Do lado de cá
Isabel Aguiar – A mulher entre homens

size="20"
A equipa da Newsletter criou uma nova rúbrica sobre o “lado de cá”, na tentativa de falar das pessoas que trabalham do lado dos bastidores, dando alma à Faculdade e fazendo com que as rotinas decorram normalmente, sem que ninguém dê por elas. Tudo o que acontece é planeado e preparado e demora tempo, implica empenho e quase sempre discrição.
Num mês em que falamos de Solidariedade e das iniciativas que a Faculdade de Ajudar continua a desenvolver, resolvemos conversar com uma das suas impulsionadoras. Apesar de estar de saída do projeto solidário, os que ficam sabem que poderão continuar a contar com ela, na verdade, nunca deixa por completo de acompanhar um projeto por mais que ele se torne adolescente. É uma questão de raça como se fosse um felino, espécie animal que, aliás, adora. Se fizéssemos, com ela, o jogo das palavras e a associássemos a um animal, seria um gato com toda a certeza.
De olhar expressivo e numa mistura entre verde e amarelo, independente e atenta, Isabel Aguiar não é de demasiados afetos físicos, mas mostra quando gosta. E quando gosta, gosta com muita verdade, sem camadas. Frontal e direta, a voz nunca lhe fica embargada no debate de ideias, gosta de regras e método, mas o respeito que alcança nos outros não é pelo cargo de chefia que ocupa enquanto Diretora de Serviços, é porque tem carisma e trabalha todos os dias para o manter.
Há 31 anos a trabalhar na Faculdade de Medicina faz, muitas vezes, desta a sua casa principal. Mulher determinada e habituada a trabalhar num meio predominantemente masculino, tem, no entanto, uma assinatura delicada na forma como se veste e arruma todas as caixinhas que combinam por cores. Delicada, como alguém que é apaixonada pelos tons suaves e rendas da britânica Laura Ashley, sabe decidir as melhores opções numa obra e escolher os melhores materiais, o que não significa que não consulte toda a sua equipa.
Não gosta de protagonismos, mas tem muito brio em fazer tudo bem. Se for para fazer andar um projeto, a casa sabe que conta com ela e aí vai ter mesmo de se fazer.
Como mal nos permitiu ser fotografada, fica a sua fotografia nas palavras que nos deu.
size="10"
O ponto de partida para esta conversa teve a ver com dia solidário que se realizou no passado dia 6 de abril no Estádio Universitário. A Isabel Aguiar foi, durante este tempo todo, e segundo as palavras de alguns colegas envolvidos no projeto, a maestrina, alguém que comanda as operações e está sempre à frente da batalha e que vai levando atrás consigo um batalhão de pessoas. Agora que saiu da Faculdade de Ajudar, quer falar-nos um bocadinho de como foi conduzir um projeto destes que acontece sempre e só com a boa vontade de quem dele faz parte?
É importante enquadrar o Projeto Faculdade de Ajudar. A primeira grande iniciativa de responsabilidade social que tivemos na Faculdade foi o Banco Alimentar. Em 2008, um conjunto de pessoas desta casa organizou-se, enquanto grupo, e decidiu candidatar-se a um espaço onde se realizava a Campanha do Banco Alimentar nesse ano. Foi o arranque!
Esta iniciativa, curiosamente, coincidiu com um outro projeto, uma formação, que envolveu um grande número de colaboradores e em que uma das abordagens era também a responsabilidade social nas instituições públicas. Do Projeto CAF (Common Assessment Framework) surgiram várias ideias sobre o que poderia ser feito para melhorar a Faculdade e entendeu-se que um projeto de responsabilidade social funcionaria como fator de motivação. Daí surgiu uma equipa que começou a mobilizar o trabalho e então surgiu a Faculdade de Ajudar. Foi em 2011, o logotipo foi votado, e começaram a surgir as ideias e as vontades.
O Dia Solidário, como o que ocorreu esta ano, é integrado na Faculdade de Ajudar porque já se faziam, com o anterior Secretário, algumas formações de outdoor e team building. Pensou-se uma atividade na AMI que juntaria o team building com uma ação de solidariedade social. Ainda hoje guardo uma fotografia em que está um grupo de colegas, muito dedicado, a recuperar as caixas de peditório da AMI. Foi aí que me apercebi que é este o espírito, é isto que as pessoas esperam. Este dia tem que ser um bocadinho diferente e foi aí que começamos com as atividades mais solidárias. Surgiram outras iniciativas direcionadas para o trabalhador, porque é também da preocupação da Faculdade aqueles que trabalham todos os dias e que Dela fazem parte.
Durante algumas edições contámos com o apoio da Entreajuda que nos davam informações sobre grupos, de idosos ou de crianças, com quem poderíamos colaborar e por em prática a nossa ação de responsabilidade social. Um ano estivemos no Bairro 6 de Maio, com crianças, em que nos deparámos com situações muito particulares e que nos enriqueceu muito enquanto grupo e enquanto pessoas.
Despois tivemos outras atividades num âmbito diferente, fomos para a Faculdade de Agronomia limpar uma reserva natural. Fomos muito bem acolhidos, tivemos formação em apicultura, por exemplo. Outro ano fomos para o Jardim Botânico, limpar o Jardim e fomos para o Museu de Ciência e História Natural limpar as peças do Museu de Medicina que entretanto foram para uma sala e estão ainda hoje numa exposição permanente.
Deixo o projeto mas ele vai continuar e isso não tenho a menor dúvida.
size="10"
Com este empenho tão grande deixa o projeto porquê?
Sinto que não consigo ter disponibilidade. Na minha opinião os projetos exigem-nos muito e sinto que neste momento a Faculdade precisa de mim noutras áreas. Eu, ou estou a 100% num projeto ou retiro-me. Mas já disse aos colegas que podem continuar, é claro, a contar comigo, mas não posso é estar numa posição tão ativa como pede um projeto destes. Do grupo inicial só estou eu e o João Godinho e está na altura de renovar, de virem novas pessoas e é isso que faz sentido. Mas é claro que vou sentir a falta! Mas todos sabem que podem contar comigo.
size="10"
O projeto também já passou para a adolescência, não é?
Sim, isso mesmo. O projeto já não é uma start-up mas sim uma spin-off. (sorri) A responsabilidade social é um tema para mim muito querido, não apenas na faculdade como fora dela, na minha vida pessoal. Mas no último ano tive que me afastar e limitar um bocadinho a minha participação, porque eu sou muito empenhada naquilo a que me dedico e depois não consigo ter tempo para tudo. Assumo um compromisso muito grande mas não posso sacrificar outras coisas na minha vida. O tempo passa muito rápido e temos que pôr balizas às nossas prioridades.
size="10"
Sobre a edição deste ano, como é que surgiu a ideia de convidar “os sábios”? Eles são o nosso azimute?
Surge porque um elemento do grupo da Faculdade de Ajudar conhece esta Associação e este grupo de pessoas e achámos interessante convidá-los. Temos sempre em atenção o momento em que decorrem as Olimpíadas na Faculdade, para não colidir com a atividade letiva, e que coincidiu também com a semana em que o Estádio Universitário iria fazer uma série de atividades no seu espaço.
Tratou-se da segunda atividade com elementos da terceira idade e como a primeira edição, com a terceira idade, foi um grande sucesso, achámos que poderíamos repetir o tema numa outra atividade diferente.
size="10"
Porque é que foi importante para a Isabel, pessoalmente, entrar num projeto destes? Em que é que isso pode completar ou enriquecer uma pessoa?
Neste projeto estou de igual para igual com todos os colegas, o que é uma sensação muito boa. Já cá estou há uns anos, e as pessoas habituaram-se a ver a Isabel como aquela pessoa que gere. Estou cá desde 87. Eu cresci nesta Faculdade. Não considero que estagnei aqui, entendo que todos os dias cresço mais um bocadinho. Considero que a Faculdade faz parte do meu crescimento pessoal, profissional.
size="10"
Essa visão de igual para igual é muito engraçada. A Isabel coordena uma equipa enorme. Pode falar-me um bocadinho do seu papel atual na faculdade?
Gosto da Faculdade por paixão (emociona-se), quem me conhece sabe que a Faculdade é muito importante para mim. Aprendi muito nesta casa e espero continuar a aprender. Gerir pessoas é muito difícil, principalmente em áreas diferenciadas. Na área das instalações e manutenção lidamos com muitas pessoas, com muitas empresas externas que mudam, que têm particularidades. Temos que chegar à senhora da limpeza como temos que chegar ao engenheiro. Orgulho-me muito do respeito que se cria. As empresas que já passaram por cá, com quem já trabalhámos, continuam a manter contato, e com uma ligação forte à Faculdade. Dou por mim a relembrar os tempos passados com algumas pessoas com quem trabalho agora, de novo. Um exemplo, na equipa de limpeza, depois de vários processos, temos senhoras a trabalhar cá há 15 anos, que não se veem ligadas à empresa a que pertencem, mas sim à Faculdade. Acho que isso é muito positivo.
size="10"
A Isabel tem uma particularidade, trabalha com muitos homens. Consegue desempenhar e desempenha com muita naturalidade o seu papel de decisora e de diretora, mas sem nunca perder o lado feminino. Como é que desempenha esse papel?
Gosto muito de trabalhar com homens. Sou uma pessoa muito prática, a minha maior dificuldade é a burocracia, o ler papéis. Lembrar-me da legislação é para mim terrível! Dêem-me uma situação para gerir, para organizar e eu faço e sei que faço bem! Mas a burocracia é um complemento ao meu trabalho. Quanto a trabalhar com homens é fantástico porque, para já aceitam bem quando é necessário “ter mau feitio” e são mais práticos, como eu.
Sinto também que na área das instalações precisamos de constituir uma equipa mais multidisciplinar. As pessoas que temos são fantásticas e extraordinárias mas temos de deixar uma escola e temos que ser internamente mais diferenciados. Os edifícios têm muitas particularidades e não podemos apenas depender de empresas externas. Temos que ter internamente conhecimentos profissionais especializados que nos permitam agir tecnicamente.
O Edifício Egas Moniz, por exemplo, tem grandes particularidades pelas áreas de investigação do IMM. Mas é muito desafiante esta gestão e eu gosto muito de o fazer! Se tivesse que optar por apenas uma área escolheria as Instalações, sem sombra de dúvida, embora saiba que é a área mais desgastante, é uma área que funciona 24 sobre 24 horas.
É um trabalho em contínuo, em permanência. Inaugurámos agora a Biblioteca e há dois anos, também renovámos o Polo das Ciências Morfológicas. Na altura o espaço estava a fazer 20 anos e lancei a ideia à Dra. Susana e ao Professor Vaz Carneiro para fazermos algumas melhorias no espaço, e ficou também muito mais moderno e com melhores condições. Os funcionários que lá trabalham ficaram muito satisfeitos com estas melhorias e os alunos gostam muito do Polo, um espaço que nasceu de um depósito localizado em baixo de um anfiteatro, mas que agora tem condições mais condignas quer para o nosso público-alvo, que são os alunos, quer para os colaboradores.
A entrada da Faculdade foi outra obra que me deu imenso prazer. Já disse ao Sr. Costa que “já colaboramos na Entrada da Faculdade, agora vamos fazer renascer a Aula Magna e depois podemo-nos reformar!”. A entrada da Faculdade era muito fria e recordo-me que quando foi a inauguração, o meu homólogo no hospital, uma pessoa muito conhecedora de instalações hospitalares e muito conceituada a nível nacional e que viveu nesta casa até se jubilar, diz-me assim “agora já se podem orgulhar porque finalmente têm uma Entrada”. Mas devo também referir que, mais do que ter em atenção as questões técnicas devemos ter em atenção as questões de segurança, que são fundamentais.
A Aula Magna e o Edifício Reynaldo dos Santos são os nossos próximos desafios.
size="10"
[su_slider source="media: 23259,23260,23262,23264,23265,23654,23655" limit="12" link="image" target="blank" width="440" height="360" responsive="no" pages="no" autoplay="0" speed="5000"]
Ana Raquel Moreira
Joana Sousa
Equipa Editorial
