Esta FMUL Talk, que ocorreu no dia 11 de março de 2020, foi sobre o COVID 19 e reuniu mais de 200 pessoas on-line a assistir à conferência dos Professores Emília Valadas e Thomas Hanscheid, devido ao evidente interesse e preocupação em saber mais informação sobre este vírus.
No momento em que escrevo esta reportagem, já houve, infelizmente, novos desenvolvimentos, mas as informações presentes neste webinar, no entanto, continuam na sua maioria válidas e atuais, por serem credíveis, vindas de fontes científicas sérias e com grande evidência.
Emília Valadas começou por referir que esta era uma sessão de carácter informativo e com conhecimento sustentado cientificamente. Definiu o que era uma pandemia, disseminação por múltiplos continentes, e deu exemplos de pandemias como a peste (75 e a 200 milhões de mortes no Séc. XVI), gripe espanhola (17 milhões de mortes, princípio do Séc. XX) e varíola (300 milhões de morte no Séc. XX), entre outros, como o VIH e a tuberculose.
Em perspetiva, o coronavírus a esta data situava-se numa posição inferior de mortalidade em relação a outras doenças, entre as quais, as já referidas. A mortalidade geral global é de 3,4% mas muito transmissível. Quanto à taxa de mortalidade de cada país, a China tem uma taxa de 3,9% enquanto por exemplo a Itália estava com 5% (números de 9 de Março). Há uma grande heterogeneidade dos números, havendo influência dos cuidados de saúde, mas também de doenças de base e genética de cada país.
Foi referido o artigo “Clinical Characteristics of Coronavirus Disease 2019 in China”, que saiu no “The New England Journal of Medicine”, com dados dos doentes com coronavírus da China. Mostra o que conseguiram encontrar em mais de 4 mil doentes: a maioria dos doentes tem sintomas ligeiros, cerca de 80,9% dos infetados, como uma simples constipação, 13,8% tinham uma doença severa e 4,7% teriam que ser internados em cuidados intensivos.
Uma das grandes interrogações continua a ser a evolução da doença. Os sintomas são os normais de uma gripe e por isso as dificuldades no diagnóstico, devido a síndromes gripais semelhantes nesta altura do ano. Também se calcula que 15% do que eram leves sintomas no início evoluam para severos e 5% desses evoluam para muito graves. Concluindo assim que a situação estática.
Uma boa notícia é que as crianças não têm doença ou tem apenas sintomas ligeiros. Outra boa notícia é que a maioria das pessoas recupera. Por outro lado a partir dos 60 anos, a mortalidade vai aumentando. A partir dos 80 anos, 1 em cada 6 pessoas infetadas morrem, com tendência a agravar caso haja doenças base, como as doenças cardiovasculares, diabetes, tensão arterial ou doenças respiratórias.
Referindo-se ao contágio, Emília Valadas constatou ainda que a pessoa com COVID 19 pode infetar cerca de 3 a 4 pessoas, um número mais baixo comparando com o sarampo em que cada pessoa pode contagiar 9 a 10 pessoas, mas que mesmo assim é um nível de contágio significativo.
Analisou ainda a comunicação do evento por parte da China, comentado que foi tudo muito rápido, e mostrando imagens do alegado mercado onde começou o vírus, e que é necessário começar a pensar em maneiras de prevenir, pois não será o único caso que um vírus passa de animais para humanos.
Para concluir, a especialista em Doenças Infecciosas comentou que identificaram o vírus sete dias depois de ser reportado e que já existe um teste de diagnóstico do vírus. Para além disso, a situação na China está a melhorar, o que significa que as medidas implementadas resultaram. Neste momento, o número de casos novos está a diminuir na China.
A OMS enviou especialistas para a China e estes perceberam que 5% dos doentes precisavam de ventilação e outros 15% de receber oxigénio em grandes concentrações, isto só com internamento hospitalar. As medidas que funcionaram foram medidas de contenção da infeção. E estas são as únicas medidas que temos.
Thomas Hanscheid seguiu-se, abordando aspetos mais técnicos sobre esta infeção. Referindo um artigo publicado em fevereiro, identificou que em relação a este vírus, o grande problema não é a propagação, mas sim os casos graves. Para os sistemas de saúde, serão estes casos (cerca de 20%) o problema. E por isso, a importância de “atrasar” infeções, para o pico não ser alto num curto espaço de tempo, e a ideia é ter um pico mais baixo e mais prolongado no tempo.
Thomas Hanscheid referiutambém que o coronavírus não é novo. Existem outros tipos, e também em animais. Explicou também que na cultura chinesa o consumo de carne de animais, mais estranhos para os europeus, acontece por razões não só alimentares. Para os chineses para além da parte alimentar o animal tem outras propriedades, como medicinais. O consumo de pangolim, por exemplo, será bom para os problemas renais.
Falou ainda dos aspetos relacionados com os recetores do vírus, o modo como este se liga e o material genético. Este vírus tem capacidade de mutação, e assim durante este surto o vírus pode evoluir, com possíveis consequências, como por exemplo, tornar-se mais infecioso.
Falou de seguida de possíveis tratamentos, sendo que, infelizmente, até ao momento, não há nada ainda realmente eficaz. Há um medicamento do ébola que se mostra aparentemente eficaz, da Gilead, nos Estados Unidos, já estando a ser aplicado, mas não sendo ainda certo o seu potencial.
Em estudos in vitro, há outro medicamento que parece ser eficaz, o cloroquina, que é barato, existe há mais de 50 anos e que pode ser importante. Na China estão a testar também o Kaletra, usado para o HIV, entre outros.
Salientou-se que é muito bom já existir o diagnóstico do vírus, através do genoma, mas faz falta um teste que detete anticorpos, ou seja, a reação humana à doença. Algo importante para perceber quais os casos assintomáticos e quem teve efetivamente a doença.
Thomas Hanscheid falou ainda de infecciosidade, mostrando que, desde o início dos sintomas até à eliminação do vírus, podem passar 2 a 3 semanas, o que faz das pessoas infetadas fontes de contágio.
Terminou dizendo que temos que cuidar dos nossos idosos e das pessoas com doenças, que ficam mais predispostas e que temos que tomar medidas especificamente comportamentais de distanciamento e evitamento social.
De seguida passou-se à fase de perguntas pela assistência, que decorreu no chat. Muitas perguntas, o que mostra as dúvidas que ainda assolam as pessoas, sejam ou não da área da saúde. As principais perguntas foram relacionadas com os grupos de risco, com os efeitos dos medicamentos, com as medidas de saúde pública a serem tomadas e também nas consequências a longo prazo desta doença.
Foi sem dúvida uma das FMUL Talks mais impactante até ao momento. Da nossa parte agradecer a disponibilidade dos Professores e dos colegas dos Audiovisuais pelo trabalho com o Webinar, ainda mais neste momento já tão complexo.
Para quem tiver interesse em rever deixo aqui o link (https://www.youtube.com/watch?v=OMBDtU8fyvM&t=399s)
Sónia Teixeira
Equipa Editorial
