A pandemia atingiu o Mundo com uma força devastadora, ditando as regras de uma nova normalidade, tão anormal na perceção de todos,que levaram à suspensão de todas as aulas presenciais, bem como ao cancelamento de uma série de atividades na nossa Faculdade. O vírus forçou-nos a repensar estratégias e a implementar uma nova metodologia de ensino à distância. O desafio maior? Garantir o mesmo nível de excelência e uma aprendizagem segura, sólida, atendendo às necessidades e constrangimentos de alunos, docentes e colaboradores de múltiplos setores que contribuíram,determinantemente, para os excelentes resultados de uma nova experiência pedagógica. Talvez a maior lição desta pandemia tenha sido a expansão. Expansão de ideias e criação de possibilidades que, afinal, são tão possíveis quanto a vontade de concretizá-las.
O novo coronavírus veio, forçosamente, romper com o paradigma do ensino presencial e lançou um desafio enorme ao qual soubemos, prontamente, responder. Em apenas 24 horas e num esforço hercúleo e conjunto da Direção, Conselho Pedagógico, Coordenadores de Ano, Regentes e Docentes de todas as Áreas Disciplinares, Comissões de Curso, Conselho de Representantes da AEFML, e claro, Equipa de Audiovisuais e restante pessoal não-docente da FMUL, estabelecemos uma nova estrutura de comunicação assente em videoconferências.
Chegamos a um consenso, vimos condicionamentos, mas vencemos adversidades. E no último comunicado do Conselho de Escolas Médicas Portuguesas é afirmada a “posição comum e consensual” em “manter o regime de aulas não presenciais até ao final do presente ano letivo, considerando os resultados alcançados até ao momento e a apreciação muito positiva por parte de toda a comunidade académica”.Ainda que, de acordo com “a autonomia de cada Escola” e em “circunstâncias específicas”, possam realizar-se avaliações presenciais, o CEMP dá conta do “empenho em dar prioridade” ao ensino à distância que deve, desta forma, continuar a ser privilegiado.
Como disse Albert Einstein, o impossível existe até que alguém duvide dele e prove o contrário. E nós provamos que é possível. Progressivamente, o que era difícil tornou-se mais fácil e o que era complicado foi-se simplificando pouco a pouco. “O enquadramento”, explica-nos o Professor António Cidadão,“apenas fez com que uma vontade subjacente, um motor ‘pré-existente’, entrasse em funcionamento neste preciso momento e daí resultassem soluções ‘de sucesso’ para enfrentar um problema inadiável”.
Mas como é que tudo aconteceu? Procuramos saber junto dos docentes quais os maiores desafios ao longo de todo este processo. Um processo que teve nos Professores e Coordenadores de Ano os comandantes de um navio que se aventurou por mares e territórios inexplorados.“A minha preocupação do ponto vista profissional, nomeadamente com a licenciatura era que conseguíssemos que o “barco” se mantivesse a navegar”, adianta a Professora Catarina Sousa Guerreiro, que está no comando da Licenciatura de Ciências da Nutrição, declarando que a FMUL “assumiu uma estratégia muito clara e muito célere”. “Os colegas das outras escolas, naquela altura, não tinham qualquer orientação interna das suas instituições. Mas também eles foram muito proactivos e colaborantes. A situação não permitia que fosse de outra forma”, lembra, explicando que “o passo seguinte foi solicitar planos de contingência a todas as regências”.
“Inicialmente, pareceu-me quase impossível encontrar uma forma de substituição para as aulas presenciais, uma vez que as disciplinas pelas quais sou responsável são sobretudo clínicas”, começa por revelar a Professora Helena Cortez-Pinto, Médica Gastrenterologista e Coordenadora do 6º Ano, adiantando que “estas aulas têm habitualmente um contacto direto com o doente, realizando-se a colheita de história, o exame físico, e depois a discussão das várias hipóteses de diagnóstico. No que diz respeito ao 6ª Ano, mais difícil ainda, dado que os alunos estão em estágios clínicos, com uma atividade semelhante à dos médicos. Assim, trata-se de uma aprendizagem baseada na experiência e na realização de procedimentos”.De acordo com a Professora, e no que diz respeito ao 6º Ano, “conseguimos, graças a um grande esforço coletivo, com a colaboração do conselho do 6ª ano, dos alunos e do gabinete de gestão curricular, que fossem planeadas 128 aulas de 1h e 45 minutos cada, num plano com duração de 14 semanas”, tendo já sido leccionadas até ao momento mais de 90 aulas por videoconferência ao 6º Ano.
Catarina Sousa Guerreiro explicou-nos, também, que foi estruturado um plano em três fases, sendo que a primeira cessava no período da Páscoa, a segunda estendia-se até ao final de abril e, por fim, a terceira prolongar-se-ia até ao fim do mês de maio.
O Coordenador do 1º Ano,e Professor no Instituto de Histologia e Biologia do Desenvolvimento, Carlos Plancha revela-nos que, quando confrontados com a decisão de suspensão das atividades letivas presenciais, “foi imediata a concordância dado a gravidade da situação”, considerando“particularmente importante para o sucesso da medida ter sido,simultaneamente, oferecida a alternativa das aulas por videoconferência”.
Para o Professor António Vaz Carneiro, que coordena o estágio clínico do 6º Ano em Medicina Geral e Familiar e ainda toda a atividade do 3º Ano, a primeira reação foi de “desastre completo, seguido de preocupação imediata”, apontando a “coordenação entre a parte técnica (AVs), os docentes e os alunos”, como as principais dificuldades na implementação do ensino por videoconferência.
A medida tomada pela Direção da Faculdade provocou “uma sensação muito clara de que era uma decisão necessária e fazia todo o sentido”, conta o Professor António Cidadão, que coordena o 3º Ano. “Por outro lado”, prossegue, houve “uma sensação de desafio em tranquilidade, proporcionada pela imediata resposta do Conselho Pedagógico”,realçando “as posições e intervenções do seu Presidente”. “Numa situação de exceção, até à altura desconhecida, foi-nos dado o necessário suporte conceptual e o acesso institucional a um conjunto de ferramentas operacionais necessárias, para levar a bom porto um leque de soluções adaptáveis às especificidades das diferentes unidades curriculares do MIM e de outras Licenciaturas da FMUL. Soluções distintas, exequíveis em tempo útil, e sempre com a necessária qualidade e rigor que as tornasse credíveis no ensino e avaliação dos nossos alunos”, frisa o Professor António Cidadão.
No caso da licenciatura em Ciências da Nutrição,“que tem um número reduzido de alunos quando comparado com o MIM”, explica-nos a Professora Catarina Guerreiro,“a estratégia foi tentar manter ao máximo o horário dos estudantes, tal como em ensino presencial, conscientes porém que a metodologia de ensino, em especial nas teórico-práticas e práticas, teria de ser alterada”. A Professora dá, ainda, conta de “uma pequena dificuldade acrescida neste semestre, pois os nossos alunos de 2º ano têm muitas disciplinas na FF e FMH, obrigando a que também docentes extra FMUL tivessem que se adaptar”.
E no que respeita aos obstáculos resultantes da implementação de uma nova estrutura de ensino, António Cidadão considera que o modelo exclusivo por videoconferência veio “exacerbar as dificuldades já bem conhecidas do ensino presencial.” “Inesperadamente, devo confessar, tive sempre a sensação de que estava a lecionar uma aula real. Ter tido acesso a boas ferramentas ajudou muito, e ter podido contar com um excelente apoio à utilização da plataforma de videoconferência foi essencial. A habituação às ferramentas de ensino à distância, tanto por parte dos docentes e como dos discentes, é um fator importante, mas posso testemunhar que a curva de aprendizagem é rápida. Tratar-se de um evento em tempo real, “ao vivo”, é para mim um fator muito positivo”,destaca o Professor. “Na verdade, continua a tratar-se de uma aula em discurso direto, com a sensação de que os alunos estão presentes. Uma aula pré-gravada, independentemente da sua qualidade, pode tendencialmente apresentar informação formatada como se em suporte escrito. Por outro lado, o ambiente de videoconferência permite interação, mas permite controlar interação perturbadora, um dos fatores que infelizmente pode ocorrer em aulas presenciais”, conclui António Cidadão, enaltecendo a postura “admirável” dos alunos ao longo do semestre.
Na opinião de Helena Cortez-Pinto, o maior obstáculo prendeu-se “com a necessidade de elaborar uma estrutura de aulas, que conseguisse tanto quanto possível, mimetizar o que é atividade clínica”, reforçando que os alunos do 6º ano têm “necessidade de interagir, de treinar decisões clínicas, de saber o que deve ser feito nas diferentes situações. Por outro lado, no caso dos alunos do 6º ano, considerámos que seria muito útil que estas aulas fossem também uma forma de preparação para a Prova Nacional de Acesso.”Assim, de acordo com a Professora, as maiores dificuldades prenderam-se com a necessidade de criar uma tipologia de aulas com a qual a maioria dos docentes não estava familiarizada, “e com tecnologias que até esta altura desconhecia”.“A acrescentar a isto, o facto de estarem a falar para uma audiência que não estavam a ver, e por vezes com problemas técnicos relacionados com a rede disponível, condicionando problemas de imagem e de som. E tudo a acontecer numa altura em que muitos dos docentes envolvidos, estavam também fortemente envolvidos na atividade clínica relacionada com a pandemia”, afiança, evocando a agravante do “grande stress emocional da situação de pandemia na sua fase inicial”.
O Professor Carlos Plancha conta que “numa fase inicial existiu a dificuldade de compatibilização dos horários entre as várias Áreas Disciplinares, tentando preencher-se ao máximo os horários disponíveis”, revelando que as dificuldades técnicas que se verificaram inicialmente “foram ultrapassadas pelo profissionalismo da equipa de apoio dos Audiovisuais, e pelo empenhamento conjunto dos docentes e dos alunos”. “À medida que as semanas foram passando, tornou-se mais clara a necessidade de alternar os períodos de leccionação com períodos sem aulas”, recorda, explicando a importância dos“alunos consolidarem os conhecimentos e exercitarem a sua crítica. Períodos abertos para dúvidas no final da aula e até aulas de revisões ou de dúvidas, foram sendo progressivamente incorporados por algumas áreas disciplinares, com o mesmo objectivo de permitir aos alunos o exercício da crítica e a consolidação dos conhecimentos”, remata.
Sobre o que se perdeu e o que se ganhou com esta nova experiência pedagógica, o contacto direto e a interação na relação pessoal que demos sempre como garantida conquistou unanimidade. Mas na perspetiva do Professor Vaz Carneiro ganhou-se “a liberdade dos alunos verem as aulas quando podem”, destacando também “a poupança entre horas de transportes e o respetivo stress e poluição”.
“Existem sempre aspetos positivos e negativos” assegura, por sua vez, o Professor Carlos Plancha. “A perda das interações diretas entre docente-discente e discente-discente são aspetos importantes que se perdem. Contudo, existe também uma certa individualidade na perceção desta forma de ensino por parte dos alunos. E as questões suscitadas por alguns alunos são mais claramente percebidas por todos os seus colegas”.
“O que se perde é talvez o mais evidente”, afirma Helena Cortez-Pinto numa reflexão sobre a atividade letiva intrínseca ao 6º Ano. “Nas aulas práticas ou nos estágios, é o contacto com o doente, incluindo o diálogo, o exame físico e a possibilidade de realização de procedimentos. Nas aulas teóricas é a impossibilidade de vermos a reação dos alunos, fazer perguntas diretas, termos a sensação do efeito que tem o que estamos a dizer”. Mas,por vezes, a distância tem a incrível capacidade de estreitar ligações. “Curiosamente, e não estando à espera disso, consegui ter a sensação de estar mais perto dos alunos em determinadas circunstâncias, e outros docentes confirmaram, também, esta experiência. Como exemplo, quando se utiliza um sistema de votação incorporado nas aulas, ou o ‘chat’, conseguimos de imediato ter a opinião de um grande grupo de alunos e saber qual a sua opinião”, revela a Professora Helena Cortez-Pinto, partilhando um momento de especial comoção. “Lembro-me como fiquei comovida, no fim das primeiras aulas do 6º Ano, quando os alunos se manifestaram no ´chat´ de forma tão calorosa e agradecida que foi extremamente gratificante”.
A postura irrepreensível dos alunos é reconhecida pelos Professores neste processo, no qual os discentes do Conselho Pedagógico tiverem um papel de “crucial importância”, como afirma Joaquim Ferreira, recordando que “colaboraram ativamente na elaboração das recomendações que suportaram todos os procedimentos pedagógicos implementados e supervisionaram, com grande proximidade e rigor, o planeamento de todas as aulas e a interação entre docentes e alunos”.
Em entrevista à Associated Press sobre as aulas à distância, as nossas Discentes Inês Abreu e Maria José Santos reforçaram a importância de evitar o risco de contágio pelo novo coronavírus e partilharam a sensação de segurança face a uma rotina marcada pela confinamento.
O Professor de Neurologia e Diretor do Laboratório de Farmacologia Clínica da nossa Faculdade expressa, assim, um profundo agradecimento “a todos os alunos que levaram muito a sério todo este esforço e responderam com uma participação maciça às aulas por videoconferência, o que se revelou extremamente motivador para todo o corpo docente”, não poupando elogios aos restantes elementos do Conselho Pedagógico. “Foram exemplares na disponibilidade, competência, colaboração e solidariedade nas múltiplas decisões que tivemos de tomar num contexto de grande incerteza. Este obrigado é extensível ao apoio de secretariado do Conselho”.
Para o Professor Joaquim Ferreira, este foi um período de “grande aprendizagem”. Mas que lições tiramos para o futuro?
No dia em que a Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa retomar as atividades letivas presencias, qual vai ser o futuro do ensino por videoconferência? Haverá lugar para esta nova forma de ensinar, estaremos dispostos a fazer ajustes nos nossos programas de aulas e implementar uma nova forma de praticar o Ensino da Medicina? O Professor Vaz Carneiro responde com um assertivo “absolutamente”, sem deixar margem para dúvidas de que é nesse sentido que devemos enveredar caminho.
“Foi possível concluir, rapidamente, que é possível ensinar medicina à distância e que a qualidade das aulas pode não sair prejudicada em muitas disciplinas. Estou totalmente convencido que muitas das mudanças implementadas não terão retorno e não voltaremos a ensinar da mesma forma”, defende o Professor Joaquim Ferreira.
Com a mesma certeza respondeu, também positivamente, o Professor Carlos Plancha. “Quando retomarmos a atividade presencial poderemos tirar ainda melhor partido destas duas formas de ensino. Poderemos reservar a atividade presencial para aulas com baixo número de alunos, com envolvimento prático ou necessidade de discussão, onde a interação docente-discente e discente-discente sejam particularmente importantes. E expandir a atividade por videoconferência para grande parte do chamado ensino teórico. Diria que no futuro com actividade presencial, os períodos de ensino por videoconferência dirigidos a todos os alunos deverão manter um horário sem sobreposições, eventualmente até com auditório reservado para quem preferir aí seguir a apresentação. Desta forma poderão ser rentabilizados os períodos de contacto para esclarecimento de questões apresentados pelos alunos", pondera o Coordenador do 1º Ano.
Por seu turno, Helena Cortez-Pinto entende que “o ensino à distância poderá ser usado com mais frequência do que até agora, sem que de alguma forma me pareça que vá substituir a atividade presencial”. No entanto, a Professa acredita que possam ser usados com mais frequência “os sistemas de votação incorporados nas apresentações, quer seja o ´polleverywhere´, ou outro sistema semelhante de votação”, realçando que “estes sistemas permitem, de facto, uma interação muito mais profunda com os alunos, o que é vantajoso para ambas as partes”.
O Professor António Cidadão ressalva que o ensino à distância não deve substituir o ensino presencial, considerando que o primeiro completa o segundo numa fusão de metodologias que teve nota positiva nestes primeiros testes.“Se no caso da componente prática da disciplina de Histologia as aulas presenciais tutoriais são absolutamente necessárias para treinar nos alunos uma capacidade de diagnóstico, essencial na sua futura atividade clínica, uma tipologia de aulas teórico-práticas por videoconferência, nomeadamente, utilizando o património de preparações histológicas virtuais do IHBD, poderá também ser relevante”, anota, referindo-se concretamente à preparação dos alunos para subsequentes aulas presenciais, “nas quais lidarão com a “diversidade real” só presente em preparações histológicas e observação microscópica “hands-on”.
António Cidadão recorda, ainda, que “na situação vigente antes da pandemia, os alunos já tinham assegurada a lecionação teórica de um tema antes do referido tema ser abordado em sede de aulas práticas presenciais, através de tutoriais”. Contudo, e não obstante “o vasto manancial de conteúdos de e-learning disponibilizado pelo IHBD”, o Professor conta que“era notória uma dificuldade na preparação dos alunos para conseguirem aproveitar ao máximo as aulas práticas”, estando convencido de que “uma futura introdução de aulas de tipologia teórico-prática, lecionadas por videoconferência à semelhança do que sucedeu este semestre, terá óbvias vantagens”.
O ensino prático tutorial deve, na opinião do Professor António Cidadão, ser uma aposta para o futuro no Ensino da nossa Faculdade, confessando,também, ter sido positivamente surpreendido pelo “ambiente de videoconferência no que respeita ao ensino teórico e a modelos específicos de ensino teórico-prático”.
O sucesso alcançado com o ensino à distância na FMUL deveu-se, na opinião do Professor Vaz Carneiro, à “dedicação e competência de todos os envolvidos” e “à enorme disponibilidade que o corpo docente manifestou para colaborar neste novo modelo de aulas”, acrescenta a Professora Helena Cortez-Pinto.
Carlos Plancha, por seu turno,salienta o facto de as aulas se manterem “interessantes e úteis para os alunos poderem prosseguir autonomamente o estudo e trabalho adicional”.
No caso concreto da disciplina de Histologia do MIM, António Cidadão considera que as aulas por videoconferência proporcionaram “uma boa solução para dar continuidade à lecionação aos alunos do 1º ano”, lançando um desafio que trouxe, simultaneamente, uma “oportunidade para repensar o modelo tradicional de aulas teóricas, tendencialmente acompanhado por uma quebra da afluência de alunos ao longo do semestre, a qual indevidamente lhes subtrai parte do seu real papel no processo formativo dos nossos estudantes”.
A Diretora da Clínica Universitária de Gastrenterologia e do Laboratório de Nutrição da FMUL, destaca, ainda, que os docentes “conseguiram a muito curto prazo criar novas aulas de raiz, com metodologias que nunca tinham usado antes, recorrendo à sua prática clínica, mas também às indicações e pedido dos alunos para que usassem especificamente determinadas fontes bibliográficas”. Helena Cortez-Pinto realçou o contributo decisivo dos alunos nas diligências de um processo complexo com mudanças acentuadas, no qual revelaram uma “intensa e proactiva colaboração, prontificando-se para colaborar na estruturação de planos curriculares de novo e, mais uma vez, a muito curto prazo”, bem como “a devoção dos técnicos dos meios audiovisuais e todo o pessoal administrativo, que trabalharam muito para além dos seus horários e obrigações para tornar possível este enorme número de aulas”, garante.
E se existe alguma receita secreta para os resultados positivos alcançados com a reestruturação do ensino na nossa Faculdade, o Professor António Cidadão afirma que o “segredo” está “no real valor das aulas, mas fundamentalmente na nossa Instituição como um todo, Direção, Pedagógico, docentes e colaboradores não docentes, e alunos obviamente. Houve a coragem e determinação para implementar, e aceitar em tempo real, um conjunto de soluções ‘possíveis’, mas sempre de qualidade assegurada, e saber fazê-lo mantendo o necessário rigor”.
O Professor Joaquim Ferreira, que enquanto Presidente do Conselho Pedagógico desempenhou um papel fundamental na articulação do processo desde o primeiro momento, aponta a “capacidade de antecipação das implicações da pandemia para uma Escola Médica inserida num grande Hospital, associado a uma grande disponibilidade e generosidade de todos os membro da nossa Comunidade Académica” (destacando a equipa de audiovisuais que supervisionou todas as aulas a partir de suas casas) como fatores determinantes para o sucesso da implementação do ensino à distância.
“Esta enorme capacidade, deve ainda ser mais valorizada, quando grande parte do corpo docente manteve atividade hospitalar, num contexto de grande exigência e risco”, ressalva Joaquim Ferreira.
Também para a Coordenadora Pedagógica do 6º Ano, Helena Cortez-Pinto o sucesso do ensino à distância deveu-se, indubitavelmente,“à Direção da Faculdade, ao Conselho Pedagógico e aos seus diretores, que estimularam toda esta atividade e a apoiaram minuto a minuto”.
António Cidadão revela-nos que foi uma experiência surpreendente não só “pelo estímulo na preparação das aulas”, como também “pela satisfação”que obteve na lecionação das mesmas, e faz-nos algumas confidências.
“Confesso que um modelo de pré-gravação de aulas e subsequente disponibilização aos alunos, eventualmente em anos sucessivos, para visualização em horário e frequência completamente aberta, não me seduzia e ainda não me seduz. Pelo contrário, o modelo de videoconferência em tempo real, em horários específicos que estimulem organização e disciplina por parte dos alunos, que permita interação sem perturbação, e que se possa mais tarde revisitar como se de uma biblioteca de aulas gravadas se tratasse, é o melhor dos dois mundos. Conferências, seminários integrados, aulas teóricas a cargo de docentes com especial capacidade integradora, são experiências formativas notáveis, muito enriquecedoras, e que se devem manter em modelo presencial, independentemente da sua subsequente disponibilização em suporte vídeo”, adianta.
Uma confidência de ordem diferente chega-nos através do Professor Joaquim Ferreira, agora com a segurança de já ter “passado o maior tumulto” em que “podemos ser mais abertos na partilha dos nossos maiores receios ao longo deste período”. Primeiramente, “tememos pela saúde dos nossos alunos que vivem diariamente num ambiente hospitalar”, revela, expressando, também, a preocupação causada pelo “risco de se confundir suspensão de aulas presenciais com suspensão total de atividade letiva”. “A suceder, poderia implicar a perda de um semestre com as consequentes implicações nas legítimas expectativas de progressão académica dos alunos”.
Sobre a reação dos alunos a um novo modelo de ensino, a Professora Catarina Sousa Guerreiro compreende que os estudantes do 1º ano “se sentiram um pouco desorientados”. “Já em condições normais é sempre um ano de adaptação a uma outra realidade, e no nosso curso este semestre é especialmente carregado em termos de carga de trabalho”, afirmando que terminado o primeiro mês de aulas à distância, os alunos “sentiram-se a perder a capacidade de trabalho, de produção”, pelo que “houve necessidade de aferir se a carga de trabalho que lhes estávamos a solicitar, na tentativa de substituir aulas TP e algumas P, estaria a ser superior e, eventualmente, desajustada face ao inicialmente previsto”, o que conduziu a uma“reflexão necessária entre comissões de curso, regências e coordenação de curso”.
Porque “nem sempre podemos explicitar, no momento, tudo o que motiva as nossas decisões”, Joaquim Ferreira partilha agora que “o enorme grau de exigência e de peso letivo implementado, mais não pretendia do que validar o ensino que foi possível ministrar neste semestre”. E o Professor manifesta, ainda, a certeza de que, “em conjunto, atingimos este objetivo e podemos, desde já, começar a planear o próximo ano letivo, que infelizmente ainda não vai significar o regresso à ‘anterior’ normalidade”.
Segundo a Coordenadora da Licenciatura de Ciências da Nutrição,Catarina Sousa Guerreiro,“as dificuldades que foram surgindo, diariamente, foram ultrapassadas com bastante serenidade”.
E acerca da componente avaliativa, um modelo à distância pode ser igualmente uma boa opção, refere o Professor António Cidadão, pois “liberta os já reduzidos e preciosos tempos de contacto”, e expõe um exemplo concreto. “Além da avaliação continuada, em sede de aulas práticas tutoriais, a disciplina de Histologia há muito que utiliza um modelo de quiz/testes de escolha múltipla invariavelmente baseados em imagens para avaliar capacidade de diagnóstico diferencial e de estabelecimento de correlações morfofuncionais por parte dos alunos. A dinâmica de pergunta-resposta nestas avaliações, com progressão obrigatória e sem possibilidade de retorno a perguntas respondidas, mimetiza a situação que ocorre em sede de avaliação oral”. Ora, foi com “grande satisfação” que o Professor verificou que “a transposição deste modelo de avaliação para ambiente remoto foi muito fácil, tudo decorreu sem problemas de maior, e refletiu-se num desempenho por parte dos alunos semelhante ao conseguido em avaliações presenciais. No entanto, dado que todas as perguntas utilizadas nos testes à distância foram subsequentemente disponibilizadas aos alunos, com feedback da resposta, foi possível construir gradualmente uma base com várias centenas de perguntas de autoavaliação, uma mais-valia que manterá a sua utilidade em anos letivos subsequentes”, atesta, pretendendo manter esse sistema de avaliação em “ambiente remoto” aquando do novo arranque das aulas presenciais.
“A mudança nunca é fácil”, diz-nos a Professora Catarina Guerreiro, considerando, no entanto, que “a adaptação de todos foi bastante tranquila”.
Consciente de que a adoção de um modelo não presencial foi facilitado pelo facto do IHBD há muito ter investido na elaboração, para disponibilização aos alunos, de um conjunto de conteúdos de e-learning, António Cidadão explica que tais conteúdos foram “originalmente concebidos para guiar os estudantes num modelo de ensino prático presencial tutorial” (sendo que o acesso aos mesmos na presente conjuntura “passou comprovadamente a ter importância acrescida”). O Professor partilha, ainda, um desejo para o futuro. “Gostaria já de ter podido disponibilizar este semestre, e que entendo como um desafio para futura implementação, a disponibilização online, e em tempo real, dos conteúdos de e-learning do IHBD. Por compreensíveis especificidades da plataforma Moodle, a única solução possível este semestre foi a de os alunos descarregarem os conteúdos para subsequentemente instalação nos seus computadores pessoais”.
De momento, e empenhada na “fase de planeamento e teste da avaliação à distância”,a Professora Catarina Guerreiro recorda como, no início, e já com “consciência do que nos esperava”, “tudo era uma incógnita”. No entanto, mantivemos a consistência e avançamos rumo ao desconhecido numa realidade incerta, mas com a certeza de fazer o nosso melhor a cada dia.
Hoje, olhamos para trás e vemos que nesta profunda reestruturação em que, como disse o Professor António Cidadão, “todos deram muito” e exigiram em igual medida, as ideias a reter são “empenho e unidade institucional”, duas forças da nossa Escola de que tanto nos orgulhamos. E sustemos essas forças, confiantes, aguardando expectantes pelo dia em que abriremos novamente as portas da nossa Faculdade para, juntos e mais próximos do que nunca, superarmos lado a lado novos desafios.
Sofia Tavares
Equipa Editorial