Fomos conhecer alguns dos alunos de Medicina que estão no 6º ano, a arrancar o período de estudo que os levará à Prova Nacional de Acesso à Formação Especializada, em novembro de 2020. Que caminho é este de um ano que se faz maioritariamente sozinho, que sentimentos despoleta este momento prévio à decisão das suas carreiras, ou que métodos de estudo ajudam na aquisição de tanto conhecimento, foram algumas das dúvidas que lançámos. Uns pediram anonimato, outros não se importaram da exposição. O que importa é conhecê-los, pois é o relato na primeira pessoa que realmente traduz aquilo por que passam e que geralmente pouco se fala publicamente.
Ficam, no entanto, já conclusões retiradas. Poucos são os que querem deixar o seu país, poucos lidam bem com o excesso de competição que leva a uma pressão desmesurada. E apesar de todos terem sonhos, só alguns estão dispostos a reavaliá-los.
Conheça a Ana Sofia, a Joana, a Catarina, o Francisco e outros estudantes que quiseram dar o seu testemunho. Através destes estudantes muitas são as experiências que ficam aqui representadas.

Como são as vossas rotinas quando se chega ao 6º ano?
Joana Kellen: Atualmente estou a fazer o estágio de medicina interna que é dos mais cansativos, mas também o estágio onde considero que se aprende mais. Como não vivo em Lisboa acordo por volta das 6h, para chegar ao HSM por volta das 7h30. Às 8h30 entro no serviço, colho os sangues, vejo os doentes, escrevo os diários e discuto-os com a minha orientadora. A hora de saída é muito variável. Em média saio entre as 13h /14h, mas já aconteceu ter de sair mais tarde e sem almoçar. Tudo depende do número de doentes, se há alunos em aula com a minha orientadora, se as análises levam mais tempo a sair ou se há Journal Club, ou sessão clínica. Saio e costumo correr para apanhar o comboio, levo cerca de uma hora a chegar a casa. Quando chego a casa almoço e descanso um bocado. Retomo o estudo por volta das 15h/16h e acabo por volta das 20h. Repito esta rotina de segunda a sexta, sendo que ao sábado costumo ter aulas de preparação para a PNA o dia todo. Ao domingo, tento não estudar e aproveito para tratar da minha tese de mestrado.
Aluno de Medicina: A vida de 6º ano durante a semana (2ª a 6ª) divide-se muito entre estágio e estudo. No meu caso em concreto, o meu estágio atual, de Medicina Interna, começa às 9h e acaba sempre entre as 14h e as 15h e, tendo 3 aulas de preparação para a PNA por semana (às 2as, 3as e 5as) o tempo "livre" acaba por ser forçosamente a estudar os temas dessas aulas, para poder obter algum rendimento das mesmas. Contudo, pelo menos para mim, continuo a achar importante, e sobretudo numa fase tão inicial do estudo, ter algum tempo, ainda que seja 1h por dia, para me dedicar a algo de que goste que não seja relacionado com medicina, nem que seja ver um filme ou uma série.
Ana Sofia Mota: Eu não tenho uma rotina fixa no sentido em que faço todos os dias a mesma coisa. As semanas são todas diferentes. No entanto, normalmente está praticamente garantido que as manhãs da semana são passadas no estágio. A hora de saída varia de dia para dia. Por vezes tenho de ir logo de seguida para pequenos trabalhos que faço. Se tiver a tarde livre, excluo sempre que não vai haver nenhum evento ao qual me interesse ir. Para mim não faz sentido estar nesta cidade se não aproveitar o melhor que esta tem para oferecer, ainda que a níveis bastante inferiores ao de outras capitais: cultura. Infelizmente, há tardes que também passo um tempo considerável a tratar de burocracias, é um papel que precisa de ser assinado, uma vídeo-apresentação que precisa de ser enviada, entre outras. O estudo vai, por enquanto, sendo encaixado no meio. Não consigo começar a estudar intensamente tão cedo, estaria em colapso quando chegasse o Verão, e aí sim, considero esses meses essenciais.
Francisco Vaz Pereira: A vida de um aluno do 6º ano contrasta largamente com a que estávamos habituados até então. Somos distribuídos por hospitais por todo o país, com tutores, serviços e especialidades médicas distintas entre si, pelo que os estágios acabam por ser um pouco heterogéneos de aluno para aluno. No entanto, penso que, para a maior parte dos meus colegas, o estágio ocorre da parte da manhã e por vezes um pouco da tarde, num determinado serviço durante os dias úteis, no qual lhes são atribuídos alguns doentes pelos quais se encontram responsáveis. Todos os dias os alunos acompanham os seus doentes, escrevendo os seus diários clínicos, notas de alta ou de entrada, entre outros, sempre sob a tutoria de um assistente especializado. Ao contrário dos outros anos, há um grande contacto com a prática clínica, pelo que, pelo menos pessoalmente, sinto-me realmente integrado na equipa do serviço, contribuindo efetivamente para o bem-estar dos meus doentes. Depois do estágio, habitualmente a seguir ao almoço, há um espaço de tempo livre que, à medida que a prova se aproxima, é cada vez mais ocupado entre os livros e slides.
Catarina Bravo: Os nossos dias são muito rotineiros: temos o estágio de manhã, que se pode estender até às 15h-16h da tarde, o estudo e as aulas de preparação para a Prova Nacional de Acesso, se estivermos inscritos em alguma das academias, que podem ser durante a semana ao final da tarde ou ao fim-de-semana (sábado o dia todo). E depois temos toda a vida normal – os nossos hobbies, estar com a família, estar com os amigos. É muito importante mantermos os nossos escapes, que nos dão a estabilidade emocional e o suporte que necessitamos para abraçar da melhor forma o ano de estudo e naturalmente de alguma pressão que temos pela frente!

Como é que se planifica a preparação e o estudo para este exame final? Há métodos de estudo conjuntos? Ou cada um isola-se e passa quase um ano a estudar sozinho?
Joana Kellen: Eu acabei por me inscrever numa escola de preparação para a PNA, não era algo que queria (porque os cursos são extremamente caros), mas acabei por me aperceber que poderia ficar a perder se não me inscrevesse. Estas empresas organizam a informação mais importante da bibliografia recomendada, o que facilita e rentabiliza o estudo. A meu ver, isto torna o sistema injusto porque estas aulas são bastante caras e há pessoas que não conseguem pagar e que acabam em desvantagem. Também vou estudando com colegas que estão a passar pela mesma coisa. Acho que é bom ir mantendo contacto com outras pessoas que vão fazer a prova porque mais ninguém sabe o que é passar por esta experiência, por isso acabamos por ser o apoio uns dos outros quando estamos stressados ou mais receosos.
Aluno de Medicina: É difícil planificar um estudo destes, não só pela quantidade enorme de temas que a matriz da prova engloba, como também pelo facto de ser um período longuíssimo de estudo (1 ano ou até mais). Acho que ter uma matriz sempre connosco é importante e ajuda muito a perceber o que já estudámos ou que temas achamos dominar melhor e que temas temos ainda de estudar/rever. Quanto ao método de estudo em si, diria que varia substancialmente de pessoa para pessoa mas acho que contactar com outras pessoas na mesma situação que nós (seja num grupo de estudo, seja contactando com pessoas em aulas de preparação para a Prova) é muito importante - mostra-nos que não estamos sozinhos. Contudo, devo acrescentar que o facto de cada um ter o seu estágio, com o seu tutor e horário, pode muitas vezes dificultar esta situação, e fazer com que acabemos por nos isolar mais.
Ana Sofia Mota: Eu ainda não tenho a certeza de que irei realizar o exame, mas de qualquer das formas, planeio começar a aumentar a quantidade de horas passadas a estudar pouco a pouco a partir de Janeiro. Por agora, estou mais a familiarizar-me com o tipo de exame: realizar o deste ano e a prova-piloto, perceber como as pessoas estudaram para esta prova e se foi o método correto de preparação, que materiais valeram a pena e os que não ajudaram em nada. Para mim, mais do que começar a estudar desenfreadamente, é saber que estou a estudar bem. O objetivo é rentabilizar ao máximo a dedicação que irei, ou não, usar na preparação do exame. Nunca fui muito de estudar em grupo, o stress dos outros stressa-me, mas não me inibo de partilhar dúvidas ou pedir conselhos.
Francisco Vaz Pereira: Julgo que a planificação e preparação do estudo para a PNA depende de cada um. Há uns meses, deram-me o conselho de manter o método de estudo que usei durante o curso, porque foi este que resultou para mim. Não devemos inovar na altura que mais conta. Assim, quem costuma fazer resumos da matéria, penso que deve continuar a fazê-los. Quem, como eu, pinta os livros com todas as cores de sublinhador, deve manter a estratégia. Ao longo do ano, existem também várias empresas que se propõem a ajudar os alunos na preparação da prova e penso que muitos colegas acabam por frequentar as suas aulas e utilizá-las para os obrigar a manter algum ritmo de estudo.
No 6º ano, sinto que existe algum risco de isolamento, por muitos alunos estagiarem deslocados da Faculdade. Já não nos cruzamos casualmente no corredor, entre aulas ou trabalhos. Exige-se um esforço ativo para combinar encontros com os amigos e vencer esta inércia que desafia as amizades. Pessoalmente, muitas vezes junto-me com os meus amigos para estudar nalgum local e conversarmos entre as pausas de café. Por vezes, estarmos ao lado de alguém a estudar até nos motiva a continuar. É importante manter a nossa vida social habitual durante o ano, para prevenir o burnout até à prova.
Catarina Bravo: Acima de tudo, acho que cada um deve ter noção do que resultou melhor para si ao longo dos 5 anos de estudo e segui-lo, pelo menos é isso que estou a fazer. Acredito que não há nenhuma receita de estudo milagrosa, é muito pessoal e cada pessoa, conhecendo-se, encontra a sua. E escolhendo-a, temos de confiar que estamos a fazer o melhor para nós e não nos preocuparmos se os outros estão a fazer diferente. Quanto a estudar sozinho ou em grupo, acho que com tanto tempo de estudo vamos ter tempo para tudo! Há alturas em que vamos preferir estar com os nossos amigos, outras em que vamos preferir estar sozinhos e mais concentrados...julgo que varia consoante o estado de espírito e o que estamos a estudar!

Fizeram no ano passado o Progress Testing? Se assim foi, ajudou, de alguma forma, na preparação?
Aluno de Medicina: Definitivamente a ideia é muito boa. Acho que, quando bem executada, pode dar-nos a nós, alunos, uma boa noção das áreas de conhecimento médico em que temos lacunas a colmatar e dos conhecimentos de cada área que é expectável um médico generalista possuir e pode, também, ajudar-nos na nossa preparação para a PNA. Esta é, contudo, a teoria. Na realidade, o Progress Testing foi um exame que procurou ser semelhante à PNA, com casos clínicos, mas cujos moldes não foram os mesmos da PNA, e sim muito mais próximos dos exames que temos habitualmente na faculdade, como um exame de Cirurgia I ou de Medicina II, por exemplo.
Francisco Vaz Pereira: Não tive oportunidade de realizar o Progress Testing o ano passado. No entanto, o feedback que recebi foi, em geral, bastante positivo. Soube que estava relativamente bem construído e abrangente, relembrando algumas questões que estavam esquecidas de anos anteriores. Apesar de o estilo de perguntas ser semelhante ao da Prova Nacional de Acesso, o teste, na sua natureza, não tem, no entanto, o mesmo potencial ansiogénico, portanto não sei até que ponto terá sido um fator diretamente vantajoso. Ainda assim, apesar das limitações na amostra, a seriação dentro da Faculdade permite satisfazer a curiosidade de saber em que posição nos encontramos.
Catarina Bravo: Claro que sim! Ser exposto a uma Prova com o mesmo tempo da Prova Nacional de Acesso, a mesma quantidade de perguntas, questões sobre vários temas e ainda ser capaz de ver o nosso posicionamento em relação aos colegas no geral e aos colegas do nosso ano foi um exercício muito útil que espero que se torne uma prática anual da nossa Escola!

Que sentimentos e pensamentos passam na cabeça de uma pessoa que já teve 6 anos a dar o seu melhor e está diante de uma prova que lhe dita, de alguma forma, o destino? No meio de tudo aspira-se a uma especialidade em concreto?
Joana Kellen: Eu não tenho uma especialidade ideal, nem sei se quero mais uma especialidade médica ou cirúrgica. Eu sou uma pessoa que ficaria contente com uma vaga em quase qualquer coisa. Tenho interesses muitos variados e são poucas as especialidades que não gosto. Neste momento, o meu objetivo é conseguir uma vaga porque estatisticamente a maioria das pessoas que vai fazer o exame não vai ter vaga e isto assusta-me muito mais do que não entrar em x ou y. O que eu sinto é que hoje em dia esforçarmo-nos a estudar para o exame não é suficiente, mesmo os alunos que trabalhem muito podem não conseguir o que querem. Para conseguirmos uma vaga para especialização (algo que devia ser de acesso universal e obrigatório) temos de ser os melhores dos melhores. E não é ser os melhores médicos, mas os melhores a fazer testes... é injusto e só aumenta o stress que todos já sentem ao fazer o exame...
Aluno de Medicina: Honestamente, é muito difícil explicar tudo o que se pensa quando se está perante uma Prova que tem tanta importância na definição do nosso futuro. Racionalmente, acho que a esmagadora maioria de nós acha que este novo exame é muito melhor e mais adequado (se feito nos moldes devidos) à nossa avaliação do que o antigo exame "Harrison". Porém acho que é também inevitável sentirmo-nos assoberbados pelo que este novo exame exige de nós, visto esperar que dominemos diversas áreas da Medicina, com um nível de conhecimento e expertise clínica por vezes expectável de um especialista da área, e não de um médico generalista (indiferenciado ou, até, MGF). No fundo, temos que estar preparados para responder a qualquer pergunta de qualquer tema médico ou cirúrgico imaginável e essa realidade não é propriamente reconfortante, muito pelo contrário. A isto acresce o facto de certas áreas versadas na prova serem áreas nas quais não tivemos formação, particularmente ao nível de contacto clínico, ao longo dos 6 anos do MIM. A tudo isto acresce o peso que sentimos para dar o nosso melhor, e tudo o que isso implica - as horas que "perderemos" a estudar, as férias de verão de que teremos de abdicar, os momentos de convívio com os nossos amigos e família que serão forçosamente reduzidos, quando na verdade sabemos que há a hipótese de tudo isso "ser em vão" e chegarmos ao fim sem uma vaga de acesso à especialidade. Penso que é muito duro gerir as nossas emoções, e, se em certos dias/momentos estamos determinados e motivados para atingir o nosso objetivo, noutros é clara a nossa desmotivação e dúvida quanto à verdadeira utilidade daquilo que estamos a fazer.
Ana Sofia Mota: Eu estou relativamente tranquila em relação à prova porque, primeiro, não sei se a vou realizar, como disse. Depois, porque não acredito que seja isso a ditar o sucesso que terei na vida. Serve apenas para entrar numa especialidade, e sincera e brutalmente, acredito que a prática da Medicina em Portugal está moribunda. Eu cresci numa aldeia e com uma mãe médica em casa. Sinto que fiquei com uma ideia romântica do que é ser médico que hoje em dia está longe da realidade. Eu vi o respeito e admiração com que a minha mãe é tratada ao longo de todos estes anos, atendi chamadas por ela e recebi presentes para lhe entregar, desde galos vivos a jarras da Vista Alegre. Nem sei se posso dizer isto, pois atualmente acredita-se que qualquer tarte que se ofereça esteja recheada com suborno. Nunca senti nada disso, nunca ninguém o fez com esse sentido. É a vantagem de vir de um meio mais simples, mais humilde, mais generoso e muito, muito mais limpo. Sonhei um dia que todas as pessoas agiam simplesmente com humanidade e diziam “Bom Dia!” umas às outras. Agora chego aos hospitais, ao SNS, e (quase) toda a gente está cansada, enfadada, com ar de quem se vir uma janela aberta se atira. Deveria eu enlouquecer por uma prova cuja boa classificação me garante a entrada para este mundo? Sabemos que ninguém está a pensar nisso, todo o ser humano perspicaz sabe que uma boa nota garante sim a entrada para uma boa especialidade, o que se traduz por uma especialidade com espaço no Privado, que é onde estão os salários que mantém a classe médica portuguesa tranquila. Mas eu não vivo bem com essa ideia. Nem nenhum dos meus colegas, até porque começamos a ser demasiados, não é? Todos querem fazer algo de que gostem realmente, sentir-se feliz diariamente, mas acabamos por ser levados pela corrente. Estamos numa fábrica de soldadinhos de chumbo. E os soldadinhos de chumbo deverão combater, certamente, mas de preferência, com a liberdade de se tornarem mercenários e de protegerem a sua própria dignidade.
Francisco Vaz Pereira: Como é facilmente compreensível, penso que qualquer aluno se sente desamparado com a situação de fazer uma prova, após seis anos de curso, que será indubitavelmente marcante para o seu futuro enquanto profissional de saúde. Alguns relatos que ouvi deste ano, em que algumas pessoas não tiveram tempo para preencher as respostas às questões na prova, são aterradoras para qualquer aluno que irá realizar o exame em breve. Ainda assim, estou esperançoso que este novo exame, baseado em casos clínicos, possa refletir mais realisticamente, o trabalho ao longo dos seis anos, e o contacto que tivemos com o raciocínio médico durante o curso. Sinto-me confiante, por saber que me entregarei completamente à prova, e que o seu resultado será o melhor que consegui fazer, independentemente dos fatores externos.
A "Pergunta da Especialidade" é a mais temida por qualquer estudante de Medicina, desde o primeiro ano. O teor competitivo e aleatório da prova torna difícil comprometer-nos com uma especialidade, quando nem sequer sabemos se a iremos conseguir ter. Não tive contacto suficiente com a prática clínica para me sentir confortável a escolher uma especialidade médica, mas sei que não escolherei uma área cirúrgica (que, felizmente para mim, é a mais cobiçada). Ainda assim, se tivesse de escolher hoje, preferia a Pediatria ou as Doenças Infecciosas.
Catarina Bravo: Sente-se receio, alguma apreensão, porque tudo ainda é muito incerto e o nosso futuro depende dessa incerteza...Mas a verdade é que estudar para esta prova também nos pode permitir saber muito e tornar-nos melhores profissionais. E tranquiliza-me muito pensar nisso e encarar este processo de preparação para a Prova como uma oportunidade de cimentar muitos conhecimentos que sei que farão de mim uma médica melhor, independentemente da especialidade que siga (existem várias que gosto).
Quais são os caminhos alternativos se a prova não permitir aos resultados pretendidos?
Joana Kellen: Por agora, eu não vejo caminhos alternativos que não repetir a prova. Eu gostava de poder ficar em Portugal perto da minha família e amigos. Por isso, ir para fora (como muitos dos meus colegas planeiam fazer) não está nos meus planos. Eu sei que não sou a única a sentir isso, a maioria das pessoas que conheço que planeiam sair de Portugal se não tiverem vaga apenas o fazem porque a situação em Portugal não é capaz de acomodar todos os estudantes, muitos deles se pudessem escolher ficariam cá. Há demasiadas pessoas a concorrer para poucas vagas. Se eu não entrar este ano, previsivelmente será mais difícil ter vaga no ano seguinte (porque para além dos que tentam pela primeira vez, haverá também as pessoas que não tiveram vaga a repetir o exame) e assim por diante. Isto aumenta muito mais a pressão para conseguir este ano. A minha outra opção seria tornar-me médica indiferenciada, mas sinto que não seria uma opção boa para o meu melhor interesse e para o melhor interesse dos meus doentes. Se chegar a esse ponto, terei de sair de Portugal, muito relutantemente, mas terá de ser.
Aluno de Medicina: É já uma realidade que não há vagas de formação especializada para todos os alunos que saem das escolas médicas e isso faz com que tenhamos que equacionar alternativas para o nosso percurso profissional. Definitivamente o caminho alternativo que mais equaciono momento é a emigração. Por muito que custe deixar para trás o nosso país, a nossa família, a verdade é que as condições de trabalho e remuneratórias dos profissionais de saúde em Portugal e, em particular, no SNS, estão muito longe de ser ideais e eu diria até que fazem a ideia de emigrar ganhar mais força e sentido.
Ana Sofia Mota: Para mim, a PNA é um plano B. Iria para Paris ser empregada de mesa. Foi sempre algo que quis experimentar. Sendo mais realista, emigro caso haja uma oportunidade de emprego que me ofereça melhor qualidade de vida do que aquela que me espera aqui. Faço uma pós-graduação. Para isso se calhar vou precisar de pedir um empréstimo, por isso talvez tenha de me inscrever numa daquelas empresas privadas de recrutamento e trabalho como tarefeira. Ou dou aulas de música, ou talvez de italiano. Faço as duas coisas ao mesmo tempo. Escrevo um livro. E finalmente estaria mais disponível para trabalhos na área da moda. A minha professora de Biologia do secundário dizia sempre “Vocês ou estudam ou então é melhor que arranjem um marido rico!”. Eu estou a seguir o primeiro conselho, se falhar, sigo o segundo! (risos)
Francisco Vaz Pereira: Se a prova não possibilitar os resultados pretendidos, não conseguindo ter vaga numa especialidade médica, existem algumas opções para os finalistas, como emigrar, dedicar-se à área da Investigação ou trabalhar como médico indiferenciado. Pessoalmente, dependendo da nota, estou preparado para repetir a prova no ano seguinte, caso não consiga atingir os meus objetivos.
Catarina Bravo: Se os resultados não forem os pretendidos, há que ter a mente aberta e pensar noutras alternativas, que podem passar, por exemplo, por repetir a prova, seguir outra especialidade ou enveredar por outras áreas como a gestão hospitalar ou a investigação. Por mais difícil que imagino que seja, o importante é não nos darmos por vencidos e lutarmos por aquilo que acreditamos ser o melhor para nós.
Joana Sousa
Equipa Editorial
