São 18 as Faculdades que recebem os estudantes do 3.º ciclo do ensino básico e do ensino secundário.
O objetivo é criar tantas atividades quantas as que os seus pensamentos já alcançam, e colmatar algumas dúvidas que possam ainda existir quando lhes perguntamos que futuro vão escolher.
Os dias 28 e 29 abriram as portas da Reitoria e distribuídos por dois andares foram-se preenchendo com um número, até então, nunca obtido. Em cada dia mais de 1000 alunos vieram ver o futuro à Universidade de Lisboa.
Se habitualmente a Reitoria está resguardada em privacidade e silêncio, hoje tal não é possível. Há grupos sentadas nas escadarias, outros aglomerados em sofás e muitos mais divididos entre espaços onde cada um representa a sua própria Faculdade. Enquanto tudo acontece em simuntâneo, o Reitor António da Cruz Serra dá uma entrevista a um canal interno de uma das equipas de comunicação e nem o ruído, nem a circulação arbitrária dos mais jovens, lhe turvam o discurso lógico e sempre pronto.
A Faculdade de Medicina está no primeiro piso, a Nair Correia do 2º ano explica o que é ser aluna do Mestrado Integrado em Medicina e a Oureana Ferreira fala das alegrias do seu novo curso de Ciências da Nutrição. Os alunos do secundário têm pressa e querem saber quanto tempo precisam para serem Pediatras. A Nair espanta-se, “calma, até chegarem lá, têm que fazer tantas coisas… Mas não se assustem o curso é difícil, mas não impossível”. Assustados que ficam, por não terem bem presente que para se chegar a um final é preciso fazer anos de uma coisa que se chama especialidade, a Nair reforça, “este é o melhor curso que existe, porque vamos salvar vidas para o hospital!”. No plasma diante da banca da FMUL passam vídeos da Noite da Medicina, uma das colaboradoras de Comunicação da Faculdade, a Catarina Monteiro, explica, “os miúdos adoram ver estes hits da Noite da Medicina, mas passamos também uma sequência de vídeos preparada pela AEFML, a Associação de Estudantes, e ainda os vídeos oficias da Faculdade e da Nutrição”.
Mesmo ao lado do plasma está outro grande chamariz que apelidámos de Zé, é um modelo de Anatomia que mostra todos os órgãos humanos até ao final do intestino. A Catarina lança um jogo aos rapazes que se aglomeram a olhar o modelo anatómico, “quem souber que órgãos são estes e como se encaixam, ganha um presente!”. O desafio começa e vou perguntando que órgão erguem nas mãos, “o fígado, claro”, mas afinal a sequência da montagem não lhes corre bem. Outro rapaz adverte que para encaixar o fígado já lá deveria estar o estômago e tenta ganhar terreno para ser ele a executar a árdua tarefa, mas o conselho não é bem recebido, “epá não empurres, sou eu que faço isto agora”. O Zé modelo deve ter sofrido alguns apertões, mas aguentou a “cirurgia” e a prova foi superada, tendo todos recebido lápis amarelos, símbolo da Faculdade.
O mundo é pequeno demais e diante dos meus olhos aparece então uma antiga professora de bike de um ginásio onde metade da Faculdade o treina. A PT Raquel deixou o ginásio, mas dá aulas de Educação Física e faz coaching aos mais novos, é ainda Psicóloga. Traz um grupo de raparigas que, estando no 9º ano, quase todas sabem já que querem optar por Ciências, umas poucas estão certas que será Medicina; o que venho a perceber é que a própria Professora Raquel, afinal, também pondera essa mesma formação para si, “o meu pai morreu há 2 meses e não deixo que a minha energia quebre, só quero abraçar novos projetos, Medicina pode ser o próximo”.
Isabel Varela é da equipa de Comunicação da Faculdade e este ano está a coordenar a Feira, tendo planeado tudo para representar devidamente Medicina na Reitoria. “Deste grupo aqui quem sabe o que é o dinamómetro?”, todos parecem saber porque explicam de imediato que lhe basta agarrar para medir a força corporal. A Isabel incentiva-os a ver se serão as meninas mais fortes do que os rapazes. Eles riem-se, elas não. Mas são as meninas as primeiras a fazer o teste e os valores superam a média de força atribuída ao grupo feminino, seguem-se os rapazes que já a medo se vão recusando a apertar. A Isabel insiste, “ai agora vão fugir?”, desafiados a provar bravura apertam com força de super herói, uns batem recorde, mas há quem reúna o valor mais baixo de sempre de qualquer rapariga, “apertei mal de certeza”, dizia um corado. É então que a Maria Juca, vencedora deste concurso de força me segreda, “eu sou atleta de competição pelo Sporting e faço salto em vara”.
São 12 horas e é o segundo dia da Descobre, no dia anterior os workshops de nutrição e otorrino causaram forte impacto, e só por causa disso a organização teve de vedar o acesso livre aos lugares, recorde até então nunca visto. Assistiríamos agora a um workshop de suturas, ministrado pela cirurgiã Ana Cristina Lavado. A sala lotada, mal permitia respirar. Havia dezenas de alunos em pé, outros sentados, muitos com tocas prontos a ir para um qualquer bloco operatório. Depois da eloquente explicação sobre a história do papel do cirurgião e da anestesia, bem como, o toque mais ou menos próximo ao doente, ao longo dos séculos, Ana Cristina Lavado lançou o desafio, “quem quer vir fazer uma sutura?”. Desafio provocante para quem mal cabia na sala. Com calma ia dizendo que “se calhar nem todos conseguem, mas vai-se tentando”. Distraídos, ao meu lado, dois rapazes apressavam-se a furar a fila para chegar em primeiro lugar às suturas, “põe isso azul na cabeça”, dizia um mais despachado. O outro espantado tinha posto afinal “aquela coisa esquisita azul nos pés”, sendo alvo de riso e nova explicação que “as tocas são para as cabeças e os pezinhos para os pés”. Sem qualquer problema do que ouvira segundos atrás sofre a importância da desinfeção, colocou então a toca do pé na cabeça. Estava pronto para a cirurgia.
Abandono a sala, o momento era agora deles.
Cá fora, junto às casas de banho, uns aproveitavam para namorar e outros dormiam pacificamente nos sofás, enquanto a tuna da Faculdade de Direito tocava pandeireta e saltava efusiva, talvez a tentar convencer que o Direito também diverte.
O tempo esgotara-se, que pena. Estar ali dá orgulho em ver como poucos agarram e dignificam tanto a Faculdade e os que chegam inspiram-nos a nunca deixarmos de rir quando olhamos para o futuro.
Novos encontros se esperam para breve, na FIL com a Futurália e depois na Qualifica no Porto. E parte desta equipa lá estará, fixa e persistente, porque mais do que a camisola amarela estridente que ergue ao peito, ergue por dentro a vontade de levar cada vez mais longe a sua própria Instituição.
Joana Sousa
Equipa Editorial