Tome Nota
Por quem vai correr ou caminhar?

É habitual subir as escadas do Hospital de Santa Maria (HSM), em Lisboa, e ver sempre alguma mensagem ligada às calorias que estamos a gastar e quanto precisamos de correr para eliminar o que ingerimos. A ideia surgiu há dois anos, e pela terceira vez, vai ser aplicada nos mais de 450 degraus que preenchem todas as alas do HSM.
Imagina o trabalho que dá forrar todos estes degraus? E sabe que desde o verão passado se planeia toda a estratégia de comunicação da Corrida que acontece já no próximo dia 28 de abril?
Já na sua 6ª edição a Corrida Saúde Mais Solidária é também a maior corrida universitária do país.
Composta por uma equipa de trabalho com 20 elementos, todos eles são estudantes da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa.

A Corrida é solidária porque todos os anos pretende divulgar a causa de algumas Instituições. Este ano são 4 e para ajudar é preciso fazer uma inscrição e participar ativamente. Tem 4 formas para o fazer: numa caminhada de 5 kms, ou a correr 5, 10 ou 15 kms.
Fomos conhecer a Matilde Boavida e o Pedro Pinto, os dois coordenadores gerais deste projeto. Apaixonados pelo desporto, a Matilde sempre gostou de correr e o Pedro praticava atletismo de competição. Entrar para a Faculdade diminui-lhes as rotinas desportivas, mas não lhes tirou o ímpeto do desporto.
Dos primeiros 6 elementos reunidos no início, rápido se abriram as inscrições em setembro para completar o grupo com mais 14.
Se no verão passado Matilde e Pedro traçavam as linhas gerais do que pretendiam que fosse a 6ª edição da Corrida, agora ela está clara e segue a todo o vapor para a sua fase final que é o arranque.
Com a pasta da Imagem e Divulgação, o Pedro tem a responsabilidade de garantir que toda a equipa divulga continuadamente informação que seja tão apelativa que convença sempre mais alguém a inscrever-se. Tem depois o Departamento de Logística que trata da parte mais organizacional da Corrida e é esse que se encarrega da viabilidade dos percursos, sinaléticas, dorsais, chip’s e outros adereços importantes.
Já a Matilde assegura com a sua equipa toda a coordenação de Patrocínios, procurando sponsors que financiem ou apoiem o projeto, através de donativos diretos ou entregando consumíveis que possam ser úteis no dia da prova. Tem ainda as Parcerias e as Inscrições onde avaliam as Instituições a escolher, assim como tratam da gestão das inscrições dos participantes.
Falem-me um pouco do vosso papel enquanto Coordenadores e como é que se motiva uma equipa inteira a entrar nisto apenas por gosto.
Pedro: O que os Coordenadores procuram nos alunos interessados em fazer parte desta Equipa é principalmente motivação e capacidade de trabalho. Não pedimos experiência, mas sim, acima de tudo, que estejam motivados pois é um trabalho que ocupa bastante tempo - de outubro até maio. Fazemos, inicialmente, uma apresentação do projeto, uma sessão de esclarecimentos em que cada um dos coordenadores apresenta os seus departamentos e esclarece as várias dúvidas que possam surgir. Esta apresentação serve para que, quem se queira juntar à equipa, fique a conhecer o trabalho que é necessário desenvolver e que se inscreva na área com a qual se identifica mais. Na primeira semana de outubro a equipa final está constituída.
Existe uma grande comunicação entre os coordenadores e depois entre estes e os elementos de cada departamento, que ao todo são 4.
É uma organização muito bem pensada e articulada, em que a comunicação permanente é fundamental e a base de um bom funcionamento da equipa. Há reuniões mensais também. O que se pretende é que, no final, cada um dos elementos leve também uma boa recordação dos momentos de partilha e de convívio que existiram durante este percurso.
Matilde: Existem algumas experiências de team building, com jantares, reuniões e houve mesmo uma corrida de 10 km, num domingo, em que todos os elementos da equipa participaram e em que o lema foi "ninguém fica para trás". No percurso corremos a vários ritmos, entre corrida e caminhada, sempre em conjunto e com grande espírito de equipa. Nesta fase final do projeto todos têm que estar muito à vontade a trabalhar com todos e estes momentos ajudam e contribuem para isso.
Qual o critério de escolha das Associações e Instituições que vão apoiar?
Matilde: Recebemos pedidos por parte de algumas instituições que se querem associar a nós. Até ao momento temos já 4 associações fechadas.
Já fomos visitar 3 delas na última semana, também em ação de team building.

A Associação Crescer tem como objetivo a inclusão na comunidade da pessoa em situação de vulnerabilidade. Apoia toxicodependentes, refugiados, pessoas em situação de sem abrigo. Desenvolve ações que visam a promoção da saúde, a redução de riscos e a integração comunitária das populações vulneráveis através de vários projetos de intervenção na comunidade.
size="20"

A Fundação AAMA - que tem como objetivo promover o apoio e a valorização de crianças, jovens e adultos com deficiência e outras necessidades especiais , através de iniciativas que facilitam a promoção e proteção da saúde. As suas ações desenvolvem-se no âmbito da prevenção, avaliação, orientação e intervenção terapêutica psico-motora. A semana passada participámos numa atividade com as crianças - uma aula de natação com perturbação do espectro autista. A importância desta atividade é enorme porque como as crianças adoram água há um trabalho de desenvolvimento cognitivo que ajuda na sua reabilitação psico-motora.
size="20"

A Associação Pais21 – Down Portugal é uma associação de pessoas com trissomia 21, famílias e sociedade civil, que promove a informação e a partilha de novidades relativas à trissomia 21 (t21). Esta Associação pretende mudar o modo como a sociedade vê as pessoas com t21, dar um apoio individualizado aos pais, dar informação atualizada sobre as suas capacidades reais e apoio às novas famílias. O objetivo é fomentar a interação entre as famílias e as diferentes associações, funcionar como entidade agregadora de informação sobre t21, e desenvolvendo várias ações de integração destas pessoas na sociedade. Na visita que fizemos participámos em algumas reuniões com as crianças e os adultos. O trabalho ali desenvolvido é fantástico. Por exemplo, os adultos estavam a fazer uma discussão sobre os partidos políticos e sobre a posição de cada partido político em relação à integração das pessoas com deficiência na sociedade.
size="20"

O Fundo João Lobo Antunes iMM, que tem sido parceiro fixo desde o início deste evento, tem como objetivo apoiar projetos de investigação.
size="10"
Quando se inscrevem, as pessoas podem escolher a Instituição que querem apoiar?
Matilde: Os inscritos para a corrida podem escolher a Associação para a qual querem doar 20% da sua inscrição. O restante valor é repartido equitativamente por todas as Instituições.

Pedro: Assim, salvaguardamos que todas recebem um montante e damos a oportunidade de quem participa, e tem alguma ligação a uma destas instituições, também a possa apoiar. Todo o valor que recebemos tem que cobrir as despesas que temos com o Projeto, depois 100% do valor excedente, após essas despesas, vão para as Associações que apoiamos. Há pessoas que não sabem mas este evento tem custos e despesas associadas.
A Câmara Municipal de Lisboa dá-nos muito apoio a título gratuito, mas temos que garantir o apoio da Polícia e dos Bombeiros, porque há estradas e ruas que são cortadas, e isso tem custos.
Esperam quantas pessoas nesta corrida?
Matilde: O ano passado participaram 1.500 pessoas. Este ano, ao que nos parece, teremos muito mais. Até agora tem corrido muito bem, contamos talvez com 2 mil participantes.
Pedro: Gostamos de dizer que a nossa Organização é sempre a melhor. Mas é a melhor porque as outras anteriores já foram muito boas. O objetivo é que este projeto continue a crescer e que em cada ano o número de inscritos seja superior.
Estamos agora na fase de iniciar a campanha de sensibilização, nos 450 degraus do HSM, em que trabalharemos os 20 elementos da Comissão Organizadora. Acontecerá no final de março.
O que é que vos move a participar neste projeto?

Matilde: Estava no 2º ano da Faculdade quando iniciei o projeto. Interessei-me por ele porque tinha duas componentes muito importantes para mim: o desporto e a vertente solidária. Decidi inscrever-me. Na primeira edição estive ligada à imagem, depois na segunda fui coordenadora de imagem e agora estou na coordenação geral.
Pedro: O meu percurso é idêntico ao da Matilde. Eu também praticava atletismo antes de ingressar na FMUL, até estive indeciso entre vir para Medicina ou ir para Desporto. Entrei em competições até ao 12º ano. Cheguei a inscrever-me nos pré-requisitos para entrar em Desporto, mas acabei por não os realizar. Sempre me interessou estar ocupado com outras atividades para além do estudo. Por isso o meu percurso foi bastante semelhante ao da Matilde. Também foi no meu 2º ano que me interessei pelo Projeto. No primeiro ano fiz parte do Departamento de Divulgação, no seguinte mantive-me no mesmo departamento, e este ano sou Coordenador Geral.
É o querer crescer para além da formação médica e sentirmos que este projeto pode ajudar-nos na nossa formação como médicos.
Matilde: Adquirimos muitas soft skills, a gestão de uma equipa, por exemplo.
Pedro: E conhecemos muitas empresas, muitas realidades diferentes e isso também nos põe em perspetivas outros caminhos futuros.
E no meio destes ritmos todos há a tentação de desistir de algo porque de repente o tempo não chega sequer para continuar a estudar?
Matilde: Tanto eu como o Pedro já fizemos parte da AEFML e essa questão do tempo deve ser pensada em equipa. Eu sinto que, quando temos várias atividades, tarefas, responsabilidades, a dedicação ao estudo tem, obrigatoriamente, que ser maior. Estes projetos deixam-nos respirar um pouco das nossas obrigações de alunos e, ao mesmo tempo, permitem-nos treinar para a nossa vida futura em que seremos médicos e andaremos a mil...O que eu costumo dizer, quando algum elemento da equipa se sente mais cansado é que, no final irá compensar, porque iremos ver resultados e o projeto está concluído e, a longo prazo, acabamos por conseguir obter melhores notas do que se não estivéssemos envolvidos em nada. Acaba sempre por correr bem.
Pedro: Se formos muito organizados no nosso tempo e mantivermos um certo equilíbrio - estudar mas também ter tempo para o Projeto da Corrida - chegamos ao final e tudo acaba bem e a sensação é muito boa, sentimo-nos importantes. E tudo isto passa a ser a preparação para o nosso futuro.
Já sabem o que querem vir a fazer, concretamente, no vosso futuro?
Matilde: Eu ainda não. O meu problema é que eu gosto muito de tudo! Na vida também tenho esse problema. Mas no futuro irei saber o que escolher.
Pedro: Acho que se tivesse que escolher já amanhã, escolheria Medicina Interna. É um bocadinho do que fazemos, porque vejo o internista como um coordenador geral. Tem que olhar para o doente de várias perspetivas e perceber todas as implicações que existem. Faço um paralelismo entre a coordenação geral deste projeto com o papel do médico interno.
No dia 28 de abril o Pedro e a Matilde não vão participar na Corrida porque estarão com toda a Comissão Organizadora e a Equipa de Task Force a controlar a ação no terreno. Mas até chegar esse dia já terão feito 10/15 kms, ou terão esgotado os segundos que um só dia tem, a ultimar os preparativos, até que esteja tudo a postos.

Correm quase todos os dias por gosto e não se cansam porque acreditam que é possível juntar a vontade do desporto à missão de ajudar outros.
O desafio fica lançado, ainda se pode inscrever!
size="30"
Já sabe por quem quer correr?
Todas as informações, aqui.
size="30"
Joana Sousa
Equipa Editorial
