas, e do papel não só da ciência, como da arte para a qualidade de vida dos seus pacientes.
Algumas obras do autor publicados pela editora Relógio de Água.
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