Eventos
Porque é que o Cancro nos escapa? – Uma conversa a três

A ideia nasceu de uma das muitas conferências em que Maria Mota, Diretora Executiva do Instituto de Medicina Molecular João Lobo Antunes (iMM – JLB) participou como oradora. Na junção de várias pessoas com conhecimento e áreas diferentes de intervenção, lança-se um tema e cada um olha-o pela sua perspetiva.

“Juntar a criatividade à pergunta, por mais simples que esta seja, e adicionar a razão da Ciência” pode ser a equação certa que leva ao caminho da resposta, foi este o desafio lançado por Maria Mota. O ciclo de conversas Horizontes iMM: Uma pergunta a três, arrancou a 20 de fevereiro com o propósito de debater os grandes temas da Ciência e que preocupam a sociedade.

“Porque é que o cancro nos escapa?” Foi a primeira das conversas mediada pela jornalista e Diretora de Informação da Rádio Renascença, Graça Franco, e que juntou Luis Costa, Professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, investigador principal do iMM e Diretor do Departamento de Oncologia do Hospital de Santa Maria, Bruno Silva-Santos, também Professor da Faculdade, investigador principal e Vice-Diretor do iMM, e Fernando Rosas, Professor jubilado e investigador de História Contemporânea. Numa troca de perspetivas sobre o tema do cancro, o médico de oncologia, o investigador de imunoterapias e o doente oncológico tentaram puxar fios de uma linha de pensamento que, não deixando de ser positivo, tem sempre forte base realista da doença.
Será que diante do diagnóstico, o doente quer saber tudo o que tem e o prazo detalhado da sua vida? Reforçando o princípio primordial defendido por todos que “não há doenças, há doentes”, a grande questão é que “tecnicamente há tantos cancros quanto as pessoas que o têm”. E se isso permite ir alargando o espectro dos ensaios clínicos que têm vindo a decorrer em Santa Maria e a perspetiva de tratamentos, Luis Costa relembra que “não há nada que possa fazer que dê a certeza absoluta que se está curado”. Ainda assim afirma que “diz sempre a verdade, mas só até onde o doente a quer saber”.
Paciente de Luis Costa, Fernando Rosas tem um tumor neuroendócrino (pâncreas). Com um diagnóstico feito há 12 anos atrás, atualmente faz um tratamento através de uma injeção mensal e ressonância magnética de 3 em 3 meses. Assume que não tem medo da morte e entende que “a vida deve ser vivida intensamente enquanto existe”. Tendo esse pensamento positivo, no entanto, não deixa de reformular a pergunta do debate e de questionar: “porque é que não escapamos do cancro?”.

“Vista inicialmente quase como uma heresia”, afirma que a Imunologia é agora uma linha de tratamento que se apresenta no horizonte das possíveis soluções quando já nenhum outro tratamento é eficaz na luta contra o cancro. Como uma troca de bolas de ténis que se batem em cada pergunta que espera resposta, nova pergunta chega a debate para Bruno Silva-Santos. Afinal como surge então o cancro? “Ele escapou ao sistema imunitário”, explica. É em laboratório, no reforço do sistema imunitário, através da multiplicação de milhões de linfócitos-T, os glóbulos brancos bons, que se aumenta o potencial de ganhar a batalha do cancro. “Os linfócitos-T recebem uma série de compostos químicos e biológicos e multiplicam-se para gerar um bilião de células reeducadas para seguir o rumo no sistema imunitário”.

E na pergunta de Fernando Rosas sobre a razão de haver células humanas que provocam a morte, a explicação pode ainda não ter solução final, mas é científica, “são genes não controlados que se geram e crescem”, explica o médico Luis Costa. E o investigador Bruno Silva-Santos completa, “é a vida alterada que gera a morte”.
Como encara emocionalmente cada pessoa a sua própria doença, a que soluções se agarra para apressar o seu tratamento, ou adiar a sua própria validade de existir, como se gerem as expetativas e se controlam as incertezas. Continuam a ser todas questões que lançam caminhos às perguntas, não havendo nunca uma só resposta final. Mas talvez no encontro de conversas, de bolas que se trocam e que se perdem e nas que se ganham, talvez se vá encontrando o caminho da pergunta certeira que como uma bola faz match point.

O iMM volta a marcar encontro já no próximo mês de março, lançando uma nova pergunta. “Sabe porque é que os músculos deixam de obedecer?” Sob a moderação de Graça Franco e com a presença de Pedro Souto, doente de Esclerose Lateral Amiotrófica, Mamede de Carvalho, Professor da FMUL e investigador do iMM e Edgar Gomes, investigador do iMM e Professor da FMUL, desta vez a conversa será sobre as doenças neuromusculares.
Veja o vídeo da primeira conversa:
https://www.youtube.com/watch?v=sQFskx8IftY
Estas e outras informações, aqui.
Joana Sousa
Equipa Editorial
Créditos imagem: iMM
