8 de março
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símbolo do género feminino

Falamos delas todos os dias e, se este fosse um mundo perfeito, nem era necessário haver um dia específico em que se comemora o género feminino. Há muitas mulheres ao longo da história que marcaram uma época, a sociedade, a comunidade, a família e por aí fora. De algumas não sabemos a existência, de outras a história encarregou-se de as cunhar nas páginas dos livros que estudamos e lemos por lazer ou nos documentários a que assistimos. Vamos falar de algumas.

Cesina Borges Adães Bermudes é uma dessas mulheres. O seu nome está para sempre ligado ao desta Faculdade e para que não seja apagado da memória, há uma inscrição com o seu nome na entrada. Mas quem foi esta mulher? Há certamente muita coisa para dizer, mas o que aqui pretendemos não é dissecar toda a sua vida. Pretendemos recordá-la e aguçar a curiosidade para quem queira saber mais sobre a primeira Mulher a doutorar-se em medicina.

A mulher e o parto sem dor

Nasceu em Lisboa em 1908, frequentou o Liceu Camões, onde era a única rapariga numa turma de quinze alunos. Licenciou-se em Medicina em Lisboa, no ano de 1933 e fez o Internato Geral em 1933/34 e o Internato de Cirurgia em 1937/38. Foi assistente de Anatomia e Clínica Geral nos Hospitais Civis de Lisboa, praticou obstetrícia na Maternidade Alfredo da Costa, já no ano de 1933. Prestou provas de doutoramento na Faculdade de Medicina de Lisboa na especialização de Obstetrícia, em 1947, tendo obtido a nota de dezanove valores. Foi a primeira mulher a doutorar-se em Medicina.

Trabalhou no Centro de Assistência à Maternidade e Infância, um inovador Centro de Saúde de Lisboa, que funcionou de 1939 a 1949.

Em 1954 foi a rumo à cidade das luzes, em busca de conhecimento. Trabalhou com o médico Lamaze, seguidor do método psicoprofilático – conhecido na época como parto sem dor- método que acaba por trazer para Portugal apagando décadas de parto clássico baseado na doutrina judaico-cristã, ou seja, sem preparação, sem compreensão e sem atenuantes para a dor. Esta é sem dúvida em que a sua marca mais se sente, deixando como prova, vários textos escritos, dos quais se destacam Bases Científicas do Parto sem Dor (1955) e Notas Soltas sobre o Parto sem Dor (1957

Desenvolveu também consciência política e participou no movimento cívico de mulheres democratas no qual Cesina Bermudes participou com Maria Lamas, Isabel Aboim Inglês, Maria Palmira Tito de Morais, entre outras. Foi também dirigente ou fez parte das muitas comissões femininas eleitorais ou nas comissões em defesa da paz.

Apoiou muitas mulheres que viviam na clandestinidade, dando-lhes assistência na gravidez e fazendo partos. Lutadora e defensora do papel da mulher na sociedade jamais pactuava com a invisibilidade ou discriminações das mulheres. Ficará na história também pela sua firmeza de caráter e sentido de justiça social.

Outras mulheres

Carolina Beatriz Ângelo foi a primeira cirurgiã portuguesa, operando no Hospital de São José. Mais tarde trabalhou no Hospital Psiquiátrico de Rilhafoles, sob a orientação de Miguel Bombarda, e dedicou-se à especialidade de Ginecologia, com consultório particular em Lisboa. Foi ainda a primeira mulher a votar em Portugal, nas eleições realizadas a 28 de maio de 1911.

A imunologista Maria de Sousa, uma das primeiras mulheres portuguesas a serem reconhecidas internacionalmente pelas suas descobertas científicas, notabilizou-se pelas cruciais contribuições que deu para a definição da estrutura funcional dos órgãos que constituem o sistema imunitário.

Curiosidades:

Cesina Bermudes distingue-se ainda na área do desporto como patinadora e ciclista. Apoiada pelo pai, figura que sempre admirou e que lhe serviu de inspiração, entra com sua irmã na primeira Volta a Lisboa em bicicleta, no ano de 1923 e vence a prova.