Investigação e Formação Avançada
Luísa Figueiredo, a Cientista que está a tirar o sono à Mosca Tsé-tsé

Luísa Figueiredo, investigadora do Instituto de Medicina Molecular (iMM), é atualmente um nome em destaque no meio científico português. Foi uma dos 8 cientistas portugueses a ganhar um financiamento de 2 milhões de Euros, do ERC (European Research Council, Conselho Europeu de Investigação), para desenvolvimento do seu projeto sobre a doença do sono.
“Durante o meu Erasmus em Londres, tive a oportunidade de fazer uma disciplina de Parasitologia Molecular, sobre a qual pouco sabia. Fiquei fascinada pelos mecanismos usados pelos parasitas para conseguirem estabelecer-se no seu hospedeiro. Daí ter decidido enveredar pela investigação em parasitologia. No meu doutoramento, estudei o parasita que provoca a malária e depois, no 'pós-doc', mudei para o parasita responsável pela doença do sono (ou Trypanosomiase Humana Africana)”.
A doença do sono é causada pela picada da Mosca Tsé-tsé, que injeta o parasita Trypanosoma brucei no sangue do mamífero. Não sendo tratada, “a doença é inicialmente crónica e leva à morte em cerca de 3 anos”.
Recentemente, a equipa de Luisa Figueiredo publicou um artigo na revista Nature Microbiology em conjunto com um grupo da Universidade Southwestern, de Dallas, nos Estados Unidos. Esse trabalho, “demonstra pela primeira vez que o parasita responsável pela doença do sono, o Trypanosoma brucei, tem o seu próprio relógio interno”. “Os relógios circadianos são mecanismos celulares autónomos que resultam de milhões de anos de evolução dos organismos num planeta que gira em torno de si próprio em 24 horas”. Esta foi a primeira vez que se demonstrou que os parasitas têm este tipo de relógios.
Atualmente, Luisa Figueiredo desenvolve com a sua equipa o projeto FatTryp, que se baseia numa outra descoberta recente do seu grupo: ao contrário do que se pensava, o parasita existe em grande quantidade no tecido adiposo, e isto pode estar associado à habitual perda de peso dos animais infetados. Neste projeto querem perceber se o facto de se esconderem na gordura permite aos parasitas resistir aos tratamentos já criados. “O nosso objetivo é perceber os mecanismos usados pelo parasita para manipular o hospedeiro e assim conseguir proliferar e assegurar a sua transmissão. O melhor conhecimento da doença e do parasita levar-nos-á a descobrir alguns dos seus pontos mais vulneráveis. Esses poderão vir a ser usados como alvos terapêuticos”, reforça a cientista.
Além dos humanos, esta doença atinge também outros animais, como vacas e cavalos, o que tem um impacto económico devastador. Em risco estão mais de 60 milhões de pessoas em África. A Organização Mundial de Saúde (OMS) pretende eliminar esta doença até 2020.
A ERC financiou 8 projetos em Portugal, das 329 atribuídas a cientistas, no concurso de projetos de Consolidação 2017, ao abrigo do programa Horizonte 2020. Dos 8 cientistas premiados, 5 são mulheres, o que faz de Portugal um dos países com mais mulheres premiadas.
A ERC Consolidator tem como atividade fundamental disponibilizar financiamento de longo prazo a investigadores notáveis, com sete a doze anos de experiência e que empreendam investigação de grande impacto. O objetivo é que possam fortalecer as suas equipas, pagando recursos humanos e adquirindo materiais e reagentes.
Portugal recebe assim um total de 16 milhões de Euros, dos 140 milhões já contabilizados. Daqui vão ainda nascer cerca de 2 000 novos postos de trabalho.
São 22 os países na Europa que recebem estes financiamentos. O Reino Unido (60 bolsas), Alemanha (56), França (38) e os Países Baixos (25) receberam o maior número. E há investigadores de 39 nacionalidades, sendo a maior parte alemães (55), italianos (33), franceses (32) e britânicos (31). Para este concurso, o ERC avaliou 2538 propostas, sendo financiadas 13% (329). No caso de Portugal, segundo o ERC, a taxa de sucesso foi de 20%, estando assim acima da média europeia.
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Fontes: Jornal Público, iMM
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Joana Sousa
Equipa Editorial
