“Estou genuinamente convencido que estamos a viver um momento histórico do ponto de vista médico e ético”, afirmou o Professor da FMUL e Neurologista, Joaquim Ferreira, no debate sobre a pandemia de Covid-19 no Jornal de Sábado, na SIC Notícias. Um debate que pôs em cima da mesa questões como a necessidade de declaração de estado de emergência para todo o país e se falou, também, da onda de solidariedade movida pelos portugueses que, nos últimos dias, têm aplaudido nas janelas de suas casas em forma de agradecimento a todos os profissionais de saúde que, corajosamente, enfrentam a pandemia.
Joaquim Ferreira reiterou a posição defendida pelo Diretor da FMUL e Presidente do Conselho de Escolas Médicas Portuguesas, Fausto J. Pinto, favorável a medidas mais restritas, justificando que “os números da letalidade são baixos, mas a base populacional que vai ser infetada é enorme e se olharmos para o número de doentes já em cuidados intensivos, prova que o rácio, a razão entre o número de infetados e a precisar de cuidados intensivos, de alguma forma sobrepõe-se aos números de Espanha e Itália”, sublinhou, alertando para os recursos disponíveis, mas limitados para tratar os doentes infetados.
O Professor reforçou, ainda, a “incerteza do momento”, uma incerteza que é inerente à própria Ciência. “Há enormes fatores de incerteza nesta pandemia, ou seja, nós temos dois meses de conhecimento sobre este vírus” e afirmou que a realidade de uma vacina requer mais de um ano de trabalho intensivo de investigação. “Não temos, neste momento, nenhum tratamento específico para tratar este vírus. O que os médicos estão a fazer é usar medicamentos que usaram noutras infeções virais e estão a testar para ver se daí resulta algum benefício”. Comentou, também, a ausência de evidência científica de que ibuprofeno agrave a infeção por Covid-19, afirmando não haver necessidade de mudar a medicação para a hipertensão face aos alertas recentes que têm surgido.
Não obstante a “enorme preocupação”, o Professor apelou à confiança, enaltecendo a qualidade dos nossos centros e profissionais de saúde, que todos os dias têm pela frente a missão de “tomar decisões de guerra em contexto de paz”, face a uma pandemia que tem levantado questões que abalam algumas das mais sérias convicções da Medicina moderna.
Sofia Tavares
Equipa Editorial