Hoje é Dia Mundial da Doença de Alzheimer
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O “Dia do doente com doença de Alzheimer” celebra-se no dia 21 de setembro. É compreensível que seja comemorado mundialmente, já que se estima que, em 2050, cerca de 152 milhões de pessoas viverão com demência em todo o mundo (1). Recentemente, as doenças neurológicas foram identificadas como a causa mais importante para se viver mais anos com incapacidade e a segunda causa de morte mundialmente (2). Entre as várias doenças neurológicas, a demência tem tido uma incidência crescente. Portugal figura como um dos países da Europa com maior prevalência da doença, o que não é alheio ao envelhecimento populacional (sem uma natalidade a contrapor esses valores) e a um nível educacional muito baixo (sobretudo das pessoas com mais idade, que adicionalmente viveram com escasso investimento no seu estado de saúde geral). Estima-se que, hoje, vivam em Portugal cerca de 217000 pessoas com demências, das quais cerca de 140000-150000 terão doença de Alzheimer, a causa de demência mais frequente (3).


Sabemos, na atualidade, que parte do contributo para a evolução para uma demência, incluindo a doença de Alzheimer, é potencialmente e parcialmente modificável, pois têm sido identificados fatores de risco ao longo de toda a vida que podem ser alterados (4). É responsabilidade de todos. Contudo, a comunidade científica e os profissionais de saúde têm um papel importante, pois podem não só intervir diretamente como profissionais de saúde ou como investigadores nas populações, mas também promover, educando, para que, com uma melhor literacia em saúde (e nomeadamente literacia naquilo que faz bem à cognição), se promovam cérebros mais saudáveis. Se, efetivamente, não podemos mudar a idade nem os nossos genes, podemos mudar um conjunto de fatores, a saber: a escolaridade e nossa reserva cognitiva (que se pode enriquecer ao longo de toda a vida), os fatores de risco vasculares (a hipertensão, o acidente vascular cerebral, a diabetes, a hipercolesterolemia, o excesso ponderal, o excesso etanólico, o tabagismo, o sedentarismo). É também possível promover hábitos de vida mais saudáveis, com maior atividade física e mais atividades de lazer em sociedade, de maneira a reduzir o isolamento social e o risco de depressão. Podemos, ainda, dar o nosso contributo para reduzir os poluentes que nos rodeiam, pois sabemos, agora, que a própria poluição atmosférica aumenta o risco de demência (4).


Tendo tanto a fazer, e estando tão ao alcance de todos, creio que é fundamental que a consciencialização por esta patologia seja reforçada. E, se os mais novos têm menos esta perceção, percebam que é desde jovem que se inicia a prevenção e que todos os cérebros estão em risco, no momento presente. 


Uma última nota para os doentes que já vivem com a doença. Infelizmente, a recente pandemia retirou muito dos esforços e apoios que já existiam para estas pessoas. O acesso ao diagnóstico e a uma abordagem terapêutica correta e individualizada é fundamental no tratamento da demência, que acaba por envolver não só o doente, mas toda a sua família. É urgente que os apoios se retomem e reforcem em relação aos que existiam já, para que o melhor cuidado possa ser efetuado.

Mulher cabelo curto no jardim

Ana Isabel Verdelho

Professora Auxiliar Convidada da Faculdade de Medicina de Lisboa
Neurologista, responsável pela consulta demências do HSM
Investigadora do IMM e do ISAMB

 

Referências:

1. Patterson C. World Alzheimer report 2018. London: Alzheimer’s Disease International, 2018.


2. Collaborators GBDD. Global, regional, and national burden of Alzheimer’s disease and other dementias, 1990–2016: a systematic analysis for the Global Burden of Disease Study 2016. Lancet Neurol 2019; 18: 88–106.


3. Gonçalves-Pereira M, Verdelho A, Prina M, Marques M, J, Xavier M: How Many People Live with Dementia in Portugal? A Discussion Paper of National Estimates. Port J Public Health 2021;39:58-68. doi: 10.1159/000516503


4. Livingston G, Huntley J, Sommerlad A, Ames D, Ballard C, Banerjee S, Brayne C, Burns A, Cohen-Mansfield J, Cooper C, Costafreda SG, Dias A, Fox N, Gitlin LN, Howard R, Kales HC, Kivimäki M, Larson EB, Ogunniyi A, Orgeta V, Ritchie K, Rockwood K, Sampson EL, Samus Q, Schneider LS, Selbæk G, Teri L, Mukadam N. Dementia prevention, intervention, and care: 2020 report of the Lancet Commission. Lancet. 2020 Aug 8;396(10248):413-446. doi: 10.1016/S0140-6736(20)30367-6. Epub 2020 Jul 30. PMID: 32738937; PMCID: PMC7392084.