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Sê bem vindo, Sê bem vindo à FML!
A Noite da Medicina (NdM) é o mais antigo espetáculo académico de Portugal. Não há aluno da FMUL que não saiba esta frase de cor. É a primeira que atiramos quando nos perguntam o que é. É a primeira que nos atiram quando fazemos a mesma pergunta, de camisolas amarelas vestidas e a seis anos de distância de sentirmos nós próprios o peso nos ombros, de concretizarmos semelhante propósito herculeano.
Mas o que é mesmo a NdM? Agora que penso nisso, a propósito herculeano não é uma definição propriamente exagerada. Porque é disso que se trata. Ano após ano, no dia seguinte à noite que marcamos na agenda com meses de antecedência, o atual quinto ano herda a responsabilidade de organizar a melhor NdM de sempre. É esse o princípio subjacente. O sonho. O mote. Sempre mais e sempre melhor, o que no nosso caso de estudo traz algumas consequências interessantes.
A mais óbvia, passar de um pequeno espetáculo de revista, no Teatro Politeama, correndo o ano de 1929, a uma mega produção para cerca de 3000 assistentes que envolve, entre outras coisas, alugar o Campo Pequeno durante 3 dias e a chamada Cantina II (leia-se quartel-general) durante alguns meses. Pelo meio, sobreviveu-se ao Estado Novo e preservou-se o espírito que, apesar de todas as festas, convívios e oportunidades que nos são oferecidas ao longo do curso, ainda nos fazem chamar a este momento “a melhor Noite do Ano”.
Não é difícil perceber porquê. Qualquer elemento do público, mesmo externo à FML (cada vez são mais, sobretudo colegas de outras faculdades que ouvem falar do espetáculo) percebe rapidamente do que se trata. Ao longo de 3 horas, os finalistas apresentam aos recém chegados caloiros, a faculdade que eles só agora começam a conhecer. E fazemo-lo de forma bastante diferente dos discursos protocolares da Semana de Introdução. Com a honestidade que só se permite entre colegas, e com o sentido crítico e a autoridade que só o amor à camisola nos confere, construímos uma narrativa que condensa o que foi a nossa experiência e a nossa identidade enquanto grupo, cimentada ao longo de 6 anos que tiveram tanto de bom como de mau; complementada pelas intervenções de cada ano, do 2º ao 5º, que exploram com maior detalhe as realidades que viveram no ano anterior.
É a passagem do testemunho, desse amor por esta instituição, tantas vezes imperfeita mas que nos fez tão felizes ao longo de seis anos, a quem nela começa a dar os primeiros passos. E é a passagem dos valores que estão enraizados nos seus alunos. Entre eles, a proatividade e o inconformismo. À boleia deste objetivo principal, a NdM assume o seu carácter satírico e interventivo ao denunciar publicamente as lacunas no ensino, a burocracia, a degradação do Serviço Nacional de Saúde e da carreira médica e até a barreira que ainda persiste entre a comunicação institucional e os estudantes; com a esperança de que também os decisores, professores e membros da administração da nossa faculdade tenham em conta as nossas preocupações. Considerando que este artigo nasceu de um contacto por parte da Newsletter da FMUL, na sequência do sketch que fizemos sobre eles, sou tentada a acreditar que talvez mais alguém nos tenha ouvido.
Concretizar este sonho implica, ironicamente, uma logística de pesadelo. Um polvo monumental cujos tentáculos abraçam produtoras, coreógrafos, patrocinadores de todos os ramos empresariais possíveis, da restauração ao material médico. Abraçam todos os outros anos letivos cujas comissões representativas próprias articulam a sua visão para os dez minutos de que dispõem (e coordenam todos os participantes do seu ano), com o fio condutor geral do espetáculo. E abraçam os quase 400 estudantes do sexto ano que dão forma a este espetáculo através da representação, da dança ou da música.
Um polvo encabeçado pelos elementos da Comissão Organizadora da Noite da Medicina, eleita em Reunião Geral de Ano (RGAno) ainda no mês de Março. 37 pessoas entre Coordenação Geral, Tesouraria, Direção Artística, Imagem, Logística, Patrocínios, Cenografia e Dança. Todos eles, todos nós, os 400, estudantes, estagiários, candidatos a mestrado (uma forma bonita de dizer que metade de nós ainda está a braços com a tese), e a uma formação especializada (outra formulação bonita, desta vez para explicar que além disto tudo ainda estudamos para a Prova Nacional de Seriação), às vezes trabalhadores, às vezes atletas, sempre membros de uma família e de um círculo de amigos que são trocados demasiadas vezes por algum dos pontos mencionados acima.
Mas tal como tudo o supracitado, a NdM não é uma opção. É um momento a viver para nos tornarmos médicos pela FML, com a mesma obrigatoriedade intrínseca a qualquer área disciplinar. É a marca permanente e quase ritual que fica no espírito e que distinguirá o médico que se formou aqui e que guardará para sempre no mais fundo de si a lembrança de que ajudou a dar à luz a melhor de todas. Como disse no início, isto de ter como objetivo melhorar a cada ano é um projeto com consequências. A minha preferida, de que a melhor NdM é sempre aquela que organizamos, por ser a última que vamos viver, pelo menos enquanto alunos. E claro, também é sempre, mas sempre, a que ainda está por vir. Boa sorte, 14-20.
Pilar Burillo Simões, finalista do MIM
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Crédito das Imagens: photo mumentus