É entre reuniões que nos consegue receber na Associação de Estudantes. Andreia Daniel, estudante do 5º ano de Medicina, e ainda, Presidente da AEFML, partilha connosco um pouco da sua experiência como representante máxima desta estrutura estudantil da FMUL. Convidamo-la a revisitar todas as realizações do seu mandato, uma fase que segundo a própria “Vai deixar muitas saudades!”. O bichinho da política vive dentro dela. Assume-se como uma pessoa interventiva e preocupada, mas, por agora, terá de dar por encerrada esta missão para se dedicar a todo o gás à Prova Final de Acesso à Formação Especializada, que ao que parece “tem uma matriz de conteúdos alterada e porventura com matéria adicional face ao ano atual”.
Numa entrevista à News, em Setembro de 2018, foi-te perguntado o que mais desejarias ver cumprido, enquanto representante máxima da AEFML. No seguimento dessa pergunta, desafio-te a revisitar todas as ações do último mandato. Podes afirmar que a atual Direção da AEFML alcançou todos os objetivos propostos?
Andreia Daniel: Sim, de facto, recordando essa entrevista, é interessante ver que o que conseguimos alcançar foi muito mais do que aquilo a que nos tínhamos proposto, no início do mandato. Apesar dos nossos dias serem uma correria, sinto que nos conseguimos debruçar sobre inúmeros temas em simultâneo.
Este ano estivemos representados em várias Comissões, aqui na Faculdade, nomeadamente, a Comissão Implementação Reforma do Ensino Clínico, a Comissão de Avaliação do plano curricular do 1º,2º,3º anos do MIM e foi feito um trabalho muito grande no sentido de melhorar alguns aspetos na nossa aprendizagem. Na minha opinião, conseguimos reafirmar a AEFML como uma estrutura de qualidade, bem como provar que as nossas recomendações, fundamentadas, são ouvidas pelo corpo docente. No âmbito da Educação Médica, penso que se destaca a nova proposta de currículo que contou com o nosso cunho. Assim, em retrospetiva, o nosso mandato pautou-se por várias vertentes entre elas a aproximação da AEFML à Faculdade, devido à ação conjunta nas Comissões em que os estudantes estão integrados conseguindo melhorar algumas condições para os estudantes da FMUL, reiterando o apoio essencial da Direção da FMUL, ao nível da cedência de espaços para organizarmos exposições, recolha de alimentos e campanhas de solidariedade, entre outros. Destacamos ainda a redução do preço da refeição na sala de alunos através de um novo protocolo com um dos nossos concessionários. Importa ainda referir que este foi o nosso primeiro ano na Federação Académica de Lisboa e somos, neste momento, uma das associações de estudantes mais ativas através da apresentação de propostas de intervenção na área do ensino superior, o que é sem dúvida um motivo de orgulho.
Andreia, sobre as alterações ao currículo, que implicações terão elas na vida prática do estudante de medicina?
Andreia Daniel: Uma das alterações consiste precisamente na existência de uma nova figura, o Diretor de Turma. Durante o nosso percurso académico estamos habituados a saltar de especialidade em especialidade e temos sempre de lidar com novos professores. A ideia foi criar a possibilidade de criar neste docente a figura de um professor a quem podemos recorrer em caso de dúvidas. A par desta nova figura de suporte, procedeu-se à diminuição do rácio tutor-estudante para 1 Professor para 4 Estudantes, o que é ótimo e ajuda muito a conseguir estabelecer-se uma maior proximidade entres as duas partes: aluno e professor.
Durante o último mandato, na tua opinião, a AEFML conseguiu transmitir aos Professores as vossas maiores necessidades?
Andreia Daniel: Creio que sim. Antes de nos apresentarmos nestas Comissões, a AEFML procura saber a opinião dos estudantes sobre os temas em que se debruçar. É nesse sentido que muitas das discussões curriculares em que estamos integrados têm por base posição dos estudantes em Reuniões Gerais de Alunos. Para além disso procuramos realizar sessões de esclarecimentos, como fizemos na apresentação da proposta do Ensino Clínico. Acreditamos que esta metodologia só apresenta vantagens por aproximar os estudantes e fortalecer a nossa posição. No fundo, cabe à AEFML estabelecer a ponte entre as necessidades dos estudantes e as expectativas dos professores, o que na nossa perspetiva tem sido assegurado da melhor forma possível.
E os Professores mostram-se recetivos às vossas propostas?
Andreia Daniel: Sim, de um modo geral tendem a concordar com as nossas propostas e reivindicações. Inclusivamente, houve Professores que marcaram presença na Sessão de Esclarecimentos da proposta do Ensino Clínico, como é o caso do Prof. José Ferro, Coordenador da Comissão, e o Prof. Calhaz Jorge, que mostram sempre uma elevada proximidade na construção desta alteração histórica na nossa Escola. Torna-se ainda importante destacar o papel ativo de outros Professores destacando o exemplo do Professor João Eurico Fonseca e da Professora Isabel Pavão Martins, com os quais sempre foi possível discutir variados temas e sempre se mostraram muito recetivos à discussão das nossas considerações.
Ainda relativamente à entrevista anterior, na altura, manifestaste alguma preocupação quanto à fraca adesão dos alunos ao preenchimento do Inquérito de Avaliação do Ensino. Ao longo deste último ano, foi algo que tu e a tua equipa conseguiram reverter?
Andreia Daniel: Fomos obrigados a repensar a estratégia e a olhar para o problema com outros olhos. De facto, até aqui a taxa de adesão aos inquéritos não tem sido a desejável. Procedemos a uma análise junto de outras Unidades Orgânicas da Universidade de Lisboa, na tentativa de compreender o que estava a ser feito para colmatar este problema que é transversal a essas várias Unidades. Percebemos que o paradigma é um pouco diferente. Por exemplo, no Instituto Superior Técnico, o preenchimento dos inquéritos é obrigatório, pois sem o seu preenchimento os alunos não são capazes de se inscreverem nas unidades curriculares do semestre seguinte. Para tentar colmatar esta problemática optou-se, em sede de Conselho Pedagógico, por colocar também uma condicionante, no sentido dos nossos estudantes terem preferência na escolha dos horários no caso do preenchimento do inquérito de avaliação do ensino. Da parte da AEFML, foi realizada uma auscultação prévia para entender qual a posição dos estudantes. Acreditamos que a obrigatoriedade de preenchimento pode enviesar os resultados, pelo que, a par das alterações propostas deverá existir um sistema que possa prevenir o viés das respostas.
O mandato aproxima-se do fim (em Junho) e já referiste algumas das vossas ações, mas dada a vossa pro-atividade não creio que tenham ficado apenas pela alteração do currículo e a nova estratégia de preenchimento dos inquéritos de ensino. Que outras medidas foram executadas, que mereçam também relevo?
Andreia Daniel: Por acaso tinha feito aqui um levantamento. Claro que existem mais coisas que merecem ser destacadas, nomeadamente, o facto de termos conseguido fortalecer o papel do Gabinete de Apoio ao Estudante, com a inserção de um projeto de tutorado que permite ao estudante associar-se a um tutor (médico) que o apoie e o esclareça ao longo do seu percurso académico. A alteração da tabela das Taxas e Emolumentos. Foi aprovada, recentemente, a nossa proposta de redução do valor do emolumento referente à melhoria de nota dos para os Estudantes Bolseiros. Com a FMUL desenvolvemos vários projetos em conjunto como o Dia do Candidato, Coração Saudável e Futurália. Outra medida, também ela muito importante, consistiu na dinamização do Conselho de Representantes, que reúne representantes dos estudantes dos vários cursos existentes (Mestrado Integrado em Medicina e Licenciatura de Ciências da Nutrição), discentes do Conselho Pedagógico e do Conselho de Escola, cujo principal objetivo foi o desenvolvimento de um documento ao qual chamámos “Tomada de Posição Estratégica da FMUL: As Prioridades dos Estudantes para o Futuro”. Neste documento justificámos bibliograficamente todas as nossas recomendações para o plano curricular, trabalho final de Mestrado, afiliações, alterações do currículo dos anos pré-clínicos e clínicos, entre outros. Do ponto de vista da representação externa foi possível realizar uma Tomada de Posição sobre o Ensino Superior que vincula a posição da AEFML em vários pontos, como a propina, ação social, entre outros. Num campo menos relativo ao âmbito curricular, obviamente que destacamos grandes projetos com um impacto claro na comunidade como o AIMS Meeting, a Corrida Saúde + Solidária, projetos como o MedFit que investiram na formação em Desporto e Bem-Estar, como o Medicina mais Moçambique, que acontece agora no verão, e até mesmo o Natal Diferente. Mantivemos as nossas Bolsas de Ação Social AEFML e procuramos apoiar os estudantes com dificuldades financeiras. Inclusivamente, tentámos melhorar a qualidade das nossas festas como o Arraial de Medicina e Farmácia (Risos). Somos muito sérios a trabalhar aqui na Associação, mas consideramos importante a promoção de momentos de lazer e descontração entre os estudantes. Foi nesse âmbito também que privilegiando a vertente cultural desenvolvemos o II Ciclo de Arte e Cultura, onde ao longo de uma semana valorizamos as artes como a poesia, teatro, música e cinema. Em jeito de conclusão, podemos afirmar que trabalhámos várias vertentes ao mesmo tempo e isso deixa-nos muitos felizes e realizados.
Há algum aspeto que tenha saído fora dos planos?
Andreia Daniel: Houve alturas em que as coisas fugiram ao nosso planeamento, como é natural. Assim, de repente, lembro-me das Olimpíadas da Medicina. No final correu tudo bem e obtivemos um ótimo feedback, dos melhores dos últimos anos, apesar de termos repetido o local, mas a nível da coordenação do evento, surgiram muitos imprevistos. Tivemos de lidar com 800 pessoas e poucas horas de sono (Risos). Penso que a questão aqui não seja propriamente o que correu mal, mas sim o stress de que fomos alvo. Outro aspeto prende-se com a reformulação de alguns espaços que gostaríamos de ter realizado e que idealizamos desde o início, mas não houve tempo. Obras envolvem tempo e dinheiro. No fundo, penso que é normal existirem pontos novos para os quais temos de arranjar solução, algo que fazíamos até diariamente com o surgimento de várias questões. Ser Gestão de uma casa com a AEFML também tem destas coisas.
Tudo isto vai deixar saudades?
Andreia Daniel: Vai deixar muitas saudades! Foram três anos de muito trabalho, que contribuíram para aumentar o meu conhecimento sobre uma panóplia de temas. Mas são as pessoas que vão deixar mais saudades. Ao fim de três anos a trabalhar com estes “pequenos”; é assim que habitualmente lhes chamo (Risos). Estou ainda a tentar digerir as mudanças que aí vêm, mas que são boas.
Futuramente, quais são os teus planos? Vês-te a manter esta atitude politica mais interventiva?
Andreia Daniel: Agora, o foco é mesmo finalizar o curso de Medicina, até porque tive a oportunidade de ver a matriz da prova final e pude constatar que tem mais matéria do que anos anteriores (Risos). Quanto ao Futuro, não descarto a hipótese de voltar a ter uma intervenção mais ativa na atualidade política, contudo, por agora penso ser hora de me concentrar na profissão mais bonita do Mundo, ser Médico.
Um último desafio: O que é que dirias ao próximo representante da Associação de Estudantes da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa?
Andreia Daniel: Apesar de vivermos num ritmo acelerado, devemos sempre olhar para os outros como olhamos para nós. Penso que o próximo presidente da AEFML deva sempre dar muita atenção e apoio aos elementos da sua equipa. É verdade que a Associação tem imenso património e está sempre envolvida em imensas atividades, mas nada disso seria possível de manter ou organizar sem a equipa.
Se tivesses de agradecer a alguém, que escolherias?
Andreia Daniel: Não consigo dizer apenas uma pessoa. Sem a ajuda da Beatriz, da Sara, do Eduardo, os meus Vice-Presidentes, bem como do Lourenço, o nosso Tesoureiro, muitas das coisas que edificámos não teriam sido possíveis. Estabelecemos sempre uma relação muito grande de entreajuda e nunca tivemos problema em dividir trabalho. Conseguimos sempre resolver todos os problemas em conjunto. A eles devo muito das vitórias que alcançamos e ficarei eternamente grata por toda a amizade, loucura e paixão. Foram excecionais!
Isabel C. Varela
Equipa Editorial