Eventos
No balanço do AIMS Meeting – uma conversa com o Diogo Ferreira

Foi este mês de março que aconteceu em Lisboa a 10ª Edição do AIMS Meeting (Annual International Medical Students), o maior Congresso Europeu de Biomedicina organizado pela Associação de Estudantes da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa.
Cada vez com mais participantes, o Congresso que reúne um vasto número de estudantes nacionais e internacionais, contou com a participação de três Prémios Nobel. Harald zur Hausen, Nobel da Medicina (2008), pela sua descoberta do Vírus do Papiloma Humano (HPV) como agente causador de cancro do colo do útero, e que defende também a vacina contra o HPV para rapazes. Aaron Ciechanover, Nobel da Medicina (2004), por ter descoberto a degradação de proteínas mediada pela ubiquitina.
E Peter Agre, Nobel da Química (2003), pela descoberta de como os sais (iões) e a água são transportados para dentro e fora das células, tendo contribuído para compreender como os rins recuperam água a partir de urina primária e como são gerados e propagados os sinais elétricos das células nervosas.
Dividido por três dias, cada dia destinava-se a uma das grandes áreas em debate deste ano: “Sexo e Reprodução”, “Imunidade” e “Cinco Sentidos”.

Coordenador geral do AIMS, Diogo Ferreira está no 5º ano do Mestrado Integrado em Medicina. Filho de um médico Cardiologista, diz que a Medicina sempre foi o seu meio ambiente natural, embora não saiba ainda a especialidade que quer escolher.
Ser bom aluno sempre lhe facilitou o caminho de uma escolha que justifica que "tinha mesmo que ser assim".
É aliás essa convicção que coloca em muito do que faz e quando quer algo e acredita que o pode alcançar, não tem medo de se lançar aos desafios. Foi por isso que se auto propôs para o cargo de Coordenador Geral do AIMS Meeting.
Até aqui Diogo nunca tinha feito parte da Associação de Estudantes e apesar da Comissão Organizadora do AIMS ser um projeto que pertence à AEFML, abre, no entanto, um concurso a todos os alunos da Faculdade que queiram participar. É depois através de um processo de entrevistas que os estudantes são selecionados para essa Comissão. Foi o que aconteceu com Diogo.
Descreve o AIMS com um projeto de espetacularidade pela dimensão que assume e as pessoas que reúne à sua volta. Organizar um evento assim, exige um ano inteiro de preparação para que em 4 dias tudo então aconteça. Contactar com grandes especialistas, organizar algo do começo até ao fim e executar cada passo, fazia tudo parte de um papel que se encaixava no seu perfil. "Eu via os outros alunos a preparar todo o evento e pensava que queria ser um deles". E foi. Entrou há 2 anos, inicialmente para o Departamento Científico onde contribuía com ideias de temas a explorar, bem como os oradores mais adequados consoante o tema em debate. Se 9ª Edição já se revelara um sucesso, de tal modo, que fora a maior edição até àquela altura, já a 10ª prometia vir a ultrapassar as expetativas. Concluído que estava o grupo de trabalho da 9ª Edição, reuniram-se os elementos que pretendiam continuar. E como os membros sobem sempre de coordenandos a coordenadores, Diogo entendeu que se devia candidatar à coordenação geral do projeto. Por eleição ficou nesse lugar.
Acompanhou de forma próxima o trabalho de todos os departamentos, gerindo uma equipa de 23 elementos que só viria a ser reforçada por uma Task Force, nos dias do evento, com mais 37 estudantes, atingindo 60 envolvidos, no total.
Mas antes de se chegar à grande prova de fogo, todas as equipas passam pela prova intermédia através do AIMS Masterclasses e que se realiza a meio de cada mandato. Se por um lado querem chegar, a um custo mais baixo, a todo o universo de alunos, por outro, é o primeiro embate real de produção de um grande evento.
Quer num evento como no outro o Diogo foi relatando à equipa da News@fmul os passos mais importantes e o que deles resultou. Mas depois do grande evento, não seria possível não o ouvirmos no seu balanço final.
size="10"
Fale-me do sucesso deste evento em números.
Diogo Ferreira: Este congresso reuniu 1000 estudantes em comparação aos 750 do ano passado. Quanto ao número de estudantes estrangeiros a participar eles praticamente duplicaram, sendo que vieram de 35 países diferentes. De outras faculdades do país vieram cerca de 200. Alguns dos estudantes internacionais chegam a Portugal para participar no programa Research Competition, que procura premiar a investigação pré-graduada, em que o prémio total é de € 2000. Nestes casos pode acontecer que a própria faculdade lhes financie a sua vinda, caso contrário a maioria vem ao AIMS assumindo todos os custos por conta própria.

No vosso dia de Masterclasses do AIMS, que aconteceu em Outubro do ano passado, fui assistir a parte de uma palestra que decorria no Grande Auditório João Lobo Antunes e não havia uma única cadeira vazia. Não sei se alguma vez vi aquele Auditório tão cheio. Em que parte se toca na motivação dos estudantes para os fazer aderir desta forma a algo?
Diogo Ferreira: Diria que é o próprio propósito das palestras e dos projetos transversais ao AIMS como as próprias Masterclasses. Ou seja, a tónica que é colocada nas palestras não é tanto aquilo que eles vão aprender em termos académicos, mas o que vão retirar dali. Muitas vezes o que pedimos aos nossos oradores para falar, não é tanto aquilo em que trabalham todos os dias, mas a sua experiência pessoal de vida. Queremos dar um momento em que, em vez de estarem só a aprender detalhes, possam ter histórias de vida, testemunhos na primeira pessoa de sucesso, ou de insucessos. Isso permite-lhes uma perspetiva diferente e uma proximidade com a realidade. Pretende-se que os estudantes se sintam inspirados com os testemunhos na primeira pessoa de figuras de sucesso na área da Saúde, para que possam também ser agentes de mudança no futuro.
Sendo o nosso curso muito exigente e com uma vertente teórica fundamental penso que nós estudantes temos até uma certa obrigação de criar eventos como o do AIMS para que se possam complementar.
size="10"
Como é que se alcançou neste evento esta projeção internacional?
Diogo Ferreira: Existe já esta tradição dos congressos internacionais que premeiam a investigação a nível pré-graduado e logo essa parte já está relativamente bem estabelecida. O AIMS e outros congressos congéneres têm parcerias entre si, temos dezenas de parceiros, o que permite uma divulgação entre eles em que todos se ajudam. Com a particularidade que o AIMS é o maior desta rede criada.
size="10"
E os de cá, como foi a adesão?
Diogo Ferreira: Este ano só da nossa Faculdade foram praticamente 700 estudantes. E outros tantos ficaram de fora em lista de espera. Este número de lista de espera é algo que não era o paradigma nas edições anteriores, ou seja, na última já aconteceu, mas não com esta dimensão.
size="10"
Calculo que com um cartaz destes tenha pesado muito a decisão de quererem todos estar presentes.
Diogo Ferreira: Este ano sim, sem dúvida. Há vários anos que o AIMS, quando pensa em oradores de excelência, o currículo máximo é o Prémio Nobel. No passado, já tinha vindo um Prémio Nobel que não tinha possibilidade de vir durante os dias do congresso, foi o Professor Craig Mello. Infelizmente o Professor Harald zur Hausen adoeceu e não pôde vir, então fez uma palestra vídeo gravada e que foi na mesma muito interessante. Ainda assim, tivemos a presença dos Professores Peter Agre e Aaron Ciechanover.
size="10"
Explique-me sem falsa modéstia, como é que alunos de Medicina, porque ainda são alunos, conseguem reunir este leque de convidados e mobilizá-los a participar?
Diogo Ferreira: Eu acho que vários fatores pesam. Por um lado, o Congresso tem melhorado de ano para ano. Por outro, este ano já nos pudemos apresentar enquanto o maior Congresso europeu entre os seus congéneres. Depois contamos com o apoio da Faculdade e com o apoio de uma Comissão Científica composta por Professores nossos, que nos ajudam a chegar aos oradores. Dou-lhe um exemplo, o Professor Bruno Silva Santos fazia parte da Comissão Científica do módulo de Imunidade, quando enviamos o convite, o Professor geralmente envia outro mail sobre o nosso próprio convite, reforçando o nosso interesse e a atestar a qualidade não só do evento, mas da própria Faculdade. Para além disso, acho que beneficiamos muito de estar numa cidade como Lisboa, porque está na moda e atrai muito os nossos oradores. Sabe que o AIMS apesar de comparticipar a viagem e os custos de estadia, não paga honorários aos seus oradores. E eles próprios dizem-nos que tendem a fazer um esforço pessoal muito particular quando são eventos para estudantes, porque sentem que devem dedicar algum do seu tempo e dirigir-se a quem está a aprender. Dizem que os estudantes são o futuro das suas áreas. Já vários oradores nos disseram que têm dificuldade em dizer que não a estes convites precisamente por esta razão.
Sem dúvida que a qualidade deste Congresso vai aumentando de ano para ano e acho que a próxima edição ainda vai ser mais forte e convencer nomes tão bons ou melhores.
size="10"
Vai fazer parte dessa próxima equipa?
Diogo Ferreira: Não, já não vou fazer parte. É uma experiência muito exigente e achamos que deve haver uma renovação de pessoas para que possam ser feitas coisas diferentes. O Congresso precisa de se reinventar de ano para ano e é difícil ter a mente limpa e aberta para na próxima edição fazer tudo diferente.
E depois vou entrar no 6º ano e preciso de fazer a minha tese que está ligada à Farmacologia.
Tenho de estudar.
size="10"
Como é que vai ser este ano de recolhimento e de um silêncio que contrasta com um ano de alguém que tem de assumir muito a linha da frente?
Diogo Ferreira: Já estou mentalizado que o 6º ano é para ser assim. Aliás, quem entra em Medicina sabe que há alturas que tem de estudar muito a sério, o 6º ano é o momento em que temos mesmo de nos preparar para a prova de seriação. Vai custar, mas estou mentalizado para esta fase e vou encará-lo com naturalidade.
size="10"
Diogo Ferreira encerra assim uma fase que lhe deixará recordações e quem sabe frutos para o seu futuro profissional. Quanto à especialidade não sabe o que quer seguir, mas põe de lado as possibilidades cirúrgicas, tendo esperança que talvez com os estágios consiga escolher a sua saída ideal.
Se for como tem sido sempre até aqui, seguirá exatamente só aquilo que entende que é o que tem de ser.
[su_slider source="media: 30421,30416,30418,30417,30414,30415,30419,30420" limit="25" link="image" target="blank" width="460" height="320" responsive="no" title="no" pages="no" autoplay="0" speed="5000"][su_slider source="media: 19344,19346,19396,19359,19351,19348,19356,19372,19343,19371,19373,19382,19385,19386,19388,19393,19377,19394,19401,19342,19318,19316,19315,19313,19310,19308,19306,19303,19299" limit="13" link="lightbox" width="920" height="580" responsive="no" title="no" mousewheel="no" autoplay="5300" speed="2100"][/su_slider]
Joana Sousa
Equipa Editorial
