Reportagem / Perfil
A linha do tempo de Carlos Neves Martins

Marcamos uma entrevista e desmarcamos por desencontros de agenda. Voltamos a reagendar e deixa-me claro que não gosta de falhar com os compromissos que assume. Entro à hora marcada e, no mesmo corredor onde habita a Capela do Hospital, há um escritório inteiro numa permanente agitação subliminar que causa sempre alguma pressão a quem a ele não pertence. Enquanto espero pergunto-me se há um timing certo para se fazer uma entrevista, mas isso seria colocar um rótulo às pessoas como se elas tivessem um prazo de interesse para dizer quem são, o que não é verdade. Com tudo meticulosamente organizado, recebe-me no seu gabinete, no espaço onde funciona o Conselho de Administração do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte (CHULN), local onde exerce a presidência que detém desde 2013.
Está agitado e antevejo que o tempo seja escasso. Rapidamente reorganizo perguntas. Mas falho, porque guardou-nos tempo. Precisava apenas de uns segundos para olhar para si próprio e focar-se somente no tempo em que estávamos.
Carlos Neves Martins é o homem que dá a cara pelo Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte. Muitas vezes no centro das notícias, não é figura que passe despercebida, toma as atitudes de frente e apesar de diplomata, não enfeita as suas opiniões. Se acreditar genuinamente nas causas, não se importa de correr o risco de pagar o preço por elas. Obstinado, diz o próprio, não vale a pena teimar com ele se está determinado num assunto. Mas quem é o homem de quem já tanto se falou e que continua a ser o rosto do maior Centro Hospitalar do país?
Apaixonado pelo mar, nasceu em Portimão no verão de 61. Ainda hoje, quando fala de forma mais despreocupada, se sente o registo algarvio que transporta com orgulho. De origens humildes deu a alegria aos pais de ser o primeiro licenciado da família, ainda assim não lhes cumpriu totalmente o sonho de se formar em advocacia. Advogado seria só o irmão, mais novo 18 anos.
Desde cedo que quando entende que tem de fazer as coisas de determinada maneira, as assume e puxa para si. Das 12 linhas na candidatura ao ensino universitário, só preencheu uma: a primeira, por ser a única que lhe interessava: Relações Internacionais. Talvez seja assim em boa parte das pastas que trata, convicto de uma verdade, agarra-a até ao fim.
Deixou o calor do sul e rumou ao frio húmido do norte, escolhendo a Universidade do Minho para assinar as primeiras declarações de vontade daquilo que viria a ser o seu futuro.
Rápido na nossa conversa fala-me do seu ADN para explicar uma quantidade de razões que o fazem ser o que hoje é.
Relações Internacionais foi a forma que encontrou para matar a sede de viajar e alargar o mundo que não lhe cabia nos moldes de uma só região, nem de um só país. E já que a mãe não o deixaria fazer os testes de piloto para a Força Aérea, passou então a ser "marinheiro voador", vivendo mais em aeroportos do que na sua própria casa. A diplomacia assumia-se com uma das suas grandes facetas de intervenção, permitindo-lhe fazer também viagens à personalidade e cultura das pessoas.
Carlos Neves Martins formava-se, assim, no primeiro curso do país para formação superior de Diplomatas, ganhando ainda uma perspetiva de gestão internacional.

Primeiro algarvio a chegar à então jovem Universidade do Minho, não se esquece que chegou a Braga, numa noite chuvosa, gelada e com nevoeiro, depois de um dia inteiro em viagens sucessivas entre comboios demorados. Alugara um quarto em casa de uma senhora viúva, mas a boa educação, vincada pelos pais, ensinara-lhe que não eram horas para se bater à porta de ninguém. Ficou então numa pensão que encontrara logo ali perto da estação. Conta que o primeiro impacto com a realidade da sua nova terra foi não conseguir tomar banho naquela gelada manhã de dezembro, por falta de água, que se encontrava em gelo nas canalizações O segundo viria logo a seguir, com um pequeno-almoço de sandes de panado e uma tigela de vinho, seguindo o que os clientes locais estavam a comer e beber.
Não esquece a data exata da sua chegada, porque ela ficaria sempre presa a outra memória, uma memória com marcas no seu ADN. Apenas um dia depois de chegar à sua nova vida, a 4 de dezembro de 1980, morria Sá Carneiro. Apesar de ter na família vínculos políticos, mais ligados à esquerda, rapidamente sentiu a sua apetência para a intervenção social. Depois de passar a noite na sede do então PPD em Braga e de aí ter travado grandes amizades até aos dias de hoje, diz que só passado um ano se tornou militante do partido, tendo resistido ao impulso das fortes emoções daqueles dias de luto nacional em dezembro de 1980.

A Aliança Universitária Reformadora foi a sua primeira manifestação de estar e fazer política, a qual integrou para combater a forma fechada como era gerida a Associação Académica, que na altura tinha grande peso político do PCP. O aluno de 1º ano, Carlos, associou-se a amigos, cada um do seu partido, alguns sem partido algum; o propósito era mudar o rumo existente. Depois de um ano de campanha intensa, a lista a que pertencia ganhou as eleições. Passou por várias funções até chegar a Presidente. Das andanças académicas foi ainda Presidente da Comissão Organizadora da Queima das Fitas e formou uma Tuna, que perdura até hoje, entre outros projetos inovadores que ajudou a criar e de que fez parte.
Fundou a Rádio da Universidade do Minho (RUM). Desses tempos relata o episódio em que foi chamado a identificar-se pelas autoridades policiais, depois de terem cortado a emissão de rádio da PJ, na tentativa de emitirem o programa noticioso inaugural da RUM, que para além de interferir nas comunicações rádio da PJ entrou nas televisões da vizinhança, precisamente na hora da adorada telenovela brasileira (conta-me a rir). Diz que durante meses as senhoras da zona da Sé de Braga o olharam com irónica simpatia.
De volta ao Algarve, com 24 anos, o primeiro emprego que teve foi no Instituto Politécnico de Faro. Conta que foi chamado por Carlos Lloyd Braga (antigo Reitor da Universidade do Minho) e na altura pensou que seria apenas para dar algumas ideias sobre a sua região. Enganou-se. Nascia o primeiro desafio: instalar os Serviços Sociais do Politécnico de Faro. Percebeu, nesse dia, que a idade não era obstáculo e manteve esse princípio para o resto da sua vida. Mas percebeu também que quando se têm muitas ideias, elas só ganham dimensão se forem aplicadas. Com Lloyd Braga conta ainda que aprendeu a importância de transmitir responsabilidade de forma tão simples como pedir a alguém para preencher uma folha de papel em branco, onde há apenas o título e no fim o resultado pretendido. Para além da prova de confiança, este simples exercício ensinou-o a aprender a importância da responsabilidade e do trabalho em equipa, nunca perdendo o foco do resultado.

Muda-lhe a expressão do rosto quando dá outro salto na sua linha do tempo e fala do serviço militar, que cumpriu como Oficial Miliciano de Artilharia, primeiro na Escola Prática de Vendas Novas e depois no Regimento de Leiria e no Campo de Santa Margarida. Chamado a comparecer aos 25 anos, quase Pai e com um início de vida profissional promissor, não procurou fugir a esse dever, embora vá dizendo que foi um enorme choque e uma grande perda financeira. Mas ao entrar na porta de armas da Escola em Vendas Novas decidiu que iria ser exemplar e recebeu, ao sair, um extenso Louvor como Observador Avançado, como Comandante de Pelotão e como Oficial de Operações do Grupo de Artilharia de Campanha da Brigada Mista Independente (NATO).

Após um despiste da viatura militar em que fazia uma patrulha numa zona montanhosa, chegou a ser declarado morto no local do acidente.
Passou pelo Hospital de Leiria, pelos Hospitais da Universidade de Coimbra (evacuado de helicóptero), pelo Hospital Militar de Coimbra e pelo Hospital Militar da Estrela, durante semanas. Ficou alguns meses em coma e tudo isto a um mês de acabar o serviço militar e com o primeiro filho com, apenas, 9 meses. Ainda assim, e sem querer parar demasiado a pensar nesse tempo, diz que foi uma fase que recorda com tranquilidade, embora tenha sido muito intensa e da qual guardou princípios, valores, ensinamentos e amigos para a vida. Intensas foram também as mudanças que viriam ao sair da vida militar. Afastado quase 3 anos do mercado de trabalho, quando regressou ao Instituto Politécnico de Faro já não tinha o seu lugar. Outro lugar lhe era dado, no entanto, pelo mesmo responsável máximo da entidade, com quem havia trabalhado diretamente e que acreditava nas suas capacidades.
O político Carlos Neves Martins não aparecera ainda de forma evidente, mas a realidade cosmopolita e académica de Braga e o sentido crítico social iam apurando o seu sentido de intervenção. Foi candidato à Assembleia Municipal aos 24 anos, aos 28 anos candidata-se à Câmara Municipal de Portimão. Ficou como Autarca no Município de Portimão 12 anos, embora sempre como líder da oposição. Aos 29 foi escolhido como Presidente do Instituto da Juventude, depois de já ter sido durante um ano o primeiro Diretor Regional do Algarve. Já no Conselho da Europa e sempre a viajar entre Bruxelas e Estrasburgo, assumiu o cargo de Coordenador de 12 Diretores Gerais da área da Juventude durante a primeira presidência portuguesa da União Europeia, em 1991.
A Saúde entraria em breve no seu circuito de ação, assumindo funções políticas e de coordenação na área regional da sua terra natal: o Algarve.

Em Carlos Neves Martins percebe-se que para se ser aquilo que se quer, é preciso trabalhar para tal. É num discurso regional, em que ia falar da importância do turismo para a economia do Algarve, e diante de ameaças reais, de uma greve em hospitais e centros de saúde em pleno verão, que ao reconhecer na plateia os responsáveis pela Administração Regional de Saúde, pensou que deveria enfatizar também o papel da Saúde. Após realçar a importância estratégica da existência de bons e fiáveis serviços de saúde, numa região tão dependente do turismo, recebeu uma ovação. Dois dias depois era chamado pelo Ministro da Saúde. Pensou que ia ser repreendido pela sua intervenção crítica e pública. Enganou-se uma segunda vez. Havia uma vaga na Comissão Instaladora da futura Região de Saúde e o desafio proposto foi negociar com os vários Sindicatos, para mediar as situações de greve e encontrar consensos para uma duradoura concertação social.
Como não tem por hábito virar as costas aos desafios, aceitou. Um mês depois de assumir a sua nova missão já tinha gerido a crise com os Sindicatos, criando compromissos firmes de levaram a acordos que evitaram as greves em pleno verão e que perduraram no tempo.
Confessa-se apaixonado por metas “desafiantes” e diz que a política tem sempre qualquer coisa de estimulante e arriscado, mesmo havendo planeamento e estratégia. Lembra-lhe o poker que tanto gostava de jogar, em tempos de tertúlias noturnas na residência universitária, ou mais tarde no bar de oficiais nas longas noites de serviço. E tal como no jogo quando se faz um “royal flush”, também na política, por vezes, se ganham trunfos. Foi o que fez para resolver os eternos problemas relacionados com a construção do Hospital de Portimão e da Escola de Enfermagem de Faro, designadamente no que se reportou ao problema inerente à falta de terrenos para os mesmos. Ri com gosto e os olhos brilham ao recordar de uma história que promete contar mais tarde.

Ao fim de 6 meses e com a concordância do então Primeiro-Ministro Cavaco Silva, Carlos Neves Martins era convidado pelo Ministro da Saúde, Paulo Mendo, para ser o primeiro Presidente da recém-criada Região de Saúde do Algarve, onde de forma inovadora Centros de Saúde, Saúde Pública e Hospitais respondiam perante um Conselho de Administração. Tinha apenas 32 anos quando assumiu o cargo. No seu currículo soma ainda outros cargos como o de Coordenador do Gabinete de Relações Externas da Universidade do Algarve, que refere sempre como a sua casa profissional. Logo depois é eleito Deputado à Assembleia da República pelo Círculo do Algarve, cargo que suspenderia por tomada de posse nos XV e XVI Governos Constitucionais, enquanto Secretário de Estado da Saúde e Secretário de Estado Adjunto do Ministro do Turismo, no primeiro e à data único Ministério do Turismo.
Chamou a atenção porque as contas que geria no Algarve fechavam sempre com sinal positivo. Diz que a "Saúde não é fatidicamente um custo" e quando pergunto se deve então ser rentável, responde que é um "investimento e que é pena muitas vezes não haver uma visão para o SNS com este alcance, e de não se perceber a necessidade de existir autonomia, necessária para que exista mais acesso, melhor qualidade e mais sustentabilidade”. Explica, de forma simples e sucinta, a sua visão económico-social da saúde e termina recusando a visão financeira, tão em voga, mas que tem dado provas da forma como tem lesado o SNS.
Este percurso e esta visão explicam, em parte, porque foi escolhido para ser o Presidente do Conselho de Administração do CHULN em 2013, pelo Ministro da Saúde Paulo Macedo, mantendo-se no cargo e, tendo cumprido já 6 anos de mandato.
Chegou a este Hospital com uma média de 11 milhões de euros por mês de dívida. Não acabou com a dívida, mas conseguiu ter resultados positivos.
Carlos N. Martins: Foi um exercício muito difícil, mas foi possível demonstrar, em metade dos 6 anos, que a casa era sustentável. Atualmente a dívida atrasada está ligeiramente melhor, pois em termos de prazos médios de pagamento tínhamos uma dívida igual a um ano de orçamento para pôr a casa a funcionar. Claro está que a dívida ainda é pesadíssima para o que entendo ser justo com os fornecedores, verdadeiros parceiros e “acionistas” do CHULN. Mas sabe que isso não me assustou? Tive de pensar muito antes de aceitar a missão, reconheço que foi o cargo onde pensei mais tempo, antes de dizer que sim. Sobretudo fiz uma pergunta a mim mesmo, aliás, pergunta que voltei a fazer quando mudou o Governo, e que foi a seguinte: “Tinha condições pessoais para liderar uma equipa credível e uma estratégia de sucesso?”. Da primeira vez que fiz a pergunta, em 2013, demorei mais tempo a responder. Da segunda vez demorei apenas uma semana a encontrar a resposta. Dos dez pontos da estratégia que estava em curso em 2015, após falarmos com o Ministro da Saúde Adalberto Campos Fernandes, apenas alterámos um ponto. Mas é normal que quando uma estratégia tem sucesso ela se mantenha e o então recém-nomeado Ministro da Saúde teve essa sensibilidade de avaliação e coragem de decisão. Foi esse sucesso que me levou a aceitar continuar estar à frente desta ímpar Instituição mais 3 anos, que terminaram no passado dia 31 de dezembro.
Depois há que lhe dizer o seguinte, e estando a falar com alguém que está na Faculdade, nós não somos um Centro Hospitalar qualquer. Somos um Centro Hospitalar Universitário, com duas Unidades com uma vasta e rica história e páginas de sucessos ao serviço do país. E desde 2013 que assumimos claramente que somos Faculdade de Medicina e que somos Universidade de Lisboa. Ainda ontem recebi aqui uma outra prestigiada Universidade, com vista a celebrarmos um protocolo inovador, mas a relação familiar existente com a FMUL não se fragiliza, mesmo quando encaixamos estrategicamente outros projetos de, ou com, outras famílias académicas. Neste processo, como sempre, avaliamos também se há impactos negativos para a nossa Faculdade e se tal acontecer, não prosseguimos ou procurarmos alterar os pressupostos, por forma a manter intocável a irrepreensível coesão que criamos e cultivamos entre o CHULN e a FMUL.
Mantemo-nos a falar de números. Se bem me recordo, sendo este um Hospital Universitário, investe-se cerca de 25 milhões na formação de Internos, o que não é um valor qualquer... O ensino aqui tem um peso diferente.
Carlos N. Martins: Falamos aqui de dois tipos de investimento, o tangível e o intangível. Esta Instituição tem quatro pilares desde a sua existência (apoio ao ensino, formação, investigação e prestação de cuidados). Eu ainda acrescentei um quinto, que é a inovação organizacional. Ninguém valoriza o ensino como nós o fazemos. Somos o único Hospital que tem dentro de si uma Faculdade. Neste momento circulamos e há corredores onde coexistem espaços do Hospital e da Faculdade, cada vez mais sem as barreiras arquitetónicas que existiam e que foram sendo progressivamente destruídas. Em 2013 começamos um modelo de gestão partilhada, assumida por mim e com o Professor Fernandes e Fernandes, que se manteve com o Professor Fausto Pinto, de forma exemplar. Esta minha forma de estar também terá a ver com o meu próprio percurso académico. Não nego que sou um homem da Universidade, mas também tem muito a ver com a forma como estou na vida. Eu gosto de olhar para as coisas e assumir desafios e quando eles não existem, eu crio-os ou estimulo-os, procurando envolver os meus parceiros ou envolver-me nos desafios deles.
E com a Faculdade aconteceu-me precisamente isso. Eu respeito a tradição, procuro honrar a História e as suas regras, mas isso não significa que não possamos inovar. É por pensar assim que a Faculdade vai ter um Centro de Simulação fantástico, tem um Biobanco que terá um crescimento competitivo e em parceria, teremos um novo Centro de Cirurgia Experimental que permanecerá na família CAML (Centro Académico de Medicina de Lisboa). Aliás a este propósito, recordo com orgulho que fomos os primeiros a criar um Centro Académico no dia 27 de outubro de 2009 (que completará 10 anos este ano), modelo de consórcio avaliado com sucesso pelos últimos Governos, que o replicou de norte a sul. Eis outra página de inovação que demos ao ensino, formação e investigação universitária hospitalar do nosso país. Também aqui fomos e somos primus inter pares.
Também não é em vão que o nosso Diretor da Faculdade, o Professor Fausto Pinto, se debate publicamente a defendê-lo. Aliás, defesa que não é só dele, mas que foi assinada por inúmeros Diretores Clínicos do Hospital, que também são nossos Professores. É uma declaração de admiração pelo seu papel e pelo trabalho feito.
Carlos N. Martins: A admiração é recíproca. A posição do Professor Fausto Pinto e dos seus pares foi única no país. Esta carta aditou uma responsabilidade ainda maior àquilo que já é a minha forma de estar nestas situações de transição, a qual não seria tão vincada se esta carta não tivesse existido nem acarretaria tanta resiliência adicional.
Mas deixe-me contar-lhe que estava numa reunião com a Ministra da Saúde Marta Temido, quando recebi a notícia, diretamente do Dubai, da eleição do Professor Fausto Pinto (President Elect da World Hearth Federation). Pedi de imediato a palavra para partilhar essa notícia, porque era nossa, da casa, mas também porque entendi que era uma vitória do Ministério e do país. Vivencio os êxitos do Professor Fausto Pinto, mesmo os individuais, porque também os sinto como nossos. Ter como Diretor da Faculdade e Diretor do Departamento do Coração e Vasos alguém que é Presidente da Sociedade Europeia contribuiu imenso para a nossa credibilidade e notoriedade internacional. Sabe que esta forma de estar e de atuar de proximidade estratégica já acontecia com o Professor Fernandes e Fernandes e acontece agora com o Professor Fausto Pinto de uma forma renovada e com mais ambição, face ao contexto e conjuntura atual. Temos uma relação de lealdade muito forte e os interesses institucionais ganham sempre, conquanto estão acima dos nossos pontos de vista ou sensibilidades pessoais.

Voltando à carta posso partilhar que disse à Ministra da Saúde, que já tinha muito orgulho na minha Instituição, mas ao ler aquela carta tive ainda mais, porque não foi uma carta contra ninguém, nem com ameaças, nem de demissões. Foi o afirmar de uma cultura institucional, própria da História e responsabilidade desta ímpar Instituição, para a qual contribuí e por isso a felicidade ainda foi maior, sobretudo nesta fase.
Já se está a despedir?
Carlos N. Martins: Não, de forma alguma. Eu estou cá ao dia, como sempre desde 2013. Estou cá hoje, mas não sei se estarei amanhã. Tem sido assim desde o primeiro dia, 21 de fevereiro de 2013, e todos dias… É uma forma de estar e de ver as coisas, com naturalidade e tranquilidade.
Vê a vida sempre assim, o que é hoje pode não ser amanhã?
Carlos N. Martins: É... um dia de cada vez. Em termos profissionais até mais, pessoalmente dizem que sou menos assim. Há quem diga que sou muito estratega e que penso demasiado nas coisas. Eu avalio as coisas, gosto de correr riscos, mas gosto de ter sempre o plano B e o C. Quando não tenho um plano C fico desconfortável, mas quando me falta o plano B, fico muito desconfortável. Às vezes uso a noite para rever tudo e pensar em tudo e em vez de dormir 6 ou 7 horas, durmo só 4. Ainda hoje acordei às 5 da manha e fui tomar um café... Fiquei a rever o dia de hoje e pensar nos dias que se seguem e nas questões que tenha para resolver. Mas deixe-me voltar atrás, quando me perguntava se me estou a despedir. Não, é só uma forma tranquila de dizer que estou Presidente do Centro Hospitalar ao dia, porque reconheço que tenho uma profissão de elevado risco. Tenho sempre este pensamento presente, sem drama ou ansiedade desnecessária.
É esta noção do risco que me faz ser como sou e reagir como reajo. Isto ajuda a perceber a razão de eu ser tão assertivo com uns assuntos e tão minucioso com outros, procurando perceber os riscos e antecipar os problemas. Esta forma de estar e de atuar precisa de tempo, e por isso não é por acaso que venho cá à noite ou ao fim-de-semana. Preciso de tempo para pensar, para ver e avaliar sozinho. (Respira fundo) Eis uma coisa que também existe na política, que é a sensação de solidão, mesmo quando estamos integrados numa equipa de inúmeras pessoas. Se eu lhe disser que já me senti sozinho numa sala com 3 mil pessoas, em que eu era a figura principal, acredita?
Tenho a certeza que sim.
Carlos N. Martins: Tenho muitos momentos de solidão. Há preocupações que tenho de partilhar, mas quando ainda são apenas sinais de risco, partilho-os unicamente a uma reduzida percentagem de colegas dirigentes. Entendo que é meu dever reservá-los até ao momento em que deixam de constituir sinais e passam a ser um risco ou um problemas, após o que nesse momento, partilho-os e trabalho-os em equipa para antecipar soluções e respostas claras.
Mas esse é o papel do líder, não é? Ele leva às costas o silêncio e a bagagem da decisão.
Carlos N. Martins: É! Mas não é fácil. As pessoas julgam que é fácil, mas não é mesmo nada fácil, e sobretudo num Centro Hospitalar Universitário como o nosso.
Acha que julgam que é fácil?
Carlos N. Martins: Regra geral dir-lhe-ia que sim. Acho que pensam que ter poder é fácil e que o seu uso é algo de muito bom.
Então, ter poder só dá status e não dá trabalho nenhum, acha que julgam assim?
Carlos N. Martins: Boa parte das vezes sim, é o que julgam. Mas há coisas que as pessoas, muitas vezes, desconhecem. A responsabilidade, do ponto de vista legal e financeiro, é do Conselho e em última instância do Presidente. Se tivermos um problema com um doente e se a família fizer uma acusação ao Hospital, é o Presidente que é chamado pelos tribunais e entidades policiais enquanto representante legal da Instituição. Mesmo financeiramente, quando acontece um erro, o acusado é o Presidente e o Conselho. Qualquer reposição, ou multa, não é a Instituição que paga. Ora, tudo isto implica um enorme risco, que também é mediático. Já pensou o que é ser acusado em praça pública da morte de uma pessoa? No mínimo não é agradável. Vou contar-lhe uma coisa, numa fase em que a minha mãe estava gravemente doente, tendo falecido passado pouco tempo, surgiu uma dessas acusações: imagine o que foi para mim pensar que ela poderia estar a ver as notícias e ouvir, perante o país, que o filho era implicado na morte de alguém… Foi dos piores momentos da minha vida. (Emociona-se). Este episódio marcou uma fase da minha vida e sobretudo aumentou o meu sentimento de responsabilidade 24 horas por dia, 7 dias por semana. Atenção! Não deixo de considerar que a minha missão é muito estimulante e desafiante, mas enfatizei este assunto para que se perceba bem o que significa estar como Presidente do CHULN, em situações poucas vezes percebidas e conhecidas. É gratificante saber que muitos confiam em nós o seu bem-estar e a sua vida. Como também é gratificante, num dia também difícil, ter lido a carta espontânea de apoio de distintos Médicos e Docentes da Faculdade e Dirigentes da casa. Foi um dos melhores momentos da minha vida profissional. E olhe que a minha vida tem muitos momentos de felicidade e gratidão. Tenho louvores militares e da sociedade que me enobrecem, mas esta carta marcou-me muito.
Depois também há os louvores éticos que já recebeu de pacientes deste Hospital. Mas já lá vamos. Este livro que tenho aqui nas mãos - Hepatite C, O Futuro Começou Aqui - e que foi publicado aquando os 64 anos do Hospital tem uma frase sua que vai bater no tema do seu ADN. E isto a respeito dos ensaios clínicos e do tratamento pioneiro que Santa Maria desenvolveu nos casos de Hepatite C. Passo a ler: "Preferia ir a Tribunal por não cumprir a lei dos compromissos, a ser julgado por deixar morrer um doente por razões burocráticas ou contabilísticas". É este o peso da responsabilidade que tem pelos outros?
Carlos N. Martins: (Fica em silêncio um tempo) Essa frase é muito uma forma minha de estar perante o risco da gestão do CHULN, que é financeiro e jurídico. Desde o dia 21 de fevereiro de 2013 que transmito que temos que cumprir, de forma irrepreensível, a nossa missão. E temos de ter a coragem de, por vezes e não cometendo ilegalidades, interpretar a lei com a razão, mas também decidir com o coração! E entre uma decisão que implique a vida de uma pessoa e o cumprimento irrepreensível da lei, temos que optar pela única decisão possível, com sentido de responsabilidade e com humanismo. Não podemos cometer ilegalidades, mas também não podemos deixar que ninguém perca a sua vida ou sua qualidade de vida. Há um caso que foi muito mediatizado sobre a aquisição de determinados dispositivos médicos. E eu recordei essa frase na altura, quando fui inquirido a propósito dessa questão. Ou seja, quem me estava a inquirir, entendia que eu tinha que cumprir a lei e ponto final. O caso concreto era por que razão se usava um dispositivo no fim-de-semana e só se ratificava o seu uso de aquisição na segunda-feira seguinte. A dada altura pensei que teria de dar um caso prático, académico. Depois de confirmar que a pessoa que me inquiria tinha o Pai vivo, dei-lhe um exemplo hipotético: “Imagine que o Senhor seu Pai, às 4h da manhã de sexta-feira para sábado, tem um ataque cardíaco, em linguagem simples. Chama o INEM e o seu Pai chega à minha Urgência às 5h. A equipa de serviço decide intervencioná-lo na janela de oportunidade, que são nestes casos horas, mas quando faz a requisição do material, descobre que o seu Pai não é compatível com os dispositivos que temos em stock. Tem as duas opções: na primeira aplica-se rigorosamente a lei e o doente espera no SO até segunda-feira. Na segunda-feira chega o Diretor de Serviço que faz a requisição e o Conselho autoriza. E nesse espaço de tempo, há dois riscos: sequelas ou morte. Depois há o segundo caminho. Como os nossos Médicos são responsáveis e lutam por salvar vidas e não deixar sequelas nos seus doentes, decidem telefonar e pedir o dispositivo adequado para o seu Pai. Como optaram por fazer isto, passado uma semana o Senhor seu Pai já está em casa, estável. E nós devolvemos um cidadão à vida por mais uns quantos anos. E bem! Mas para nós o processo não acabou aqui, porque na segunda-feira seguinte à intervenção de urgência, o Diretor de Serviço é confrontado com várias questões burocráticas, entre elas a resolução de aquisição do usado. E o Diretor ratifica, diz que concorda porque se salvou mais um doente e envia para a Direção Clínica, que analisa e ratifica a aquisição. E assim segue tudo para o devido procedimento legal. Em suma o procedimento foi ratificado numa terça quando a operação foi no sábado! E colocaram no doente um dispositivo que não cumpriu os termos da contratação pública, previamente. Então eu pergunto à pessoa que me estava a inquirir e, como filho, qual seria o procedimento que entende que devíamos ter com o Pai?” A pessoa em questão não respondeu e acabou naquele momento o interrogatório Esta foi a forma como, em 10 minutos e depois de um interrogatório que durou uma manhã, eu consegui explicar que ninguém comete determinados atos de forma deliberada, putativamente infringindo a lei, mas que os Médicos cumprem, e bem, apenas o seu juramento da boa prática clínica, em tempo, com qualidade e os meios adequados ao diagnóstico. E quem não percebe isto, não percebe o que é um Hospital fim de linha, a sua missão pública e a sua dimensão humana. Mas isto não significa que não se cumpra a contratação pública ou a lei. No limite não a cumprimos no tempo certo, porque no tempo certo temos de salvar vidas!
Mantemo-nos no livro e com o tema “salvar vidas”. Este livro tem dois testemunhos de doentes muito interessantes, o Pedro Castro e o Luís. Ambos relatam que no dia de Natal recebem um mail seu a dizer que tudo fará para não desistir deles. Eles estavam doentes, com Hepatite C e a um deles tinha, inclusivamente, sido negado financiamento público para tratamento. Isto para quem está a ver a vida com um prazo de validade, assume uma importância extrema.

Carlos N. Martins: Eu não conhecia o Pedro, nem o Luís, mas houve um momento em que soube quem eram os doentes, com Hepatite, que corriam risco de vida e sabia os seus nomes e as suas histórias de luta pela vida. Lembro-me dessa tarde do dia de Natal em que a minha família não entendeu porque estava eu agarrado ao telemóvel. Afastei-me e lembrei-me destes doentes e como estariam eles a passar o Natal. Então decidi mandar uma mensagem que significava um "não vos esqueci". E cumpri o que lhes havia prometido e conseguimos, Conselho de Administração, Comissão de Farmácia e Médicos, resolver os problemas a 100 doentes! Sabe que mesmo que eu fique por mais 3 anos, este vai ser provavelmente o único livro que vai ficar publicado sobre algo que se fez sob a minha presidência... Mas entendi a necessidade deste livro como o sinal de prestígio que Santa Maria e o Pulido Valente têm dado à Medicina. Ambas são Instituições de grande importância para a Saúde, com equipas de excelência e com profissionais fantásticos. Eu tenho uma velha máxima que uso há muitos anos: "Quem não tem memória, não tem futuro". Para construir o futuro precisamos de ter memória e isso não quer dizer que se viva em cima dos louros do passado. É recordar o que se fez bem, mas sobretudo o que ainda não se conseguiu fazer mas que acreditamos ainda ser possível concretizar.
Este Presidente atual gostaria de ficar por mais 3 anos à frente do CHULN?
Carlos N. Martins: Há naturalmente mais vida para além do CHULN, que repito ficará para sempre no meu coração. Mas obviamente espero vir a fazer, e quero fazer, outras coisas na minha linha do tempo. Reconheço que a Instituição absorve muito tempo em termos pessoais e tem muitos riscos. Respondendo diretamente à sua pergunta. Mentalmente tinha considerado que 3 mandatos (9 anos) seria o tempo ideal para deixar a Instituição num rumo de sucesso e de renovação integral e sustentada. Até para ser coerente com o que sempre disse quando nos comparavam com o Hospital de São João, para nós uma referência em termos de resultados e para trabalharmos ainda melhor (riso). Ou seja a comparação justa com o São João só pode ser feita depois de termos um período de estabilidade gestionária idêntica, que não de mudanças de presidência e de Conselho de Administração. Recordo que o Professor António Ferreira liderou o Hospital de São João de 2005 a 2015 e que nós nesse período tivemos 3 Presidentes. Como também recordo que no triénio 2003 a 2005 tivemos 3 Presidentes, à média de 1 ano cada… Ou seja, em 15 anos o Hospital de São João teve 2 Presidentes e nós tivemos 6… sendo eu o que tenho mais tempo de mandato. O Professor António Ferreira não teve bons resultados no curto prazo, mas sim ao longo do tempo e isso porque teve um rumo de mudança firme, decisões estruturantes e com estabilidade para a implementação, com execução, com avaliação e com a correção de algumas medidas de gestão, ao longo do tempo. E eu fui dizendo "dêem-nos tempo e deixem-nos lá chegar". E ao fim do nosso 4º e 5º ano conseguimos fechar com Resultado Líquido e com Ebitda positivo (Earnings Before Interest, Taxes, Depreciation and Amortization) e conseguimos voltar a ter candidaturas aprovadas a fundos comunitários. Há uma série de sinais que apareceram e que têm a ver com a estabilidade da liderança. Mas é importante dizer-lhe que ficar mais 3 anos também depende muito de mim e que não ficarei a qualquer preço! Só ficarei se tiver condições de governabilidade e se me sentir capaz de liderar a Instituição com coerência e ambição. E se tiver a noção que sou capaz de continuar a fazer mudanças com forte alcance público. Se chegar a essa conclusão, então há hipótese de continuar. Há uma coincidência engraçada e importante neste período. Se ficar na liderança do CHULN, este período coincide com os 3 anos deste segundo mandato do Professor Fausto Pinto, e até isso permite continuar uma estratégia interessante e coerente, que ambos partilhamos e defendemos. Agora, se sei ao certo o meu futuro? O futuro a Deus pertence! Neste momento estou só preocupado com os cerca de 6.000 a 7.500 doentes diários que aqui entram e os 6.500 funcionários que dependem de uma liderança e de um Conselho de Administração coeso e ativo. E tenho, por fim, que encontrar 1.5 milhão de euros, por dia, para que a governação desta casa tenha alguma tranquilidade, o que não é fácil nos dias de hoje.

Leio várias coisas que vai escrevendo nas suas páginas e fala sempre muito da sua linha do tempo. Qual é sua linha do tempo? O que é que lhe diz a sua linha do tempo?
Carlos N. Martins: (Dá uma gargalhada, depois para e suspira. Há um silêncio) Nesta conversa que durou uma hora e pouco já passámos por diversos episódios e momentos marcantes da minha linha do tempo. Teria muitos mais para lhe contar, até do ponto de vista pessoal. Recuámos aqui quase 4 décadas... (Suspira) Qual a minha linha do tempo? Eu tenho a expetativa de olhar para a linha do tempo, pelo menos, mais 43 anos e chegar aos 100. Nesses 100 anos quero ter ainda metade da linha do tempo para fazer coisas. É isso que eu quero que ele me diga! Até porque do ponto de vista físico sinto-me como se tivesse 40 anos, tenho quase a mesmíssima capacidade de trabalho e de dormir uma semana corrida a 4 horas por noite. Tenho muita expetativa de fazer ainda muito nos próximos 10 / 15 anos. Depois tenho a expetativa de partilhar o conhecimento e fazer coisas com mais qualidade, afetando menos tempo às diferentes tarefas. Espero conseguir gozar uma reforma tranquila. Não sei se haverá reforma nessa altura (risos), mas pelo menos quero viver com qualidade e saúde, dos 80 aos 100 anos. Depois dos 100 logo se vê. Mas até aos 100 eu chego! Portanto espero que a minha linha do tempo esteja ainda destinada a deixar marcas e fazer coisas. Que a próxima seja uma fase de preparação para outra etapa da vida que será de mais qualidade e menos quantidade. Espero a partir dos 75 anos ficar menos irreverente e menos insatisfeito. Espero que o tempo, na minha linha do tempo me torne mais tranquilo e ainda mais feliz. Mas para já gosto e preciso de trabalhar para ser feliz!
Carlos Neves Martins diz que é Presidente às quintas, dia em que reúne com o Conselho de Administração, nos outros dias da semana é apenas líder de uma grande equipa.
Ouve quando as pessoas lhe falam mas também quando não lhe dizem nada e diz que por vezes pode parecer distante, ou distraído, mas “lê” o que está escrito e também o que está subentendido. Com sexto sentido, porque diz não ter uma bola de cristal, mas justifica a experiência para ter as certezas que acumula. "Convençam-me que não é assim porque quando acredito que vou conseguir, sigo em frente".
Permanente insatisfeito, reforça que isso não significa que seja infeliz. Apenas quando acredita nas coisas, volta a elas até as conseguir cumprir. E apesar do seu único sonho de vida ter sido a Presidência da Câmara Municipal da sua terra, sonho que não alcançou, admite que nesta linha de tempo também já não busca mais esse sonho.
Algumas vezes ao longo da nossa conversa citou Sá Carneiro e referiu uma das suas frases: "Quem tem o poder e não o exerce, não o merece".
Reformulou a citação e assinou-a para a sua vida, sem falsa modéstia e sem receio de que como possa ser interpretado. Carlos Neves Martins é como é. Reconhece que "gosta do poder, mas sobretudo gosta de o exercer em prol do bem comum, com resultados e alcance, e sobretudo gosta de o merecer". Também por isso, diz, ser um homem feliz e por isso costuma sorrir ao fim do dia quando se recorda do que fez no uso desse poder naquele que é muitas vezes um sorriso com muitas caras e nomes, mas que ocorre num dos muitos momentos da solidão do líder…
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Joana Sousa
Equipa Editorial
Créditos fotográficos: Gabinete de Comunicação HSM e Dr. Carlos Neves Martins
