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News nº
79
Junho 2018
(Visite a edição completa)
Mais e Melhor
"A Medicina é uma profissão de Príncipes” – Professor António Vaz Carneiro sobre o Dia do Candidato


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Foi um dos últimos discursos do Dia do Candidato, António Vaz Carneiro é o Professor que vários alunos dizem que nunca defrauda as expetativas quando o reencontram nas aulas, algum tempo depois. Diretor do Instituto de Medicina Preventiva e Saúde Pública e do Centro de Estudos de Medicina Baseada na Evidência é presença habitual no dia em que a Faculdade de Medicina abre as portas aos curiosos alunos que pensam que instituição escolher quando entrarem para Medicina.

Fácil comunicador, sabe que se contar uma história, enquanto percorre filas do auditório, conseguirá manter a sua plateia cativa.

O médico especialista em Medicina Interna, António Vaz Carneiro, estava nas urgências de Santa Maria, já há uma quantidade de horas, quando se depara com um caso de um rapaz que se queixava com dores no peito. Aparentemente podia ser algo de coração, mas fazendo os exames não havia evidência de nada. O expectável, para alguém de senso comum, seria enviar o rapaz para casa, mas António Vaz Carneiro, resolveu retê-lo por umas horas. “Disse-lhe para esperar por mim na sala de espera. E ele ficou. Passadas cinco horas lá estava ele sentado”. Havia qualquer coisa naquele caso que lhe dizia que não podia mandar o rapaz para casa. Ele ficou internado e nesse dia “morreu duas vezes e foi salvo duas vezes”.

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O Professor é um contador de histórias. Foi contar uma história para prender um público potencialmente distraído?

Este dia é sempre interessante, na medida em que aquilo que tentamos fazer é captar para a nossa escola aqueles que são os possíveis melhores alunos. Pode-se questionar o que uma média do secundário diz em termos das apetências para se ser médico, isso pode ser questionado. Mas, socialmente falando, não temos outro processo mais justo, em termos de hierarquização, do que uma nota. Contudo, na minha perspetiva há outros processos bem melhores, e internacionalmente muito bem testados, que captam bem a personalidade do aluno. Mas esses processos, para Portugal, não são aceitáveis porque há uma desconfiança, e que em parte é justificada, e que diz respeito à justeza dos processos. Como tal, não podendo captar o subjetivo, o que fica é o objetivo e esse são os 18.3 valores (como média de entrada para a Faculdade). Baseados apenas nesta única métrica, pretendemos captar para aqui os melhores alunos possíveis. Sabe o que é curioso? É que só duas ou três Universidades fazem estes dias do candidato?

Agora há aqui outro aspeto muito importante, é que muitas vezes a escolha dos alunos não tem nada a ver com a qualidade da Escola. Terá mais a ver com critérios económicos e o peso que essas decisões financeiras tem para as famílias. Hoje em dia é um drama sustentar um filho em Lisboa. É inacreditável. Somos um país pobre e um filho custa uma média de €1500 por mês. Não é nada simples. E isto vai influenciar muito mais do que aquilo que eu possa dizer. Gostaria eu que existisse uma infraestrutura que alojasse os 35 mil dos 40 mil alunos, em residências próprias, com condições e a um custo acessível. Aí sim, a competição seria diferente.

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Apesar dos constrangimentos sociais, quais são os nossos pontos fortes enquanto Faculdade?

Não temos dados estatísticos que detalhem que somos muito melhores que Braga, Porto ou Coimbra. Mas a nossa mais-valia é a oportunidade profissional que abrimos. Porque temos um CAML (Centro Académico de Medicina de Lisboa) e para alguém que queira ter uma carreira, então as hipóteses não são iguais se estiver na Beira Interior, ou aqui em Lisboa. E mesmo em Lisboa as hipóteses não são iguais, não é a mesma coisa estar aqui, ou na Universidade Nova. Nós aqui temos grandes centros de investigação. As pessoas que estão aqui, e as que deviam vir, têm uma perspetiva da sua carreira com um ou dois patamares acima da ideia de serem médicos de família de um qualquer hospital, por exemplo. Nós aqui temos uma rede de contactos nacionais e internacionais muito grande e isso é muito apelativo. E eu sei que quando aqui chegam, acham que ainda falta muito para pensar nisso, mas o que me parece é que deveriam pensar logo a partir do primeiro ano, porque é a grande vantagem que temos.

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Também temos pontos mais frágeis. Os alunos queixam-se da proporção entre eles e monitor. Ou seja, são muitos alunos para um só monitor.

Temos alunos a mais. O financiamento feito é baseado no número de alunos, mas penso que, mais tarde ou mais cedo, terá de ser reduzido. Claro que faria diferença se em vez de ter 390 alunos tivéssemos 90.

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Mas com o mesmo financiamento como se fossem os tais 400 alunos…

Sim, isso seria totalmente diferente. Acresce que o ensino médico, a partir de certa altura, tem de ser tutorial, ou seja, não há aulas em anfiteatros. A partir do quinto ano, e no sexto, a proximidade tem de ser muita entre o tutor e o aluno, porque é a parte prática do curso. Portanto, sim, temos restrições severas. Outra delas é a falta de capacidade de contratação de pessoas. Como tal, temos de ir gerindo tudo com os meios que temos.

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Num dia como aquele em que recebe ali dezenas de jovens que ainda vêm a tentar perceber o que querem ser ao certo e para onde vão, consegue-se identificar já algum olhar especial?

Eles parecem todos razoavelmente interessados. A minha posição ali é a de um vendedor. Eu estou diante deles para lhes vender uma ideia. E a ideia é que esta é a melhor Escola. Eu acredito mesmo que esta é a melhor Escola, mas não tenho provas. Mas conhecendo bem, como conheço, o ensino português, não acredito que haja uma Escola melhor.

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Mas se bem o entendi também passou outra mensagem. É que se pode ser um excelente estudante e depois um médico que estudou todas as técnicas. Mas há uma técnica que tem de ser intrínseca e que é o feeling. Esse feeling aprende-se?

Sim. Esse feeling ensina-se e aprende-se. Eu não posso alterar a personalidade das pessoas, não posso prever como é que elas reagem, mas posso ensinar-lhes comportamentos. Eu não posso ensinar a compaixão, nem a sensibilidade, nem o respeito ao outro. Mas posso explicar a importância destas características. Depois é esperar que tudo corra bem. Posso ensinar a pensar e passar técnicas de comunicação. Por exemplo, como é que dou uma má notícia, ou como é que explico um problema complexo, como é que explico a dimensão de um “desastre” como o cancro? Estas técnicas treinam-se. Depois espera-se apenas que as pessoas saibam juntar a sua cultura individual, à cultura coletiva do seu grupo e que é a Instituição. Numa parte significativa, consegue-se passar estas mensagens, noutros casos não. Mas estes valores vêm de casa, da educação. A Medicina é uma profissão de príncipes e se as pessoas não trazem já uma educação de casa… Nós lidamos com a vida das pessoas e não podemos baixar de um nível de realeza para baixo. As exigências a que estamos sujeitos todos os dias, implicam uma estrutura mental muito própria e a base ética e deontológica têm de ser inabaláveis. Não podemos ter atalhos, nem truques. Há um conjunto de princípios, absolutamente definidos, que devem nortear ética e deontologicamente a nossa profissão. Estes princípios são quase uma segunda natureza nossa. Mas por vezes têm que ser ensinados.

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Contou o caso do rapaz que mantém nas urgências e depois interna porque algo lhe dizia que ele devia ficar. A tal intuição que falávamos há pouco. Afinal o que é que o fez segurar aquele rapaz aparentemente saudável? Era a evidência, ou a experiência que lhe sopravam ao ouvido?

Não, a evidência não era nenhuma. Porque a evidência me dizia para eu o mandar embora. A ausência de qualquer alteração nos exames todos que lhe fiz apontava para que ele se fosse embora. É aqui que se entra na área da expertise e do instinto, são estas e a experiência que nos dão uma informação sobre a realidade que a ciência não consegue dar. A ciência dá resultados de grandes grupos de doentes, analisados em circunstâncias muito controladas, com indicadores muito próprios, mas não diz como é que cada um dos doentes vai reagir. Em média acontece algo, mas é em média. Quando passamos à prática, de facto, a média ajuda e comporta-se como um “padrão”. Mas a questão que aqui se põe está relacionada com a psicologia cognitiva e que diz o que é que certos doentes têm que outros os outros não têm. E isso é muito difícil de determinar. Foi um conjunto de sinais, contextos, características e informação, que encontrei naquele paciente, e que não consigo verbalizar, que me levaram a dizer que havia ali qualquer coisa que me fez excluir os exames e decidir o contrário do que eles me diziam. Isto só se ensina através de roll models, através de muitos anos de experiência e de contacto com muitos doentes. Mas há outro reverso e que é, quantos doentes mandei eu para casa, porque tudo apontava estar bem, e eu não tive o feeling adequado? Houve, seguramente, doentes que falhei, onde não tive esse instinto. Mas sobre o que me perguntava, o que muda é este expertise, algo que se capta ao fim de muitos anos de trabalho. Os ingleses dizem que somos expertise quando alcançamos cerca de dez mil horas de trabalho, ou seja, lá para os quarenta anos de vida, o mesmo que dizer que é quando se está no pico da sua capacidade. Mas vai-se sempre somando, porque aos sessenta anos ainda se é melhor. E desde que funcione bem da cabeça, aos setenta ainda sabe mais e é melhor. Ser exposto a milhares de doentes é fundamental. É esta experiência que nos faz traçar os grupos de risco e de urgência de doentes e traçar prioridades. Prioridades, no entanto, que variam de médico para médico.

Mas então também lhe posso contar que um dia me entrou um doente pelo consultório e que mal olhei para ele pensei, “ele tem um cancro”. Aquele homem ainda não tinha contado nada, tinha apenas umas queixas vagas que não davam nenhum diagnóstico específico. Fiz uma série de análises de rastreio e nada apareceu. Depois revi e fiz um segundo conjunto de análises já mais sofisticadas e detetei um tumor no rim. Se calhar foi só a cor da pele dele que me despertou logo a atenção. Eu não desisti dele. Fizemos a operação e vinte anos depois ainda temos, todos os anos, um jantar, eu, ele e os cirurgiões. Aos trinta anos e só com a experiência da ciência eu não o teria ajudado…

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Joana Sousa

Equipa Editorial
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