Espaço Ciência
Ana Almeida – A primeira Cardiologista a fazer Ressonância Magnética ao coração
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Tivemos algumas conversas marcadas, mas por contratempos que nunca estiveram nas nossas mãos, só nos encontrámos de fugida nas Técnicas de Cardiologia, Unidade que coordena.
Ana G. Almeida é Professora Associada com Agregação de Cardiologia e a responsável em Imagiologia Cardiovascular do Hospital de Santa Maria/CHLN. O seu foco de estudo são as cardiopatias e as doenças nas válvulas cardíacas, é através das Ressonâncias Magnéticas (CMR) que observa os mecanismos e as funções do coração.
Uma das médicas da confiança de Fausto Pinto, Diretor do Departamento de Coração e Vasos de Santa Maria e da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, Ana Almeida era uma das pessoas a conhecer. Amigos de longa data, estreitaram os laços nos EUA, depois o tempo ajudou apenas a consolidar o que o coração de ambos já tinha iniciado.
Foi também a sua saída do país que lhe permitiu desenvolver e especializar as técnicas não invasivas e implementá-las posteriormente em Portugal. Ana Almeida foi, aliás, a primeira Cardiologista do país a praticar a Ressonância Magnética. Passou pela Unidade de Ressonância Magnética da Universidade do Texas, Southwestern Medical Centre, e pela mesma Unidade, no Royal Hospital em Londres. Hoje orienta as teses de Mestrado e Doutoramento de outros apaixonados em Imagem Cardíaca. Faz ainda parte do Grupo de Estudos de RMC da Sociedade Europeia de Cardiologia, bem como da Society for Cardiovascular Magnetic Resonance. Integra, ainda, Comissões Científicas dentro da mesma área.
A manhã estava agitada na Unidade das Técnicas de Cardiologia, ainda assim não me fez esperar. Entre doentes que aguardavam pela hora agendada e outros que apareciam de maca, Ana Almeida, apareceu com uma calma aparente e eficácia de quem já atingiu o comando das coisas, mesmo que haja turbulência. Tinha pacientes à espera e médicos, também doentes, que estavam a faltar, as prioridades só podiam ser aquelas. A nossa entrevista não aconteceu.
Entre nós ficou o compromisso de um reencontro para aquela que seria a conversa justa, mas porque era obrigatório acrescentar a sua presença neste mês, escreveu-me, generosamente, no fim-de-semana algumas notas.
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Ser médica sempre foi uma meta bem definida desde cedo?
Ana Almeida: Sim, na realidade a decisão foi relativamente fácil e ocorreu naturalmente no final do secundário. Fascinava-me a perspetiva de tratar doentes mas também já a possibilidade da investigação. A opção pela Medicina foi de facto inequívoca, embora existissem para mim outras escolhas alternativas que incluíam nomeadamente a física e a matemática.
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E porquê a Cardiologia?
Ana Almeida: A Cardiologia é uma especialidade fascinante que alia a área clínica às técnicas de diagnóstico e terapêutica e a ligação à cirurgia cardíaca. Quando terminei o internato geral, estive algum tempo no Serviço de Cardiologia enquanto aguardava o exame de acesso à especialidade. Apercebi-me, então, que se tratava de uma especialidade muito estimulante por participar de forma ativa na atividade clínica e na execução das técnicas.
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Atualmente Coordenadora da Unidade de Imagem Cardíaca não-Invasiva, como é que se especializou cada vez mais na imagem do coração?
Ana Almeida: Ainda antes de escolher a especialidade, e inserida no Serviço como interna do internato geral, acompanhava e participava em cateterismos cardíacos e ecocardiogramas sob orientação dos séniores com quem trabalhava. A Imagem cardíaca atraiu-me desde logo, achei as suas potencialidades extraordinárias, embora nessa altura não pudesse prever, como é natural, que seria a minha escolha para atividade futura na Cardiologia. Nas últimas décadas, a imagem cardíaca sofreu um crescimento expansivo e tomou um papel central na Cardiologia. Para além da ecocardiografia, surgem a ressonância magnética e a TC cardíaca, modalidades que realizo e se encontram em contínuo desenvolvimento, com aplicações extraordinárias.
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Dá aulas na Faculdade a alunos ainda em começo de vida académica, ou a área de intervenção é mais na orientação científica de Teses de Mestrado e Doutoramento em Imagem Cardíaca e em pós e pré-graduados?
Ana Almeida: Na realidade, cumpro todos esses papéis. Como Professora da Faculdade de Medicina, dou aulas a alunos da Faculdade, do Mestrado Integrado de Medicina e também de Engenharia Biomédica do Instituto Superior Técnico, mas também oriento Teses de Mestrado e de Doutoramento, que são funções académicas complementares. Neste âmbito sou regente de uma disciplina optativa de Ecocardiografia para alunos que têm o seu primeiro contacto com a imagem cardíaca. Paralelamente, tenho planeado e realizado inúmeros cursos e atividades de formação pós-graduada, no âmbito da Imagem cardíaca, quer de atualização, quer de aperfeiçoamento. Assim como o treino em imagem de médicos de Cardiologia e de outras especialidades. Tenho, também, tido funções na Sociedade Portuguesa de Cardiologia de coordenação de Grupo de Estudos de imagem e também na Associação Europeia de Imagem Cardíaca, como membro do Board da ressonância magnética e Co-Responsável na certificação europeia nestas técnicas.
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Reparei que estava a substituir alguns colegas seus médicos que faltaram por estarem doentes. Apesar da especificidade da sua área, quando é preciso ir “para a frente da batalha” vê todos os doentes cardíacos?
Ana Almeida: Essa situação verificou-se na Unidade de Técnicas de Cardiologia, de que sou Coordenadora mas evidentemente que sim, quando é necessário, há que ir para a frente e resolver da forma mais eficiente os desafios de eventos inesperados, assegurado que o doente seja avaliado e tratado sem atrasos.
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Um médico faz um constante exercício de altruísmo, ou de “satisfação apenas pessoal”, quando salva vidas?
Ana Almeida: As duas perspetivas estão certas. O Médico é naturalmente altruísta pois a sua atividade visa a recuperação da saúde e prevenção da doença dos outros seres humanos, mas retira daí uma enorme satisfação pessoal, pois esta atividade é altamente gratificante só por si, complementada pelas atividades indissociáveis de investigação e de formação.
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Sabe que foi o Professor Fausto Pinto que falou da Professora Ana Almeida como alguém incontornável a entrevistar.
Ana Almeida: Conheço o Prof. Fausto Pinto há muitos anos, ainda na fase do Internato de Cardiologia que ele efetuou nos Estados Unidos e depois ao longo dos anos na Cardiologia. Para além do relacionamento de trabalho, desenvolvemos também relação de amizade e expresso aqui a minha admiração pelo seu valioso percurso, nacional e internacional.
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Joana Sousa
Equipa Editorial