Um novo caminho começou a desenhar-se no início de março, quando no dia 6 se decidia, em reunião do CAML (Centro Académico Universitário de Lisboa), a suspensão de todas as atividades letivas presenciais e tudo o que envolvesse contacto entre estudantes e os doentes. A partir daqui, tornava-se imperativo encontrar outros planos de ação que possibilitassem as aulas à distância, não se aceitando como cenário prejudicar a aprendizagem dos estudantes que viam agora as aulas subitamente interrompidas.
Chegava um fim-de-semana trabalhoso quanto desafiante, planear um esquema de trabalhos, envolvendo intervenientes de diversas áreas, era tarefa de mestria que viria a ser dinamizada pelo Presidente do Conselho Pedagógico, o Prof. Joaquim Ferreira, rodeando-se imediatamente de uma “equipa de contingência”.
Quem relata o que se seguiu na segunda dia 9 de março, logo pela manhã, são os Discentes do Conselho Pedagógico, peças fundamentais num processo que só funcionaria se todos dessem o seu melhor. “É convocada uma reunião extraordinária do Conselho Pedagógico (CP). No dia 8 de março, o CP deu oficialmente os primeiros passos: foram aprovadas as recomendações pedagógicas “.
Ainda nesse dia, o Conselho de Escolas Médicas Portuguesas (CEMP), presidido pelo também Diretor da Faculdade de Medicina, Fausto J. Pinto, fazia sair um comunicado onde anunciava a suspensão de todas as atividades letivas presenciais, algo que se iria traduzir no encerramento completo das Escolas.
Já não havia dúvidas, as aulas terminariam para todos, assim como os estágios do 6 º ano. Manter atividade, num espaço dividido com o maior hospital do país, não garantia segurança ao corpo docente, alunos e funcionários, assim como podia fragilizar o próprio doente.
A 11 março, pontualmente às 8 h da manhã, mais de 300 estudantes ligavam-se em simultâneo. Cinco dias depois, a 16 de março era o 6º ano que retomava as suas aulas teóricas.
Num casamento silencioso entre Direção, Conselho Pedagógico, Docentes e Discentes, Comissões de Curso e Associação de Estudantes, tudo ficou a postos, todos os horários foram reajustados para que se criassem aulas para todos, sem atropelos, através da “entrada de forma ordenada destas aulas por slots, em salas virtuais”, explicar-me-ia mais tarde um dos responsáveis. Mas tudo se concretizou porque uma pequena equipa abdicou de muitas horas de sono e da família pelo espírito de união, brio profissional e acima de tudo porque sentiram a missão que precisavam de ajudar a chegar a informação aos estudantes.
Implementado o formato na plataforma Zoom e ultrapassadas dificuldades com os limites de tempo por sessão, bem como o número de participantes por cada aula, a Equipa dos Audiovisuais rapidamente encontrou a alternativa do streaming pelo youtube, do modo a garantir que todos os alunos interessados não ficassem de fora.
Foi toda esta ginástica de um puzzle novo que permitiu garantir o ensino à distância quer para as Aulas do Mestrado Integrado em Medicina, quer para Ciências da Nutrição, assim como para Engenharia Biomédica e a Licenciatura em Ciências da Saúde.
Para que nada escapasse a uma premeditada organização, a cada ano atribuiu-se um responsável pela monitorização, assegurando as gravações das aulas, bem como a comunicação de dificuldades mais imediatas. “Talvez tenha sido este o segredo de tudo estar a correr bem!”, comentou o João Godinho dos Audiovisuais.
Passava pouco depois das 7h da manhã, do dia 11 de março, quando recebíamos então uma fotografia no telemóvel, com várias pessoas sentadas em frente a computadores e de headset colocado: “por aqui tudo testado e estamos a postos para começar as aulas”. A mensagem era enviada por Isabel Aguiar, Diretora de Serviços de Gestão Administrativa da Faculdade.
Passaram, entretanto, dois meses, o tempo que quisemos esperar até conseguir pedir-lhes novamente tempo, para que nos fizessem viver esses primeiros momentos de incerteza e pressão, mas sempre à procura do lado positivo dos processos de crise. Ainda assim, sem conseguirmos representar todos, estes são alguns dos elementos que ajudaram a mudar o conceito da aula.
João Godinho – Coordenador da Equipa de Audiovisuais, esta foi a equipa que esteve a gerir tudo tecnicamente
Quando te é comunicado que a Faculdade ia passar a ter de dar aulas à distância quais foram as tuas principais reações e pensamentos?
João G: Na verdade, desde 2004, que asseguramos as aulas do 1º e 2º Ano MIM em videoconferência, nos auditórios da Faculdade, diariamente com a Universidade da Madeira, não nos é assim tão invulgar. Mas, o que me veio à cabeça de imediato, foi como poderia ajustar o nosso Know-how adquirido aos longos destes anos, com as novas tecnologias disponíveis para esta nova situação.
Pedro Mendes – Dá apoio às aulas do 4 º ano e pertence aos Polos Administrativos
Pedro M: “Preciso de auscultadores com microfone!”. Foi aquilo que pensei.
O dia em que foi decidido o recolher obrigatório dos alunos foi singular. Ainda não havia bem noção do que nos esperava. O dia seguinte, ainda mais estranho foi, com os corredores da Faculdade sem o habitual burburinho e azáfama dos alunos. No fundo, o que mantém viva a nossa Escola e a razão da nossa Missão.
No momento em que me colocaram o desafio de assegurar aulas à distância (via zoom), tudo foi imediato e rapidamente se constituiu uma equipa de trabalho, liderada pelo João Godinho e assessorada pelo Conselho Pedagógico e Coordenadores de Ano. O trabalho foi dividido e repartiu-se a responsabilidade de apoiar cada um dos anos curriculares e respetivas rotações nos anos clínicos. Fiquei responsável por apoiar a Rotação de Medicina do 4º ano.
O apoio às aulas nos dois primeiros dias foi realizado, ainda, nas instalações da nossa Escola. Houve alguma preocupação inicial, por desconhecimento da plataforma e por ausência de tempo para formação (recorremos todos ao autodidatismo: experimentar e aprender), mas foi mitigada rapidamente. Todos nós (incluindo discentes e docentes) partimos de algo inexistente e, de certa forma, desconhecido e construímos uma rede de ensino segura e fiável, apesar do contexto. O ponto fulcral foi a comunicação (especial agradecimento à Dora Ramos, que tem feito um trabalho inexcedível). Na verdade, em nenhum momento senti receio de não conseguirmos (enquanto equipa) “entregar esta carta”, mas a resposta dada superou largamente as melhores perspetivas. O grupo formado também não podia ter sido melhor e permitiu, desde o primeiro minuto, um ambiente de trabalho descontraído e informal. Em pouco tempo, todos nos habituámos e recebemos de braços abertos o novo colega “Zoom”.
Sara Ambrósio – Dá apoio administrativo à Licenciatura de Ciências da Nutrição
Sara A: Pensei que íamos iniciar um novo processo de aprendizagem, completamente desconhecido para todos, mas que, a acontecer, rapidamente teríamos de agir e começar a trabalhar, no sentido de fazer com que as aulas nunca parassem e os alunos não fossem prejudicados, garantindo assim alguma ‘normalidade’.
Bernardo Serro – Dá apoio aos estudantes em mobilidade e pertence à área Académica
De onde veio esta iniciativa de se voluntariar para ficar a dar apoio à distância aos estudantes?
Bernardo S: A iniciativa partiu de uma reunião via Zoom com a minha chefia, onde foi colocado o problema de como se iriam realizar as provas públicas do 6º ano do Mestrado Integrado em Medicina. Estava determinado que as provas teriam de ser realizadas através da aplicação Zoom e foi aí que demonstrei os meus conhecimentos nesta aplicação, pois já a tinha utilizado num curso de doutoramento que estou a frequentar. Fui então questionado pela chefia, se estaria disposto a assegurar as provas públicas de 6º ano e sem hesitações aceitei o desafio.
Desde o início que tu e toda a tua equipa fizeram parte da organização técnica das aulas. Consegues descrever-me aqueles dias em que, até em coordenação com o Prof. Joaquim Ferreira e as comissões de estudantes, precisaram de estruturar tudo para estarem prontos?
João G: O Professor Joaquim Ferreira foi a chave para o sucesso de todo este mecanismo, de forma a assegurar todas as aulas em videoconferência a partir de casa.
Sem o cunho dele, certamente não teríamos a mesma adesão por parte dos Docentes.
Agradeço a total confiança que o Professor depositou em mim na reorganização da estrutura criada para darmos o apoio e a monitorização às aulas virtuais, com a colaboração essencial da Dra. Isabel Aguiar.
Os colegas André Fonseca, André Silva, Bruno Santos, Bernardo Serro, Celina Vieira, Gonçalo Dinis, Miguel Andrade, Paulo Caeiro, Pedro Mendes, Rui Vila e Sara Ambrósio, desde o primeiro momento demonstraram um enorme profissionalismo e competência pela tarefa que lhes foi atribuída.
Rapidamente percebi que tinha a equipa certa para este novo desafio.
Celina Vieira - exerce funções no Gabinete de Assessoria Organizacional da APA - Área dos Polos Administrativos - e desde o primeiro dia esteve na linha da frente com a primeira equipa das aulas
Celina V: Da experiência que tive e em termos de contributo e experiência pessoal, posso dizer que foi muito desafiante. Foi um verdadeiro “alinhar das tropas” de um dia para o outro (literalmente). A gestão e o acompanhamento das aulas foi feito a partir de casa em regime de teletrabalho. Houve realmente necessidade de adaptar as rotinas familiares, gerir horários em função desta “nova responsabilidade” enquanto vivemos numa realidade pandémica com todos os cuidados/rotinas que isso implica.
Após algumas semanas, que se tornam já em meses, acho que é realmente importante enfatizar o esforço coletivo de todos (colaboradores não docentes, docentes e alunos). Conseguimos assegurar, ainda que noutros moldes, a essência do ensino através de novas ferramentas online e com o devido “distanciamento social”.
Diante deste novo cenário das aulas à distância quais foram os teus grandes desafios?
Pedro M: No final do segundo dia de apoio às aulas à distância, tomámos a decisão conjunta de que o trabalho iria ser garantido a partir de casa logo a partir do dia seguinte (13 de Março). O verdadeiro desafio começava naquele instante. O foco passou a estar diretamente no binómio gestão familiar – teletrabalho e obrigou a muito “jogo de cintura”.
De uma forma geral, tem sido um sacrifício diário, pela gestão familiar com o trabalho em simultâneo, mas com o sentimento de dever cumprido. Tanto perante os colegas que estão, também, a lutar para que a atividade educativa se mantenha, como perante a própria instituição, que tem um lugar e prestígio a defender. As horas de descanso e de lazer desapareceram e o convívio em família é diminuto, mas espero que todo o processo sirva de plataforma de ensinamento para a eventualidade deste circuito ter de ser novamente implementado e melhorado num futuro próximo.
João, se te pedisse um dos pontos mais positivos deste novo sistema de aulas, já o conseguirias identificar?
João G: As gravações das aulas, que vão sendo alojadas no Google Drive e divulgadas pelos Discentes do Conselho Pedagógico. Este repositório de aulas é, sem dúvida, um dos pontos bastante positivos que fica deste plano de contingência.
Penso, que até ao momento, não ficou nenhuma aula por lecionar, apesar de todos os constrangimentos que vão surgindo diariamente.
É ainda importante salientar, que todas as atualizações que vão surgindo pontualmente aos horários, vão sendo informadas através da Dora Ramos do Conselho Pedagógico que faz a ponte entre os Docentes e os nossos colegas que dão apoio às sessões.
Há alguma situação particular que te tenha marcado nesta fase, Pedro?
Pedro M: Do ponto de vista dos Docentes, em muitos momentos, houve a necessidade destes lecionarem as suas aulas a partir da sua unidade hospitalar, com todas as implicações que daí surgiram. Muitos dos computadores de trabalho não estão preparados para o efeito e, por vezes, aconteciam interrupções (porque o seu dever para com os doentes estava acima de tudo). Neste capítulo, houve uma situação muito peculiar. Encontrava-me em contacto telefónico com um Sr. Professor, ajudando-o a preparar o computador onde ia ligar-se e, naquele instante, recebe a informação de um grave problema na sua unidade. Percebi, em direto, a preocupação que inundou aquele serviço, obrigando, inclusive, o Sr. Professor a mudar de instalações. Apesar da contrariedade, manteve o foco e a preocupação em encontrar uma alternativa para dar a aula aos seus alunos. E deu!
Como tem sido o ritmo da tua vida desde que as aulas por videoconferência começaram?
Sara A: O meu ritmo tem sido agitado, tenho de conjugar os horários das aulas do 2º ano da LCN, com todas as minhas tarefas de apoio aos laboratórios de Nutrição e de Imunologia Básica e à coordenação da LCN. No início, houve necessariamente um processo de adaptação, mais agitado, mas com o passar do tempo as coisas tranquilizaram e já tenho uma rotina de trabalho dita mais ‘normal’. Ainda assim, neste registo de teletrabalho, acabamos por não ter exatamente as mesmas rotinas do passado, pois estamos muito mais tempo online e a responder a solicitações fora do horário habitual o que não acontece com tanta frequência quando estamos a trabalhar fisicamente no nosso local de trabalho. É uma realidade diferente…
No primeiro momento em que sabia que tudo ia arrancar qual foi a sensação? Ansiedade? Medo? Orgulho?
Bernardo S: Recordo-me perfeitamente que a primeira sensação que tive foi uma sensação de ansiedade, mas uma ansiedade positiva, que transformei em motivação. Cheguei a enviar um e-mail à chefia a comunicar a minha elevada motivação para desempenhar esta nova tarefa.
Ao longo do processo sempre me senti confiante, na utilização da aplicação, na comunicação com os alunos, no apoio técnico aos professores e também aos colegas de trabalho. Conto com apoio da nossa equipa que me dá sempre a segurança que caso algo aconteça de errado, encontraremos sempre uma solução em conjunto.
Na entrevista de recrutamento do meu processo de mobilidade interna para a Faculdade de Medicina, lembro-me de ter dito que tinha muito orgulho em ser funcionário da Universidade de Lisboa; agora tenho um orgulho acrescido em pertencer à Faculdade de Medicina, a velha escola que forma brilhantes profissionais. Tenho igualmente um enorme respeito por estes profissionais de saúde que estão sempre na linha da frente no combate a qualquer doença e pela nossa Faculdade que desempenhou e continua a desempenhar um papel importante na formação a nível nacional e que sempre soube granjear admiração e prestígio internacional.
Desde o início que tu foste envolvida nas aulas de Ciências da Nutrição. Consegues descrever-me aqueles dias iniciais em que ainda estavam todos a experimentar um novo sistema e a ver como tudo funcionava?
Sara A: Basicamente assim que fui contactada no sentido de me informarem que iria fazer parte da equipa de helpdesk dos audiovisuais, fiquei um pouco receosa, não vou mentir. Nos primeiros dias em que começaram as aulas, tanto para o MIM como para a LCN, ainda não estávamos em teletrabalho, então trabalhávamos nas instalações da FMUL todos numa sala, cada um no seu computador a dar apoio ao seu ano curricular, e sempre que surgiam dúvidas, falávamos diretamente uns com os outros. Nos primeiros dias, obviamente surgiram muitas dúvidas quer para nós, equipa de apoio, quer para os docentes que não estavam muito familiarizados com a plataforma zoom e sobretudo também achavam estranho este novo registo de aulas, sem a presença física dos alunos. Foram dias agitados em que todos estávamos a tentar fazer com que tudo corresse o melhor possível.
Como se desenrolou o processo até se sentir apto para dar este acompanhamento ao grupo do 6º ano?
Bernardo S: Já tinha alguns conhecimentos de utilização da aplicação Zoom, aliás a aplicação é bastante intuitiva e de fácil utilização.
No final do mês de março, fui contactado por um colega dos audiovisuais, que me forneceu as credenciais para aceder a uma conta na aplicação Zoom através do meu e-mail campus da Universidade de Lisboa e assim foi possível criar uma “sala virtual” ou um ID de reunião na nuvem, que não tivesse limite de tempo de reunião e que tivesse uma grande capacidade de participantes.
Executámos alguns testes da aplicação, em reuniões com os alunos, professores e colegas para verificarmos se tudo funcionava corretamente.
Confesso, que me sinto bastante confortável em comunicar com os nossos alunos de 6º ano porque, na divisão do trabalho da Gestão da Mobilidade Académica foi-me atribuída a mobilidade dos alunos do 6º ano nos programas internacionais. Portanto, fiquei com alguma perceção de como é o 6º ano, as dificuldades pelas quais os alunos passam e o empenho que dedicam aos estágios, e ao trabalho final de Mestrado.
Tirando um dos elementos da tua equipa todos vocês têm filhos, os teus e os do Rui são pequenos (não sei o caso do Paulo), onde fica a família quando sabiam que tinham uma Faculdade inteira (quantos alunos?) a precisar de vocês? Como tem sido esta gestão?
João G: De facto é uma questão bastante sensível, que me tocou profundamente.
A Família, no meu caso, e penso que é transversal a todos os membros da equipa, é sem dúvida um pilar basilar nesta etapa das nossas vidas.
Tem havido uma ginástica brutal para contornar todas as tarefas, conciliando o trabalho com os trabalhos escolares dos miúdos. Seria, sem dúvida, muito complicado realizar tudo isto sem o apoio da Família.
Como têm corrido as rotinas, algum caso ou situação que queira destacar?
Bernardo S: Este novo desafio acarretou algumas alterações à minha rotina normal, já alterada com o facto de estarmos em teletrabalho, mas foi necessário algum sacrifício pessoal e familiar. Apesar de não ter filhos, resido com familiares, aos quais pedi para se conservar silêncio durante as provas públicas e não utilizarem os dispositivos eletrónicos para não tornar a rede de internet caseira ainda mais lenta. No fim, acabei por utilizar uma internet móvel de banda larga 3G, que tenho quando vou de férias, mas que por agora tem sido a solução.
De um modo geral, todas as provas públicas têm decorrido com a normalidade possível, exceto num único caso de uma aluna que teve vários problemas de ordem técnica com o seu equipamento e que acabou por ter de adiar a prova.
Sei que não saímos ainda da fase de alerta, mas a verdade é que começamos a voltar às rotinas do passado. Ainda assim, acho que já te posso perguntar se alguma coisa mudou em ti. Chegaste a ter medo em algum momento?
João G: Sim, sem dúvida nenhuma! Todas as nossas rotinas nunca mais serão as mesmas a partir deste momento. Vamos aguardar o final do ano letivo para avaliarmos a nossa experiência e planear o futuro com base nesta mudança radical no ensino.
Na minha opinião toda esta mudança serviu para enriquecer as metodologias de ensino tradicional.
Sara A: Sempre fiz os possíveis por me resguardar e cumprir as recomendações das autoridades de saúde, pelo que nunca cheguei a ter medo no verdadeiro sentido do termo. Pensei e penso muitas vezes como será daqui em diante, quais as reconfigurações que vão haver na nossa vida, como será isto de vivermos no ‘novo normal’ e quais as implicações práticas disso. É a incerteza que me traz alguma ansiedade neste período e talvez o que tenha mudado mais em mim foi a ansiedade… tornei-me uma pessoa ainda mais ansiosa do que antes, mas, felizmente, tenho sabido lidar com isso (ou pelo menos tentado).
Estou desde março em casa, resguardada, mas sei que isso não vai durar para sempre e que aos poucos vamos retomar as nossas atividades… mas vai ser estranho, pelo menos para mim. Foi estranho ter de ficar em confinamento e vai ser estranho voltar a sair, porque é como se tivesse de sair da ‘bolha’ que me tem salvaguardado até agora, se é que me entendes. Mas pronto, aos poucos vamos retomando a nossa vida e vamos com certeza adaptar-nos. Espero, sinceramente, que tudo corra bem.
Pedro, um dia quando tudo passar vamos voltar a fazer tudo tal e qual fazíamos? Ou se calhar abrimos uma nova era de aulas?
Pedro M: Uma das grandes lutas dos nossos Docentes é encontrar permanentemente alternativas que melhorem a experiência dos alunos nas aulas em auditório. Porém, o mundo digital é um concorrente desleal e o acesso a informação nunca foi tão confortável, simples e imediata.
Toda esta experiência poderá abrir uma janela de oportunidade para reformular alguns períodos letivos. Os horários de aulas poderão, porventura, incluir um dia por semana de ensino à distância (um dia por ano curricular, por exemplo), permitindo, ao mesmo tempo, gerir de outra forma recursos na FMUL (mais espaços disponíveis para os outros anos curriculares, mais espaços para os alunos estarem e estudarem) e economizar recursos dos alunos (tempo de deslocações, custos de viagens, entre outros). No limite, passa a haver condições para uma reestruturação de 180 graus no modelo de aulas teóricas e toda esta parte do ensino poderá ser assegurada, facilmente, à distância. Não existe maior prova de sucesso e resiliência do que aquela que os nossos Docentes, Discentes e Colaboradores têm demonstrado todos os dias. As aulas, começaram a ser ministradas à distância 24 horas, depois da decisão de fechar a FMUL e poucas têm sido, até ao momento, que não ocorreram ou que os alunos não aderiram em massa. Estamos todos de parabéns!
Ainda assim, e mesmo com o magnânimo sucesso que as aulas à distância têm tido, o contacto presencial será algo que nunca poderá ser dissociado entre Professor e Aluno. Existem skills específicas no crescimento do aluno que são apenas apreendidas no contacto com o seu formador. O equilíbrio entre aulas à distância e presenciais será um dos grandes desafios num futuro próximo!
Depois de uma fase destas, podemos olhar para a distância entre nós como uma aprendizagem benéfica, ou como uma experiência que não queremos mais repetir?
Bernardo S: Todas as aprendizagens são benéficas, mas a experiência pela qual estamos a passar neste momento não é natural ao ser humano. Aprendi ao longo dos meus anos de estudante, que o ser humano é um animal social, que tem emoções, é possuidor e transmissor de cultura e tem a necessidade de a transmitir aos outros. Este é o princípio básico do programa Erasmus, a criação de uma cultura e cidadania europeia, e que para o aluno de medicina representa muito mais de que isso, permite conhecer técnicas e patologias, de regiões diferentes, enriquecendo assim os seus conhecimentos nas áreas onde se irão especializar, bem como o seu currículo académico. Preocupa-me a situação atual, durante a qual temos de garantir a segurança dos nossos alunos por um lado, mas por outro, garantir a componente prática dos alunos de 6º ano, e as mobilidades. Por último, deposito as minhas esperanças no corpo docente da nossa Faculdade de Medicina que saberá solucionar estes problemas.
A todos este incrível grupo, a equipa da news@fmul só pode dizer Obrigada!
Pedido de nota do Pedro Mendes:
Ressalva para a grande consideração e apreço para com os Srs. Professores Carlos Moreira e João Forjaz de Lacerda e dos Alunos da Comissão de Curso do 4º ano que têm dado um enorme contributo para minimizar os constrangimentos e facilitar toda esta experiência.
Nota da Equipa redatorial: Pela impossibilidade de nos darem agora uma entrevista não os referimos, mas queremos ainda destacar neste artigo o Pedro Marçal e o Rui Fonseca, agradecendo também a toda a equipa da Informática pelo incansável apoio a todos.
Obrigada ainda a todos os que nos foram respondendo para que este artigo se realizasse, porque todos prescindiram do pouco tempo pessoal, para nos ajudar no nosso trabalho!
Joana Sousa
Equipa Editorial